OS BANSHEES DE INISHERIN – pretensões de solitude | CRÍTICA

 

Cinco anos se passaram desde que Martin McDonagh surgiu como um forte competidor na corrida para o Oscar com Três Anúncios Para Um Crime, um pretensioso drama de vingança que, em sua ponderação de uma América "trumpista" de se fazer justiça com as próprias mãos, mas, no fim das contas, andava em círculos e somente o seu prestigiado elenco saiu nas graças (com exceção do BAFTA, onde faturara estatuetas de Melhor Roteiro e Melhor Filme). Os Banshees de Inisherin, retorno (estimado?) de McDonagh aos holofotes, marca o retorno do cineasta ao seu estilo de humor e mais uma parceria com Brendan Gleeson e Colin Farrell em uma trama, porém, divagante.

Surpreendendo com suas 9 indicações ao Oscar, é curioso pensar porque tamanha aclamação para uma narrativa que pouco edifica o público, a não ser pelo flerte de um sotaque irlandês carregado e uma locação litorânea muito que da idílica por sua mescla de campo e mar. O enredo parte do princípio que, em certo dia do longínquo ano de 1923, o violinista Colm (Brendan Gleeson) se aborrece com Pádraic (Colin Farrell) pelo simples fato de o fazendeiro ser apenas chato. É isso: sem qualquer outro sentimento profundo inicial. Entre a teima e o ressentimento, Pádraic indaga a irmã, Siobhán (Kerry Condon), o amigo, Dominic (Barry Kheogan), outros populares e, como não poderia faltar, o agora ex-amigo, que promete medidas drásticas se a insistência de papo persistir além do limite.

(© Searchlight Pictures/Divulgação)

Com trilha sonora de Carter Burwell (Três Anúncios Para Um Crime, Carol) e direção de fotografia de Ben Davis (Eternos, Três Anúncios Para Um Crime), Banshees é um filme que não tem muito a entregar, mas é até lá satisfatório por seus momentos inusitados. O elenco está afiado na representação desse humor mordaz e não há como escolher um favorito entre tamanho carisma – a minha predileção, porém, se inclinou demais para Kerry Condon –, no entanto, chega um momento em que, afinal, o que há de se perguntar: o que este "dramédia" me oferece? Há um subtexto da Guerra Civil na Irlanda, há os costumes locais transmitidos por uma velha (e que até justificam o título da obra), a atmosfera bucólica das paisagens lindas, mas é fato que o que vinga, afinal de contas, é o tratado da solidão.

Tudo o que Pádraic (Colin Farrell) mais teme é estar sozinho. (© Searchlight Pictures/Divulgação)

Uma vez que "ser sozinho" sempre pareceu algo negativo, é interessante ver como os personagens de Os Banshees de Inisherin lidam com tal sentimento. Uns contornam com o afago aos animais ou pela música, outros almejam o sossego, a escalada profissional, o amor, a carência de afeto e até notícias, mas isso não justifica a necessidade de ser "antipático", como pontua Pádraic diversas vezes. E, no fim das contas, talvez tenha faltado mais simpatia ao próprio Martin McDonagh, que poderia demonstrar aqui um filme mais memorável em seu tema.