quarta-feira, 19 de julho de 2017

Transformers: O Último Cavaleiro | CRÍTICA


Existem fases na carreira de um realizador onde se deve escutar as considerações alheias e, em outros casos, não ouvi-las muitas vezes garante a integridade de sua obra. No caso de Michael Bay, as críticas negativas dificilmente barraram o diretor a prosseguir com seu infame estilo supérfluo em troca de um visual que não só estigmatizou a gradação de cores dos blockbusters hollywoodianos como fez de Transformers uma marca ainda mais valiosa para os cofres da Hasbro e da Paramount recorrendo ao uso do 3D e da dimensão das câmeras IMAX para um entretenimento ainda maior. Munido com um novo pano de fundo chamativo e nada diminuto, o quinto episódio da franquia dispõe de material suficiente para futuros derivados, mas continua se esquecendo de transmitir emoções verdadeiras ao seu espectador.


A fim de justificar toda a recorrente destruição que assola a Terra provocada pelos Decepticons e demais ameaças do planeta Cybertron, Transformers: O Último Cavaleiro (Transformers: The Last Knight) remonta à Baixa Idade Média para apresentar um crucial artefato que estava nas mãos do trôpego Merlin (interpretado por Stanley Tucci) e assim se manteve escondido do perigo graças aos Cavaleiros da Távola Redonda e demais entusiastas pelo milênio passado, culminando nos dias atuais onde os Transformers são tidos como ameaça mundial por mais que, acima de tudo, sempre buscaram proteger a vida no planeta. No meio disso tudo, Cade Yeager (Mark Wahlberg) opera na clandestinidade com Bumblebee e os demais Autobots, o que os leva a conhecer a órfã Izabella (Isabela Moner) e, posteriormente, o último dos Witwiccans: Sir Edmun Burton (Anthony Hopkins), que vai colocar Cade e a doutora Vivian Wembley (Laura Haddock) em uma missão importante para salvar o mundo da iminente ameaça trazida por Optimus Prime após sua chegada em seu planeta-natal.



Comumente colorido e pipocando efeitos e barulhos ensurdecedores quase que a todo frame rodado, é decepcionante atestar que este novo Transformers em nada aprendeu com os erros de seus três longas antecessores e, novamente, culmina em uma narrativa arrastada e excessiva que pouco procura desenvolver o conteúdo de suas cenas, relegadas a uma mise-en-scène terminantemente disléxica que sequer aproveita seus novos personagens em questão, vide a garota Izabella e seu companheiro robô Sqweeks cujo arco se projeta com pouca importância perto do que se esperava. Em um claro simulacro ao sucesso de Rey e BB-8 em Star Wars: O Despertar da Força, Bay e a turma de roteiristas parecem acreditar que a inserção de tais tipos é chamativa o suficiente para prover diversidade à obra e também o diálogo com o público jovem; coisa que foi eficiente só no primeiro longa, quando a mão de Steven Spielberg na produção ainda era pesada e prezava pelo entretenimento agradável. 

Não obstante, até o humor marrento de gosto duvidoso que ficou marcado na série tenta dar às caras aqui, mas Michael Bay, com suas exclusivas câmeras IMAX 3D (que carecem de profundidade), acredita que storytelling se resume a filmar em todos os ângulos e lugares mais bonitos possíveis para compensar a falta de uma narrativa íntegra. Considerando a gravidade imposta em seu roteiro, no mínimo, era esperado que o diretor apresentasse um filme onde seu público teme e se comove com os personagens que acompanha há uma década, coisa que raramente acontece.



Afora a dedicação de Walhberg e Hopkins (fazendo jus aos seus contratos presumivelmente milionários) em dar uma aura à uma história que teima em se levar a sério demais, o filme só é realmente divertido quando não se preza em contar mais uma história absurda de destruição mundial, reservando seus poucos "melhores" momentos quando decide expandir sua mitologia que, apesar de sempre trazer os curiosos designs dos personagens, está longe de ser algo que encante por sua originalidade.



Do resumo dessa explosiva ópera com uma trilha insuportável de Steve Jablonski, fica a impressão de que Transformers: O Último Cavaleiro parece uma mistura do que há de pior em sua série com o mote de Velozes e Furiosos 8 (o pífio arco do Nemesis Prime, por exemplo) e as mirabolantes fantasias históricas que Dan Brown gosta de colocar em seus romances previsíveis (resultando em filmes piores ainda), todavia ciente de ter um elenco miscigenado só para amenizar outras repreensões. Se o futuro da franquia está longe das mãos histriônicas de Bay, que fique a lembrança de que tramas de colossais fins de mundo já perderam a empolgação há tempos – e desligar o cérebro para tamanha chatice é um esforço maior do que o valor do ingresso.




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