Relendo as minhas considerações para a primeira parte de Duna, é provável que o calor de Arrakis tenha me deixado emocionado demais ao tecer tantos elogios para um filme que, passada uma revisão recente, dá um pouco de razão a comentários quanto a uma certa inação que a narrativa deixa passar enquanto se preocupava em estabelecer esse universo que Frank Herbert escrevera com imenso fascínio e que merecia tamanha apresentação cuidadosa. Agora, em sensação de completude ao entregar as peças que faltavam, Duna: Parte 2 realiza uma escalada definitiva ao épico ao conciliar tão bem seus elementos fantasiosos com todo o seu contexto geopolítico que, especulado há mais de cinquenta anos em papel, se torna muito mais alusivo nas atuais circunstâncias.
(© Warner Bros. Pictures/Divulgação) |
A direção de Villeneuve acerta no registro expressivo dos personagens (é quase como se Zendaya replicasse as ações de Diane Keaton em O Poderoso Chefão), bem como não perde a oportunidade de ser contemplativo, por exemplo, ao projetar em um plano geral em sua demonstração do quão longe se expandiu a fé de um povo em seguir um líder criado por lendas. O desapego à contemplação é também um exercício que o diretor se coloca em teste a fim de apresentar movimentos de ação, que como a história já apresentava, o roteiro de Jon Spaihts igualmente demanda.
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Sustentado com a trilha urgente que Hans Zimmer toca e evoca novos temas, as lutas dos fremen contra as tropas dos Harkonnen são marcadas mais por uma dinâmica da invisibilidade em contraste com as cenas de Feyd-Rautha, em uma performance brutal de Austin Butler que ainda tem muito mais a mostrar pela frente. Se as investidas dos fremen se fazem empolgantes (talvez minha favorita seja aquela em que Dave Bautista corre apavorado sob uma tempestade de areia), outras, principalmente, alguns acontecimentos do final, se fazem mais apressados do que deveriam.
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Por exemplo, vamos para a sequência de guerra que antecede os acontecimentos finais sem aquela empolgação vibrante de um O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei ou até mesmo dos Avatar de James Cameron (que também deve ter usado Duna como inspiração). Daí um apelo para a construção sonora, para que toda a retumbância (tão poderosa que a tela do IMAX chegava a vibrar com a intensidade dos efeitos sonoros) emocione e arrepie o espectador por completo – o que não quer dizer que isso seja um demérito, nem que todo ato de guerra precise ser encenado com a mesma fórmula. Todo o trabalho criativo de design de sons e a própria mixagem que retornam da mesma forma que fez o longa antecessor tão interessante colabora no envolvimento e absorção de todas as culturas ali encenadas visualmente.
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De qualquer forma, acima de qualquer consideração crítica, lá estava eu emocionado em acompanhar partes do livro que amei me aventurar sendo contadas de forma tão fiel, com diálogos praticamente preservados e, por vezes, me peguei surpreendido ao notar o quão longe os passos de Villeneuve e sua equipe de talentos chegaram no quesito criatividade desde apetrechos até fogos de artifício. É por essas e outras que eu acho que vou tratar de botar um pouco de especiaria no meu café também.
• Aventure-se você também nos livros de Duna!
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