Neste ano inaugural do Plano Extra, tivemos a sorte de ver muitos filmes, tendo lançado mais de oitenta críticas no decorrer do ano, além de marcar presença no 4º Olhar de Cinema. Obviamente, alguns títulos fizemos questão de resenhar com gosto, procurando destacar o que há de melhor neles, tudo para aumentar a experiência dos nossos leitores que buscam um conteúdo de qualidade.
Nesta relação de melhores filmes e aqueles que merecem menções honrosas, desde já, avisamos: testemunhem e deixem a Força despertar!
Os Grandiosos!
Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, 2014)
Uma das primeiras estreias nos cinemas brasileiros em 2015, este filme de Damien Chazelle conquistou seu público com sua trama diferente dos dramas pretensiosos da temporada do Oscar e, lá na cerimônia da Academia, faturou as estatuetas de melhor Mixagem de Som, Melhor Montagem e Melhor Ator Coadjuvante pela performance colérica de J. K. Simmons. Sem contar que Whiplash também desperta o lado-músico de qualquer pessoa!
Se Teller faz do baterista um herói imperfeito, isolado e até mesmo desleixado com seus afazeres, mas que acima de tudo procura esbanjar empenho, o veterano e carismático Simmons não ofusca o rapaz, mesmo que seu personagem tenha uma força física e verbal muito mais aparente, capaz de se mostrar um sujeito caridoso, isso entre sua intempestividade. É Fletcher que reforça a trama e não dá sossego aos obstáculos, revelando sua vilania até mesmo quando tudo parece estar apaziguado entre mestre e aprendiz.
Outro trunfo mais do que notável de Whiplash é a sua incrível edição, montada por Tom Cross, que variam de planos com vários pontos de vista a jogadas de câmera fabulosas, predominantemente iluminados com áureos toques quentes, e os muitos planos fechados não são problemáticos. Pelo contrário, injetam ainda mais impacto a cada batida das músicas e as trocas de olhares entre Fletcher e Neiman nos remetem àqueles criados por Sergio Leone em seus westerns.
Outro trunfo mais do que notável de Whiplash é a sua incrível edição, montada por Tom Cross, que variam de planos com vários pontos de vista a jogadas de câmera fabulosas, predominantemente iluminados com áureos toques quentes, e os muitos planos fechados não são problemáticos. Pelo contrário, injetam ainda mais impacto a cada batida das músicas e as trocas de olhares entre Fletcher e Neiman nos remetem àqueles criados por Sergio Leone em seus westerns.
Circulando nas listas de outros veículos como um dos melhores filmes do ano, até mesmo no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, aqui não poderia ser diferente. A retomada de George Miller com Mad Max nos fez testemunhar um verdadeiro e fulminante espetáculo visual em meio a um roteiro ágil e econômico como o cinema sempre deveria ser: uma predileção pela composição das imagens em movimento. Que Charlize Theron não seja esquecida no Oscar!
Uma grande surpresa para o filme, além de todo o apogeu da equipe técnica, são suas personagens femininas fortes e determinadas. Como o próprio nome já diz, a Furiosa de Theron é indomável e seu braço mecânico mais lhe auxilia do que impossibilita de cumprir sua missão, mas também se permite chorar quando a dor vem à tona.
O mérito das cenas de ação também vale para os esforços da direção de fotografia de John Seale. São uma quase infinidade de planos abertos e closes com duração mínima, variando ângulos e pontos de vista em qualquer lugar que seja possível acoplar uma câmera, evidenciando aí uma linguagem bastante contemporânea e que não deve nada a outros lançamentos recentes envolvendo carros. Se duvidar, até melhor.
Depois dos mornos Carros 2 e Valente, é com muito gosto e com as mais distintas emoções que presenciamos mais uma obra da Disney•Pixar, que mais uma vez, não hesita em dar asas à imaginação, sem contar que o tema composto por Michael Giacchino entra fácil na memória. Certamente inesquecível!
Assim como o mais que defasado "argumento" de que "desenho é coisa para criança", é presumir que Divertida Mente é uma animação para meninas justamente por trazer, em sua maioria, protagonistas femininas.
Diferente do mundo um tanto quanto deprimente e vazio de Up: Altas Aventuras, o diretor e co-roteirista Pete Docter agora tem um vasto universo a explorar, afinal, estamos no campo da mente humana e aqui não falta imaginação. Mas toda essa corrida para salvar as memórias-base não seria possível sem o design de produção do filme, e nisso a Pixar nunca para no ponto. O visual do quinteto, inspirado na teoria das cores, tem uma textura peculiar e o porte físico de cada um também é um bom estudo de comportamento e figurino de cada sentimento.
Perdido em Marte (The Martian, 2015)
No final da década de 1970, Ridley Scott revolucionou os filmes espaciais criando um claustrofóbico título de terror sci-fi com Alien, o 8º Passageiro. Na sua carreira de acertos e erros, muitos pensavam que o veterano diretor já não entregaria mais nada que prestasse, até então. Perdido em Marte é a prova de que filmes de ficção-científica podem ser instrutivos, instigantes, com um pé no supense e, o melhor atributo do longa, completamente nerd e pop ao mesmo tempo!
Não há dúvidas de que, além da fascinante história roteirizada a partir do livro homônimo de Andy Weir, um dos maiores atrativos do filme seja o 3D. Tanto Prometheus quanto Êxodo: Deuses e Reis tiveram experiências interessantes com o recurso, mas agora Scott e o diretor de fotografia Dariusz Wolski apresentam planos bem compostos e que denotam a profundidade árida do planeta vermelho, sem contar na incrível sequência montada entre Marte e a nave Hermes a partir de uma icônica música de David Bowie. Aliás, a seleção de disco-music deixada pela comandante Melissa Lewis (Jessica Chastain), a qual Watney (Matt Damon) diz ouvir a contragosto, é outra irreverência do filme que, embora nos traga em mente a divertida "Awesome Mix" de Guardiões da Galáxia, combina muito com as cenas e canções como 'Hot Stuff' e 'Waterloo' servem como ótimos elementos de transição na montagem.
A Travessia (The Walk, 2015)
Com tantos anos de carreira, Robert Zemeckis lançou filmes inesquecíveis com personagens pra lá de marcantes, até ficar um pouco esquecido com seus experimentos de animações 3D. No ano e no mês que marcava a chegada ao "futuro" de Marty McFly, o diretor de De Volta Para O Futuro nos leva a uma viagem ao passado para nos apresentar outro personagem fantástico e uma incrível homenagem ao cinema.
Fotografado em 3D por Dariusz Wolski, que também fez um bom trabalho em Perdido em Marte, os planos de Zemeckis são compostos com eficiência, com camadas de objetos que não se perdem em desfoques e outros que saltam na tela, proporcionando uma diversão garantida, sobretudo a primeira e linda sequência (monocromática) na França, fazendo valer o ingresso encarecido desde então. Até as cenas nas torres, carregadas de efeitos visuais, são verossímeis e devem causar vertigem naqueles que dizem ter medo de altura.
Acompanhado das melodias super motivacionais de Alan Silvestri, este conto real se mostra simples como estimado, assim como a habitual simpatia dos personagens que o diretor consegue extrair em suas obras. O que se destaca mais, além do 3D bacana, é o lado burlesco de Petit (Joseph Gordon-Levitt) – ágil, exagerado, de pavio curto! – que, assim como a sua determinação, não se deixa abalar pela altura ou pelo ferimento na sola do pé.
Sicario: Terra de Ninguém (Sicario, 2015)
Com uma passagem praticamente tímida no Brasil, o novo filme do canadense Denis Villeneuve é uma incrível obra de suspense sobre o terror que o narcotráfico causa nas vidas das pessoas. Sem querer propor soluções solenes contra os narcos, Sicario possui um dos melhores trabalhos de composição de personagens vistos no ano. Na aridez da fronteira EUA-México, nada é "preto no branco".
Mostrando-se habilidoso também ao coreografar boas e impactantes cenas de ação, Villeneuve encontra no compositor Jóhann Jóhansson e Roger Deakins, mestre da direção de fotografia, parceiros habilidosos para expandir a tensão pretendida. Econômico, Jóhansson deixa a pomposidade de lado e toca um tema distorcido, brutal, que se intensifica mediante o alcance do objetivo da força-tarefa ou que procura refletir o terror urbano das ruas de Juarez. Novamente, mesmo que isso seja habitual, Deakins entrega imagens fascinantes e faz arte com as cores do crepúsculo em meio a região árida, fazendo dessa "terra de ninguém" (assim diz o subtítulo nacional) um reduto para as almas das vítimas do tráfico, muitas vezes até com "fogos de artifício". Não por menos, Villeneuve e Deakins também sabem trabalhar com o "ruído", aquilo que nem sempre é bonito aos olhos. Em meio a tantos planos aéreos, mas igualmente informativos, não faltam planos que nos aproximam dos personagens, deixando-os pareados (com exceção de Alejandro – Benicio Del Toro), e as cenas noturnas granuladas, com destaque para a sequência em "visão noturna" que deixa a missão executada ainda mais atrativa.
Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, 2015)
O filme que está fazendo bilhões não poderia ficar de fora da lista, até porque O Despertar da Força faz jus ao seu legado cada vez mais expoente de forma surpreendentemente virtuosa e uma edição repleta de raccords inteligentes. Com J. J. Abrams como diretor e co-roteirista, o universo de Star Wars agora é preenchido por mistérios sobre seus novos (e até mesmo clássicos) personagens, motivos que vão levar adiante os próximos episódios da saga.
Responsável pelos dois últimos filmes de Star Trek, Abrams já tinha em mãos a habilidade de comandar uma aventura espacial em tempos onde se exige mais ação e deleite visual. Quebrando a decupagem tão novelesca de plano/contra-plano de boa parte dos filmes anteriores (e some aí as prequências não tão recentes mais), o trabalho de câmera que J. J. faz junto com Dan Mindel, seu habitual diretor de fotografia, é muito intenso, ágil e dinâmico. Desde os breves planos-sequências, como por exemplo o momento em que Finn luta contra stormtroopers e a câmera é apontada para o céu tomado por X-Wings e TIE Fighters, voltando para o solo, até antes na longa escapada em Jakku filmadas com câmeras IMAX, existe em tela uma fluidez que é muito bem-vinda para a saga, melhoradas ainda mais com o bom uso do 3D que acrescenta uma coerente profundidade.
Macbeth: Ambição e Poder (Macbeth, 2015)
Pode ser assustador para algumas pessoas, mas foi com este Macbeth do australiano Justin Kurzel que tive meu primeiro contato com Shakespeare no cinema. O resultado? Apesar dos diálogos datados, embora de beleza ímpar, o filme nos leva além do que uma simples proposta de marcação teatral, uma trágica imersão às enevoadas colinas escocesas.
Começando pela progressiva e impactante trilha de Jed Kurzel e passando pelo incrível trabalho de design de produção que mistura o cenário campestre e real no meio das acentuadas terras escocesas, é a direção de fotografia de Adam Arkapaw o chamariz da obra. Repleta de nuances e cores bem equilibradas em meio a fumaça ou névoa, a mise-en-scène de Kurzel é de uma composição rara quando dispõe seus personagens neste tabuleiro da morte, marcados por uma iluminação que, se houve uso pesado de refletores, engana e muito os olhos tamanha a naturalidade representada em meio a tantas cenas a base de luz de velas ou da cor rubra do incêndio na floresta durante o duelo final.
Menções honrosas
Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma, 2014)
Como tratar de uma causa nobre, o poder do voto aos negros, de forma atual (afinal, pouco parece ter mudado nos últimos cinquenta anos)? Ava DuVernay se revela uma diretora tão virtuosa e sensível quanto os grandes diretores da atualidade neste filme que ganhou o Oscar por Melhor Canção Original e ótimas atuações do elenco, relembrando a boa causa de Martin Luther King.
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015)
Praticamente todas as pessoas amam os filmes escapistas e aventurescos de Steven Spielberg, mas quando o cara decide fazer um filme mais contido, com seu viés histórico, o favoritismo já não é mais o mesmo, a lembrar dos arrastados, ainda que interessantes, Cavalo de Guerra e Lincoln. Mas o diretor parece manter uma sagacidade inigualável quando se trata de mise-en-scène e a primeira metade de Ponte dos Espiões, com sua quase ausência de trilha sonora e a brilhante atuação de Mark Rylance, fazem deste um diferenciado, se não incomum, thriller de Guerra Fria.
Que em 2016 também possamos apreciar filmes ainda mais surpreendentes e inesquecíveis!
Como tratar de uma causa nobre, o poder do voto aos negros, de forma atual (afinal, pouco parece ter mudado nos últimos cinquenta anos)? Ava DuVernay se revela uma diretora tão virtuosa e sensível quanto os grandes diretores da atualidade neste filme que ganhou o Oscar por Melhor Canção Original e ótimas atuações do elenco, relembrando a boa causa de Martin Luther King.
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015)
Praticamente todas as pessoas amam os filmes escapistas e aventurescos de Steven Spielberg, mas quando o cara decide fazer um filme mais contido, com seu viés histórico, o favoritismo já não é mais o mesmo, a lembrar dos arrastados, ainda que interessantes, Cavalo de Guerra e Lincoln. Mas o diretor parece manter uma sagacidade inigualável quando se trata de mise-en-scène e a primeira metade de Ponte dos Espiões, com sua quase ausência de trilha sonora e a brilhante atuação de Mark Rylance, fazem deste um diferenciado, se não incomum, thriller de Guerra Fria.
Que em 2016 também possamos apreciar filmes ainda mais surpreendentes e inesquecíveis!
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