quinta-feira, 4 de julho de 2019

Homem-Aranha: Longe de Casa | CRÍTICA


Para os seus breves dezesseis anos, mas experiências heróicas de sobra, ainda é difícil para Peter Parker (Tom Holland) lidar com os embaraços da adolescência uma vez que ser o Homem-Aranha sempre lhe é mais libertador afora os perigos que enfrenta. Tendo que arcar com as consequências derradeiras do apoteótico Vingadores: Ultimato contando com o apoio de sua tia May (Marisa Tomei), do agora menos rabugento Happy Hogan (Jon Favreau) e de seu melhor amigo, Ned (Jacob Batalon), em Homem-Aranha: Longe de Casa, Peter precisa responder a pressão de outras atribuições mesmo em férias com os colegas do outro lado do Atlântico, conquistar sua paquera da vez enquanto a Sony Pictures e a Marvel Studios se engajam em tornar o super-herói no Vingador mais popular para o futuro da franquia.

Novamente dirigido por Jon Watts e roteirizado apenas pela dupla Chris McKenna & Erik Sommers, pode-se dizer que Longe de Casa foi feito meramente para sanar as especulações que os fãs acumularam em pouco mais de dois meses desde que Ultimato foi lançado, mas fato é que o segundo longa de Holland como o Aracnídeo vem para reforçar a iconicidade do herói que foi tão deixada de lado em De Volta Ao Lar. Ainda que a tal jovialidade despreocupada continue como uma constante aqui, o que rende muitas gags divertidas e até um telejornal escolar que cumpre os tira-teimas, é satisfatório atestar que o Aranha está muito mais presente e não só por ter Samuel L. Jackson instigando a ação como o seu Nick Fury costuma fazer, mas porque vemos Peter agir como o gênio que sempre foi nos quadrinhos enquanto se dispõe e atira teias nas posições mais emblemáticas nesta insana intriga internacional.

(© Sony Pictures/Divulgação)

Seria Homem-Aranha: Longe de Casa, então, a sua melhor aventura-solo? Enquanto o apelo à tragédia acarretava em catarses edificantes nas fases anteriores do personagem mediante incidentes reversíveis, é verdade que existe um coração grande neste novo longa que se dá, óbvia e novamente, pela dedicação plena de Tom Holland e do elenco ao seu redor, mas são tantos eventos socados ao longo da narrativa que as maiores emoções ficam por conta das sequências que dizem algo para o futuro do Universo Cinematográfico Marvel (as duas ótimas cenas pós-créditos que o digam!). Tal como David F. Sandberg em Shazam!, o diretor Jon Watts se retém o máximo que pode na zona de conforto que são as cenas de diálogos e é evidente a hesitação perante os momentos com ação. Ainda assim, é muito perceptível o avanço que o diretor conquistou nestes dois anos e entrega sequências que tiram o fôlego e incentivam sorrisos como o ataque em Veneza e, posteriormente, a missão final em Londres, bem apoiado pela intuitiva trilha de Michael Giacchino.

(© Sony Pictures/Divulgação)

Jake Gyllenhaal é outra fantástica adição ao longa. Carismático e com seu caprichado figurino, o ator que quase substituiu Tobey Maguire em Homem-Aranha 2 acerta em sua performance de Quentin Beck/Mystério com efeitos tão envolventes e bonitos que possibilitam à Marvel flertar com o surrealismo (muito que do digital, porém) além da psicodelia vista em Doutor Estranho, tornando-se numa das passagens mais criativas do longa. Da mesma forma, é divertido notar como os produtores e roteiristas amarram a origem do personagem com importantes eventos pregressos do MCU, indicando que até figurantes tidos como irrelevantes à trama podem se mostrar úteis no futuro. Não há dúvidas, as aparências enganam e a franquia ganha um ponto de virada tão bom quanto aquele entre Adrian Toomes (Michael Keaton) e Peter no carro no longa anterior.

(© Sony Pictures/Divulgação)

Ao passo em que o Peter Parker sob o olhar do diretor parece não compreender ou considerar exatamente a essência do altruísmo representado por Tony Stark (Robert Downey Jr.), outra incongruência reside no suposto gosto musical do herói. Forçando uma nostalgia sonora que não compete essencialmente à atual faixa etária do personagem, gags como Parker errando o nome de uma banda a la Guardiões da Galáxia podem até ser engraçadinhas, mas desmerecem a qualidade de inteligente do garoto. Aliás, é nesta mesma cena que vemos o quanto Jon Favreau está ansioso para retornar à direção de algum filme Marvel e associar outro hino do rock a algum herói.

(© Sony Pictures/Divulgação)

Excessos a parte, não é ilusão que Homem-Aranha: Longe de Casa entrega um delicioso entretenimento de duas horas ideais para o período de férias – entre tantas reviravoltas, convenhamos, uma trama calcada mais em atrações do que reflexões morais (a base nerd crente em teorias de youtubers tendenciosos dificilmente pegaria a analogia envolta de Mystério) se faz o melhor programa enquanto a próxima fase do MCU deve demorar à grandiloquência. E, por falar em escala, seria excelente se o terceiro capítulo dessa jornada do Amigo da Vizinhança se concentrar no que é apenas essencial ao personagem cujas grandes responsabilidades só estão começando; coisas que sempre o fizeram fascinante por sua justa humanidade.



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