terça-feira, 7 de junho de 2022

Os Primeiros Soldados | CRÍTICA (11° Olhar de Cinema)



Os Primeiros Soldados se passa na cidade de Vitória (ES), onde um grupo de jovens LGBTQIA+ celebra o réveillon de 1983 sem ideia do que se avizinha. O biólogo Suzano (Johnny Massaro) sabe que algo de muito terrível começa a transtornar seu corpo.

É interessante falar desse filme a partir de sua estrutura, que delimita perfeitamente os três atos: o primeiro é solar, alegre e sustenta os momentos mais leves do filme. No segundo ato, estão a luta contra a doença, os momentos de fraqueza, os dias de luto em vida e as doses de esperança, mas sem nenhuma garantia. Já o terceiro ato, traz uma reflexão sobre a importância daquelas pessoas que viviam na margem da sociedade.

Johnny Massaro em OS PRIMEIROS SOLDADOS
(Foto: Felipe Amarelo/Pique-Bandeira Filmes)


Apesar de Suzano ser o protagonista, quem rouba a cena é mesmo Rose (Renata Carvalho), que traz consigo uma personalidade forte de quem sofreu muito em um mundo que não gostava de tê-la presente. Se uma mulher trans já tem muitos problemas hoje, imaginem nos anos 80, a época pré-HIV.

O filme é sensível em abordar um tema tão doloroso, tendo emocionado boa parte de plateia que o assistiu no festival. A fotografia, que ora está em um ponto de visão geral ora está na visão de uma câmera dos personagens, nos tenta aproximar de uma proximidade mais direta, o que funciona muito bem na maioria dos casos.

Renata Carvalho em OS PRIMEIROS SOLDADOS
(Foto: Felipe Amarelo/Pique-Bandeira Filmes)



Talvez o que mais tenha me incomodado nesse filme são algumas atuações fora de tom, que podem prejudicar os melhores momentos dramáticos do longa, ao mesmo tempo em que algumas interpretações estejam muito bem. A recriação histórica é muito interessante e talvez seja muito mais factível para quem de fato vive em Vitória, ao reconhecer a casa noturna onde todas e todos eram acolhidos.

Dirigido por Rodrigo de Oliveira, Os Primeiros Soldados traz uma história impactante, com um roteiro que não tem medo de expôr as dores de uma época tão difícil, mas, quando pode escorregar e perder a mão para um melodrama, o filme volta aos eixos e permanece em um tom alto até o fim. Mais uma boa obra do cinema nacional.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.