Para alegria de uns ou tristeza de outros, não levou muito "tempo" para M. Night Shyamalan retornar ao cinema apelando para o suspense apocalíptico praticamente dez anos depois do divisivo Depois da Terra. Batem à Porta, seu mais novo filme inspirado no romance escrito por Paul Tremblay, pode parecer menor em escala em relação aos seus títulos anteriores, mas demonstra o quanto o diretor ainda é bom de câmera e (por que não?) expandir reflexões acerca do subtexto da obra.
Concentrando praticamente todos os incidentes da trama na cabana que dá nome ao título original, mais do que qualquer ação ou reviravolta súbita com que o cineasta costuma nos surpreender, é interessante notar como Shyamalan se debruça em fazer um estudo de seus personagens que, de certo modo, se desvencilha das regras do suspense em apresentar as mais sutis das pistas somente minutos depois, ainda que haja informações nos rabiscos que dão plano de fundo para os créditos iniciais. Bem-vinda é a representatividade dos protagonistas (que já vem do texto original), o que só tende a intensificar as motivações a serem levadas logo quando quatro estranhos surgem para interromper o sossego e fazer uma proposição tão inconveniente quanto difícil de se levar a sério.
Andrew (Jonathan Groff), Eric (Ben Aldridge) e Wen (Kristen Cui) precisam lidar com a imposição dos estranhos invasores. (Foto: © Universal Pictures/Divulgação) |
Em tempos nos quais fake news distorcem a realidade para grupos de pessoas a ponto de incitá-las no cometimento de atos terroristas, é curioso como Batem à Porta dispõe nosso comportamento diante do absurdo, ainda mais quando o nome do personagem de Rupert Grint parece familiar (todavia possa ser mera coincidência). Além da performance de segurar a tensão pela narrativa, Ben Aldridge e Jonathan Groff se destacam em representar um casal que precisou tomar medidas atípicas a fim de proteger sua família mediante tantas intolerâncias sofridas (ou que tornem a acontecer). No entanto, a se levar em conta também o esforço de Dave Bautista em ansiar por um personagem inteligente, o texto de Shyamalan e seus roteiristas pende como um pêndulo ao dividir o espectador em sua moralidade: afinal, para quem dar razão na cabana? Àqueles que querem passar a sua parcela de verdade (dada a partir de um sonho) ou para quem não viu outra forma, senão, aderir à ofensiva diante de preceitos religiosos, violência, insultos e notícias maquiadas?
De seu mérito em trazer um casal homoafetivo que não vai sofrer com espancamento ou doença como o cinema já está farto disso, Shyamalan ainda é preciso em sua decupagem e faz bonito como suas inspirações lhe ensinaram, mas acaba que Batem à Porta (Knock at the Cabin, no original) culmina em uma obviedade que chega a aborrecer.
As consequências se mantêm difíceis de acreditar (apesar de recursos midiáticos corroborarem para isso) e sacrifícios soam impensáveis, a mescla de sobrenatural com religião vem de súbito (com exceção, à parte, da tirada breve com os gafanhotos na janela), sem contar a incômoda margem para mãos (e cabeças) erradas distorcerem o tema a favor de sua "liberdade de expressão", o que demonstra um caminho muito mais pertinente e inusitado pelo qual o diretor poderia trilhar.
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