A Netflix vem acertando em suas séries, principalmente neste ano de 2016, onde conseguiu colocar House of Cards de volta à qualidade que possuía em seu segundo ano, mostrou que a prisão de Orange Is the New Black não é um lugar totalmente romantizado, e trouxe a melhor versão do Justiceiro fora dos quadrinhos em Demolidor. Agora, com Stranger Things, nova série de
Situada no ano de 1983,
Stranger Things gira em torno do
desaparecimento de Will (Noah Schnapp),
que afeta sua família, amigos e toda a cidade de Hawkins, em Indiana, afinal, o
único desaparecimento no lugar aconteceu ainda na década de 1920. Enquanto sua
mãe, Joyce (Winona Ryder), e seu
irmão, Jonathan (Charlie Heaton)
tentam entender o que está acontecendo, seguindo as poucas e incrédulas pistas
que encontram, o inseparável grupo de amigos formado por Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten
Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin)
partem em busca de seu amigo desaparecido, mas acabam encontrando uma
misteriosa garota, Eleven/El/Onze (Millie
Bobby Brown), que revela ter habilidades misteriosas, como o Prof. Xavier
dos X-Men.
O primeiro episódio de uma série sempre tem o papel
de inserir a temática do seriado ao espectador e apresentar seus plots
que serão desenvolvidos durante seus episódios até o series finale, e Stranger
Things faz isso de uma maneira incrível, apresentando em seus minutos
iniciais o mistério executado melhor do que muitos filmes do gênero. A produção
consegue puxar toda aquela sensação dos anos 80 com suas locações oitentistas e
sua trilha sonora feita com sintetizadores, muito
parecida com músicas de jogos de Atari, como Tetris e Pac-Man. O trio de garotos principais lembra muito o
perfil da turma de Os Goonies (de
1985) e o encontro deles com Eleven lembra E.T.
(de 1982), puxando bastante para a nostalgia. Esses e vários outros
filmes são vistos como inspiração ao
decorrer da série, seja por seus diálogos e problemas que as personagens passam,
implícitos nos pôsteres de filmes afixados nos
cenários. O primeiro é de O Enigma de
Outro Mundo (The Thing, de 1982)
que aparece várias vezes ao longo do seriado e faz uma alusão muito boa a própria
“coisa” da série. Já o cartaz de Tubarão
(Spielberg novamente) aparece em um momento que “a coisa” pode aparecer de
qualquer lugar, você não sabe da onde ela pode surgir, assim como no clássico
de 1975.
A química entre os garotos funciona
bem logo no inicio, quando estão jogando RPG de mesa, o que aproxima ainda mais
o público jogador que pode se identificar nesse grupo de meninos nerds fãs de Star Wars, de quadrinhos como X-Men e livros como O Hobbit (ou O Senhor dos
Anéis) que são referenciados várias vezes – em especial, o livro de
Tolkien, homenageado de uma maneira
divertida desde o “apelido” para uma floresta, senhas, assim como explicações
para outras dimensões e portais. Enquanto o “Capítulo Dois: A Estranha da Rua
Maple” se preocupa em explorar e unir seus núcleos de personagens, que acabam
tendo algo em comum “graças” à coisa estranha que circunda a cidade, aqui os
roteiristas tratam de introduzir os elementos sobrenaturais gradativamente sem
parecer exagerado (algo recorrente em tantas séries semelhantes), amplificando
a experiência a cada capítulo, deixando o clima ainda mais envolvente. Quem
diria que os poderes mágicos recitados pelos garotos na sessão de 10 horas de
Dungeons & Dragons pareceriam desinteressantes diante de tantas
“anormalidades” fascinantes e temerosas.
As atuações estão boas, ainda mais levando em conta
que metade do elenco são crianças, que surpreendem em seus papéis. Caleb, Gaten
e Finn tem Stranger Things agora como
o principal trabalho do inicio de suas carreiras. Noah Schnapp (Snoopy & Charlie Brown), que aparece
em poucos momentos devido ao seu desaparecimento inicial, surpreende nessas
poucas cenas. O destaque do elenco infantil fica com Millie Bobby Brown, atriz
espanhola que começou sua carreira no péssimo Once Upon a Time in Wonderland como a jovem Alice, mas, graças a
isso outras pontas em séries como Modern
Family e Grey’s Anatomy, o que a levou a Stranger Things, onde consegue brilhar como El, fazendo o
espectador sentir grande empatia por ela, pois a personagem possui uma
inocência que emociona ao decorrer da série. Sua relação com Will é bem
explorada (apesar de sua relação com Waffles ser melhor trabalhada) sendo um dos
melhores atrativos da série.
O maior nome do elenco, Winona Ryder (não por menos, uma das
musas da década retratada ao estrelar filmes de Tim Burton) entrega uma bela atuação, encarnando
uma decadente mãe solteira que encontra nas luzes uma esperança para encontrar
o filho mais novo. David Harbour, que participou das
brilhantes três temporadas de The Newsroom
(e estará em Esquadrão Suicida no
começo de agosto), faz Hopper, um delegado que até começa como o estereótipo de
policial amargurado, mas seu ótimo desenvolvimento permite uma evolução a cada
episódio, revelando mais sobre suas dores pessoais e, assim como Winona,
entrega ótimas
sequências no episódio final.
Com movimentos de câmera e aproximações que vão
passando a tensão e o suspense dos personagens aos poucos, a direção dos irmãos
Duffer conseguem criar um leve terror eficiente. A série apresenta alguns jumpscares, mas isso não atrapalha, ele tem a medida certa disso e a edição das
cenas acerta, os cortes são certos e não enrolam a ponto de a tensão criada ser
perdida por enrolação ou aliviada com alguma piadinha. Tratando em especial da
direção e edição do último episódio (o melhor da temporada), que conseguem
conectar muito bem uma cena a outra, deixando fluir o episódio final de maneira
incrível. A direção de fotografia merece seu destaque, dando um leve tom
sombrio a série, e as várias sequências com as luzes piscando estão boas,
despontando também como um artifício narrativo emocionante.
Stranger Things é, com certeza, um dos melhores lançamento
deste ano e forte candidato a um dos maiores sucessos da Netflix, com seus oito
episódios de 40 minutos em média, ela te transporta para os anos 80 e entrega
uma história interessante com muito suspense, momentos divertidos e nostálgicos,
personagens carismáticos e uma fotografia digna de grandes produções
cinematográficas, desprezando episódios fillers
que nada acrescem à trama, como os exaustivos 23 episódios novelescos de Flash e Arrow. E, como toda série (pelo menos a maioria), ela consegue
fechar o arco de suas personagens deixando cliffhangers
para uma possível segunda temporada. Agora, o negócio é esperar mais um ano até
a Netflix lançar seu segundo ano com mais boas “coisas estranhas”.
Definitivamente, vou assistir e voltar aos anos 80!
ResponderExcluir