quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pegando Fogo | CRÍTICA


É tempo de cozinhar! A variedade de reality shows trazendo diversos e renomados chefs do mundo todo treinando aspirantes ao cargo da alta culinária conquistou um público curioso por pratos saborosos e, claro, pelo clima de tensão e rivalidade entre os participados tão bem explorado pelos canais de televisão. Enquanto Ratatouille evocava o lema de que "qualquer um pode cozinhar", Pegando Fogo (Burnt) é rígido e mostra que apenas os melhores sobrevivem nas cozinhas – isso até exagerar na dose de melodrama.

Adam Jones (Bradley Cooper, mais uma vez na corrida do Oscar) é um cultuado, porém perturbado, chef de cozinha que teve uma longa jornada até alcançar o pretendido topo. Praticamente falido, é ao reencontrar Tony (Daniel Brühl), um maître de restaurante refinado com péssimos pratos, que Jones encontra a oportunidade de se reerguer e assim conseguir três estrelas Michelin, o grau máximo para os restaurantes da alta gastronomia, superando o recorde de duas estrelas do antigo restaurante de seu mestre em Paris onde tanto aprendeu e venceu na vida. Mas para chegar ao topo, Jones precisa recrutar os melhores cozinheiros e, graças ao seu (antigo) renome e influência, convence um time de jovens e promissores cozinheiros dos arredores de Londres para trabalhar no The Langham, capitaneados por um (dentro em breve) explosivo e arrogante Adam Jones, que não poupa até mesmo antigos colegas/rivais.

A verdade é que a entrada e os primeiros pratos de Pegando Fogo são muito divertidos e interessantes. Treinado pelo chef Gordon Ramsay (do programa MasterChef e dono de restaurantes com 14 estrelas Michelin), Cooper está pra lá de afiado dentro da profissão que ali está representando, demonstrando um cuidado ímpar ao preparar os pratos que, diga-se de passagem, são bem filmados em cena (principalmente as sobremesas), assim como nos momentos em que a agilidade é um atributo essencial na cozinha. Na edição bem caprichada e ritmada dessa primeira parte, a direção de John Wells seguindo o roteiro de Steven Knight se sobressai por comandar bem seu elenco de atores conhecidos, apesar de Uma Thurman e Emma Thompson terem passagens breves e quase irrelevantes, muitos conceitos de culinária são postos na mesa, até mesmo por trazer a consultoria de Ramsay. A analogia sobre a qualidade da comida servida no Burger King e os pratos camponeses franceses servidos em chiques restaurantes nos desperta mais curiosidade sobre esses bastidores da culinária onde, realmente, só sabemos de onde vem os alimentos que colocamos na boca quando eles são de casa.



Se até então o filme nos deixa com água na boca e até nos instiga a arriscar num momento de chef, o roteiro dá uma guinada completamente desinteressante, apostando num melodrama fácil típico de novela. Helene, a chef e mãe solteira vivida por Sienna Miller, chora pra lá e pra cá e se preocupa com seu agressivo colega, rivais que planejam vingança, casos de amor mal resolvidos, enfim, incidentes pouco interessantes, que enfraquecem não só ela, mas como os personagens coadjuvantes ao redor, que poderiam ter mais relevância em sua representatividade. Até mesmo Adam Jones tem surtos (e dívidas com traficantes) de sobra, o que, se por um lado desvia os personagens do objetivo principal, acaba dispersando o interesse pela conquista das três estrelas.

Pegando Fogo parece aqueles filmes de final de ano encomendados para figurar nas grandes premiações de Hollywood, não por menos é uma produção assinada pela The Weinstein Company, mas em suma tem seus momentos de relevância, afinal. Quando Adam Jones fala que a arrogância é a chave para a sobrevivência na cozinha de um chef, mais parece uma desculpa sobre o tratamento grosseiro dos chefs para com os participantes nos programas da TV. A verdade é que a arrogância está em todo o lugar, mas não quer dizer que seja um ingrediente essencial na receita do bom convívio e do sucesso.




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