quarta-feira, 3 de abril de 2019

Shazam! | CRÍTICA


Detentor de uma das premissas mais encantadoras acerca da composição de um super-herói tendo em consideração todo o seu altruísmo pueril, Shazam! pode ser, principalmente para aqueles que desdenham de quase todos os títulos da cronologia iniciada em O Homem de Aço, uma aprazível mudança no teor das produções da DC  mais até do que a ilimitação fantástica vista em Aquaman. Conversando diretamente com os espectadores mais jovens sem se esquecer da abrangência do significado de família, o filme é uma aventura de coração grande que não pode passar batida.

Situada na Filadélfia, cidade-cenário dos tantos filmes da saga Rocky/Creed, a narrativa circunda o adolescente Billy Batson (Asher Angel), um desordeiro órfão que, entre tantas buscas mal sucedidas pelo paradeiro de sua mãe, é acolhido de muito bom grado por uma família que abriga cinco outros órfãos de idades, origens e temperamentos distintos. Comumente apático, Billy divide o quarto com Freddy (Jack Dylan Grazer) que, de tão viciado por acompanhar as sagas dos super-heróis possuindo relíquias tidas como valiosas, acaba se tornando mais do que um irmão ou amigo, mas um empolgado jovem mentor que lhe dará as coordenadas quando recebe de um Mago (Djimon Hounsou) a poderosa combinação da sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio. Ao recitar o acrônimo das iniciais dos heróis da Antiguidade, Billy transforma-se num herói de corpo adulto (mas sem a maturidade proporcional), levando-o a uma rotina de curtir suas incríveis habilidades a conter um mal próximo visionado pelo Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong), que tanto cobiça aqueles poderes que um dia lhe foram negados.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Egresso de Quando As Luzes Se Apagam e Annabelle 2 (filmes financeiramente expressivos, porém duvidosos quanto a seu resultado narrativo), aqui, o diretor David F. Sandberg dá uma admirável guinada em sua condução de cenas, ainda que longas sequências de ação não sejam exatamente seu forte aqui. É bem visível que todo o elenco, tão afiado quanto um batarangue, está em sintonia graças a um texto tanto aconchegante quanto maroto escrito por Henry Gayden (Terra Para Echo) a partir do argumento elaborado em parceria com Darren Lemke (Goosebumps - Monstros e Arrepios); disso, saem cenas ótimas sempre que a dupla Billy/Shazam e Freddy aprontam em todos os cantos da cidade (só as passagens hilárias na escola já valem o ingresso) ou juntos da irmã mais nova, Darla (Faithe Herman, uma doce revelação!). No entanto, o humor e a leveza do filme não seriam eficazes se não fosse toda a lucidez de Jack Dylan Grazer (que já tirava de letra em IT: A Coisa) e, especialmente, Zachary Levi como o protagonista adulto.

Dono de um carisma gigante, sua comicidade espontânea traz sempre um novo fôlego em meio a um texto abarrotado de diálogos e momentos expositivos, provando ainda que é possível ser debochado sem apelar pra baixaria (essa foi pra você, Deadpool). Pra melhorar a situação, há até um quê da sagacidade de One-Punch Man quando o super-herói zomba do Dr. Sivana por ficar contando seus planos em uma cena específica.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

E se Mark Strong contorna a unidimensionalidade de seu "supervilão" sendo um pouco mais maléfico do que o esperado, é porque Sandberg não resiste à tentação e aproveita as passagens do antagonista para exercitar o gênero que o consagrou e não tem receios de elaborar cenas sombrias por mais que esteja em uma atmosfera natalina. Sendo assim, o diretor não economiza em planos e ações consideradas violentas para demonstrar o lado do mal na história e não seria surpresa que até a sequência cena inicial comece nas trevas para entregar um desfecho não menos que radiante.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Mesmo com a trilha original pouco inspirada de Benjamin Wallfisch (que cede espaço para grandes hits da música pop sem pestanejar), e que há uma certa crítica velada ao que andamos consumindo de janeiro a dezembro, Shazam! é, definitivamente, um entretenimento enérgico que supera expectativas e detentor de uma mitologia fantástica que tem tudo para funcionar no futuro da DC nos cinemas – e os fãs, também personificados na tela, são quem ganham esta empolgante recompensa.



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