quinta-feira, 5 de setembro de 2019

IT: Capítulo Dois | CRÍTICA


Ainda seu sucesso fosse justificado pelo consumo eufórico da nostalgia oitentista de Stranger Things, a verdade é que o IT: A Coisa de 2017 foi um dos melhores (ou seria o único?) remakes que a bibliografia de Stephen King teve o privilégio de ter, ainda mais num ano em que o número de lançamentos inspirados nas obras do autor pareava com a marca do Marvel Studios. Do seu elenco e vilão de composições fascinantes, além de uma decupagem engajada, o diretor Andy Muschietti nos fez flutuar por essa aventura horripilante querendo mais e agora, em sua sequência situada vinte e sete anos depois, tais expectativas são tão atendidas que o cansaço é iminente mesmo com as ótimas novidades que nem sempre surgem com balões vermelhos. 

Cedo demais para se permitir chamar de fenômeno cinematográfico para que pudesse justificar sua expressiva duração (todavia necessite da mesma para comportar o restante dos tantos incidentes contidos no livro original), IT: Capítulo Dois é um filme que se envereda em explorar a psicologia de seus personagens embora o faça por vias majoritariamente óbvias. Demonstrando sem pressa o quanto o tempo foi favorável a quase todos os integrantes do Clube dos Otários, por outro lado, a trama não demora para introduzir um Pennywise (Bill Skarsgård) que não diminuiu em nada a sua sede por maldade e sangue.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Se a narrativa do roteiro de Gary Dauberman (Annabelle 3: De Volta Para Casa) se envereda por um caminho extensamente dramático, mas que fica nas boas mãos de James McAvoy (em outra performance verbal impressionante!), Jessica Chastain, Bill Hader e James Ransone em suas respectivas versões adultas de Bill, Bev, Richie e Eddie, a mitologia por trás do palhaço maligno também é explorada por mais que o mesmo pareça ter um tempo de tela menor, ficando a cargo do adulto Mike (Isaiah Mustafa) discorrer as lendas envoltas de seu inimigo que juraram destruir a tanto tempo. Considerando a "névoa" da amnésia imposta em quase todos os personagens, o filme também investe em incidentes que mexem com os fracos e os traumas de cada um dos Otários, o que rendem sequências de cenas ótimas (a visita de Bev ao seu antigo apartamento, agora morada da estranha Sra. Kersh; Richie e seu segredo exposto pela Coisa na praça) enquanto outras se arrastam mais do que o necessário (o desespero assépico de Eddie; o amor não correspondido de Ben) em busca de relíquias do passado.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Demonstrando novamente um bom domínio dos efeitos visuais, a direção de Muschietti também se faz bastante criativa. Enquanto seus atores dão credibilidade ao texto e bem se espelham nos trejeitos do elenco jovem além das semelhanças físicas, o diretor argentino sabe utilizar a linguagem cinematográfica tendo todo o suspense e terror em mãos se utilizando de cortes ágeis, efeitos de iluminação (o pânico na casa de espelhos!) e até experimentos de cor alterando o matiz na cena da praça, potencializando a perturbação psicológica. No entanto, são justamente nas cenas em que Pennywise aumenta o número de vítimas que reside uma plasticidade maior no filme que, embora a violência tenha se intensificado graficamente aqui, sempre são apresentadas com um capricho inegável a ponto de ansiarmos por mais momentos horripilantes, o que acaba faltando em meio ao foco aos protagonistas.

(© Warner Bros. Pictures/GIPHY/Reprodução)

Divertido também por não se esquecer de ter bom humor nos momentos certos e até nos inesperados, além de nos levar de volta ao verão de 1989 (o que é ótimo poder rever o trio Sophia Lillis, Finn Wolfhard e, o melhor, Jack Dylan Grazer), IT: Capítulo Dois é, além de seu espetáculo estendido de aventura sombria, maduro o suficiente para apontar que não é preciso um palhaço amedrontador para deixar sequelas e feridas logo quando casos de violência doméstica, homofobia e demais tipos de discriminações são um terror contemporâneo igualmente prejudiciais – e que precisam ser combatidos na mesma medida.



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