Mesmo com todas as suas inegáveis contribuições para o Cinema, Ridley Scott é um cineasta que gosta de ficar a par das tendências (à parte de sua ojeriza aos filmes de super-heróis) colocando-se praticamente em ininterrupta atividade. Passado o recente O Último Duelo, o veterano agora se aproxima da saga informal de cinebiografias de estilistas e grifes da alta costura que se tornaram corriqueiras nos últimos quinze anos e, quase sempre, mostrando as jornadas de uma elite que, de tão gananciosa e arrogante, acabava cavando a própria cova. De certa forma, Casa Gucci não poderia ser diferente de tal média.
(© Universal Pictures/Divulgação) |
De fato, a Patrizia de Gaga é a alma da trama (logo porque seria a catalisadora de quase todas as intrigas) e a artista concede uma boa e divertida interpretação entre tantas trocas de perucas e vestimentas que reforçam sua silhueta e decote. A crescente obsessão da personagem também não é comprometida, todavia os ocasionais momentos de overacting com gesticulações e sotaque pesados cansem por sua repetição e pela possibilidade de que nunca fora tão exagerado assim.
E, por falar em divertimento, é impossível não mencionar o Paolo Gucci de Jared Leto. Na caracterização do herdeiro de gosto terrivelmente duvidoso, o figurino e a maquiagem de Leto acaba se tornando uma mescla de personagens de Harry Potter com algum anão de O Hobbit, mas é verdade que o ator empreende uma leveza necessária ao filme logo quando Scott conduz a trama de forma tão soturna, embora fadado a momentos constrangedores. Merecem destaque também Jack Huston e Salma Hayek, notadamente se divertindo como uma taróloga de televisão.
(© Universal Pictures/Divulgação) |
House Of Gucci, no fim das contas, é um filme antiquado. Para os seus 157 minutos de duração, não faltam cenas redundantes guiadas em modo automático sem uma marcação estratégica para o elenco, ainda que o diretor de fotografia Dariusz Wolski seja astuto em retratar e iluminar a morada de Rodolfo Gucci (Irons) em uma monocromia remetendo ao passado cinematográfico do personagem da mesma forma que a fachada da casa remete a uma lápide (quando há sol, a iluminação não é dianteira) em contraste com toda a personalidade radiante de Aldo Gucci (Pacino), que não deixa de glorificar as conquistas da família. É de Al Pacino também a ótima fala acerca das falsificações de produtos da marca e sua constatação sobre tais réplicas sintetiza o que ainda define a sociedade do consumo. Seja Patrizia ou qualquer pessoa disposta a pagar 30 dólares numa bolsa qualquer com o logotipo da Gucci torto ou mal estampado, sempre foi – e ainda é – sobre almejar pertencer a tal mundo de conforto e luxo.
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