sexta-feira, 3 de junho de 2022

Poeta | CRÍTICA (11° Olhar de Cinema)


Poeta
(Akyn), filme do Cazaquistão, conta a história de Didar (Yerdos Kanayev), um antigo estudante de literatura que ama escrever poemas, mas tem o reconhecimento para viver apenas de sua arte, por isso, se vê em diversos trabalhos que não gosta apenas para poder viver.

O filme traz uma visão muito cara aos espectadores que gostariam de ter alguma atividade profissional ligada às artes, mas que, por falta de oportunidades, talento ou até mesmo condições de evoluir, se vê frustrado com seu próprio potencial desperdiçado. Didar é um poeta muito melancólico e ressentido por conta de seu suposto fracasso. Até mesmo ser um ghost writer para um milionário é uma atividade que ele se sente mal por aceitar.

Essa grande dose de melancolia é embalada por um ritmo bem cadenciado que pode afastar muitas pessoas. As cores dessaturadas destacam ainda mais um universo sem vida, quem dirá sem poesia. Vários momentos de silêncio embalam o longa e talvez haja uma mão pesada demais nesse tempo, o que me tirou do filme em alguns momentos.

A obra ainda se propõe a discutir a importância da poesia na construção da nação do Cazaquistão, aumentando a importância da profissão e a pressão sobre Didar, onde a todo momento é reforçado que não existem mais poetas importantes na contemporaneidade. Esses momentos servem para compôr ainda mais o distanciamento e falta de sensibilidade de Didar acerca do mundo que o cerca.


O ponto alto do filme é quando o poeta é convidado para uma palestra em uma pequena cidade e ninguém aparece para o ver, a não ser por uma moça com gagueira que se declara sobre a importância de Didar na vida dela. Porém, nem isso o faz mudar seu ar introspectivo e pouco amigável.



Talvez, Poeta seja um dos retratos mais específicos sobre a dificuldade de ser bem sucedido no concorrido mundo da arte, mas, acima disso, o filme também traz um grande desenvolvimento de um personagem complexo e de poucas palavras.


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