Ficção científica é um gênero que tende a cativar seu público na diversão de escapar da realidade (sem deixar de refletir sobre a mesma) apresentando universos inspiradores ou distópicos, ainda que correndo o risco de soarem genéricos demais ao seguirem tendências não muito ilustres. Sendo um rótulo que demanda criatividade constante, é curioso pensar o que seria de Star Wars e Alien, por exemplo, sem os respectivos traços artísticos de Ralph McQuarrie e H.R. Giger para conferir os estilos inigualáveis daquelas produções, o que não quer dizer que sustentavam sozinhos as suas narrativas. Supondo deter um visual icônico o suficiente, Tales From The Loop fica devendo um melhor desenvolvimento narrativo que justifique a sua esparsa minutagem.
Inspirado no livro ilustrado homônimo do sueco Simon Stålenhag publicado em 2015 após uma campanha de tremendo sucesso em crowdfunding, o seriado criado por Nathaniel Halpern (Legion) transfere para os fotogramas digitais as ilustrações que mesclam paisagens interioranas com aparatos hi-tech pelas quais o artista se tornou reconhecido narrando o cotidiano de uma família e aqueles que a circundam na pacata cidade de Mercer quando lidam com aparatos que, na maioria dos casos, desconhecem suas consequências de uso. Ao evocar a tentação das necessidades humanas, os oito episódios se abrem para as reflexões da vida, mas não espere conteúdos com a profundidade de existencialistas como Terence Malick ou Andrei Tarkovsky, embora a fotografia contemplativa e o passo lento da montagem façam de tudo para se aproximar de tais experiências.
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(IMDb/Reprodução) |
Ao estrear no Amazon Prime Video embalado por uma década favorável para produções do gênero (considerando a aclamação de títulos como A Chegada e o frenesi exacerbado por Black Mirror, diga-se de passagem), a princípio, Contos do Loop parecia ser a resposta da plataforma para Stranger Things, ainda mais que compartilham de uma ambientação oitentista e tudo o mais que isso implica. No entanto, a série que tem produção executiva de nomes de peso como Matt Reeves (The Batman, filmes Planeta dos Macacos) dificilmente se tange à colocar seus personagens jovens em aventuras a la Spielberg contra instituições tecnológicas lideradas por chefões do mal ou endossadas por constantes referências à cultura pop daquela época. Aqui, tal como para os protagonistas de cada capítulo, existe um convite à curiosidade, um chamado instigante para o espectador descobrir junto o porquê de ter um robô desativado ou esferas enferrujadas em meio aos arredores da cidade.
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(IMDb/Reprodução) |
Entretanto, essa instigação nem sempre funciona. Muitas vezes, vence o espectador pelo cansaço da lentidão em cena e pelo melancólico, todavia belo, tema musical composto por Philip Glass e Paul Leonard-Morgan. "Loop", o episódio inicial dirigido por Mark Romanek (Não me Abandone Jamais), dá à série a sua cadência padrão e estabelece que aquela instituição subterrânea chefiada por Russ (Jonathan Pryce, de Dois Papas, Game Of Thrones e Piratas do Caribe) é a chave para todos os mistérios que hão de envolver a trama adiante, apresentando o curioso garoto Cole (Duncan Joiner) e sua mãe, Loretta (Rebecca Hall, Homem de Ferro 3), cuja visita a uma incógnita do passado a leva a rever o tratamento que dá aos filhos. Para cada personagem e para cada artefato encontrado, há uma moral que tende a ponderar o comportamento humano mediante as supostas vantagens na exposição perante tecnologias em geral.
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(IMDb/Reprodução) |
Ao contrário do esperado, pouco a pouco, as artes visuais de Stålenhag se tornam um mero pretexto para aquelas histórias admiráveis por sua diversidade, por mais que personagens merecessem um melhor refinamento ou episódios que não beirassem a quase uma hora cada. O restante do time de diretores também é notável e miscigenado, tendo nomes como So Yong Kim, Ti West, Andrew Stanton (Stranger Things, Procurando Dory) e até Jodie Foster (melhor familiarizada no gênero após o episódio "Arkangel" de Black Mirror), sendo estes dois últimos responsáveis pelos melhores capítulos, "Ecoesfera" e "Casa", justamente por evocar mais artifícios cinematográficos impactantes.
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(IMDb/Reprodução) |
Introspectiva, mas de alto valor de produção digna de ser assistida (os episódios 3, 5 e 6 nada ou pouco influenciam o núcleo principal), a série pode, enfim, nem estar disposta a conquistar o pódio de fenômeno popular, mas talvez abrir caminhos para se desvencilhar de clichês tão batidos e acometidos à ficção científica, ainda mais quando as grandes franquias querem solucionar ações em cena com estalos de dedos. Tales From The Loop, nesse caso, tem seu mérito por ser irreversível.
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