sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Podres de Ricos | CRÍTICA


Já faz um tempo que os grandes estúdios de Hollywood reservam um olhar demorado na expressiva bilheteria arrecadada em países integrantes dos tigres asiáticos ou, mais especificamente, nos potenciais investidores que tanto tem bancado seus longas-metragens de proporções exorbitantes. No entanto, quando se trata de apontar refletores de luzes e lentes das câmeras para uma narrativa genuinamente local, ainda há uma predileção entre escalar uma estrela chinesa e filmar em locações senão turísticas no receio de que aqueles costumes retratados possam não funcionar como um entretenimento (primeiramente) americano e mundial. Podres de Ricos, porém, aposta na modernização do clássico enredo de casamento para projetar uma comédia que tem mais de global do que um mero negócio da China.


Sim, a narrativa de Crazy Rich Asians (título original) tem todos os atributos possíveis que tanto já vimos nos grandes dramas da Era de Ouro de Hollywood e em tantas novelas que trazem mocinhas de origens humildes e independência de sobra, um galã plano e nato, amizades divertidas e cafonas, rivais idiotas, demais coadjuvantes resolvendo suas relações conjugais e, como não poderia faltar, a temível sogra. Baseado no livro homônimo de Kevin Kwan, a história vai de Londres a Nova York e, de lá, para toda a ostentação que a Singapura tem esbanjado ao restante do mundo provando que há muito espaço para se aplicar dinheiro em bens que deixam qualquer um boquiaberto. O apelo turístico também se faz eficiente na apresentação extensiva dos hotéis, mansões e paraísos naturais que, sem dúvidas, é destino próximo de muitos magnatas (e emergentes) – tanto reais como fictícios.

Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Na regência desta comédia que coloca vários sorrisos no espectador ao longo de suas duas horas de projeção está Jon M. Chu, famoso por dirigir grandes elencos (como no segundo G.I. Joe e em Truque de Mestre: O 2º Ato) ocasionalmente com uma dinâmica incansável. Aqui, o cineasta trata a clássica história de amor quase como um de seus blockbusters de ação e não economiza em planos aéreos e enquadramentos extravagantes, reforçando as cores da fotografia de Vanjia Cerjul (série Marco Polo) em uma edição tão moderna quanto. O elenco também é muito bom: Constance Wu é carismática e faz o público permanecer ao seu lado até o último minuto, Henry Golding (Um Pequeno Favor) faz de tudo para se firmar como um galã do momento enquanto interpreta um raro tipo de cavalheiro em tempos de "amores líquidos" e, se Michelle Yeoh não compromete e melhora o texto de sua mãe-protetora/sogra-megera, são impagáveis de tão hilários os momentos em que Awkwafina (Oito Mulheres e Um Segredo) está em cena como Peik Lin e sua família que não tem limites para a cafonice.

Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Prejudicado, a princípio, por sua "americanização" latente – ainda que isso se faça mais por questões históricas da própria Singapura e demais costumes forjados nessa cultura sino-americana (vide a mescla de nomes e sobrenomes, além da ostentação por marcas ocidentais) –, há uma espécie de auto-crítica que ajuda o filme a firmar sua própria identidade e que não se resume ao contraste imagético de ver Rachel (Wu) jogando pôquer no início do filme e quase que terminá-lo diante das peças de Mahjong. Enquanto também fornece ideias para muitos noivos tentarem superar uma das mais belas cerimônias de casamento que o Cinema já projetou, Podres de Ricos, enfim, garante a reflexão não apenas sobre os princípios do amor, mas sobre as tradições e a interpretação destas em um mundo que, deveras conectado (e um tanto fofoqueiro), por vezes não mede esforços em ser segregativo.



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