segunda-feira, 26 de março de 2018

Com Amor, Simon | CRÍTICA


Filmes como o curta-metragem In a Heartbeat e o nacional Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (muito que impulsionado pelo seu curta original) provaram que não há nada de mal e promíscuo em contar uma história de primeiro amor entre jovens do mesmo sexo, tornando-se um meio de incentivo para a auto-aceitação e a compreensão (sobretudo familiar) que ainda estão longe de atingir um patamar ideal quando se trata de respeito. Enquanto incomodados dizem que é coisa de "militância" que quer acabar com a "família tradicional", produções afora ganham prêmios e até mesmo Oscars por seus devidos méritos, tratando tal diversidade com honestidade ao contrário de investir em figuras estereotipadas de mau gosto que ainda se vê por aí. Assim, embora Com Amor, Simon faça sua estreia neste cenário bastante propício para a temática, sua proposta está mais inclinada para um típico teen movie do que um autêntico representante do cinema queer.

Dirigido por Greg Berlanti (responsável pelas novelas de super-heróis da DC no canal CW) a partir do roteiro da dupla Elizabeth Berger & Isaac Aptaker (ambos da série This Is Us) com base no livro de Becky Albertalli ("Simon vs. a Agenda Homo Sapiens" – o qual não li), Love Simon se edifica a partir de uma atmosfera bastante agradável para mais um conto da coming-of-age americana, tendo em mãos uma fotografia clara, trilha sonora jovial (muito que copiando as melodias de filmes similares dos anos 1980) e referências a cultura pop a todo instante. Dessa forma, o Simon interpretado por Nick Robinson (Jurassic World, Tudo e Todas As Coisas) surge como um adolescente que não tem nada a reclamar de sua vida, uma vez que mora confortavelmente com os pais (vividos por Jennifer Garner e Josh Duhamel), prestigia os talentos culinários da irmã mais nova e tem nos amigos próximos do colégio uma cumplicidade ímpar, apesar de seu segredo ainda lhe ser exclusivo – isso até um remetente misterioso compartilhar as mesmas inseguranças de Simon num blog colegial, fazendo o garoto romper gradualmente sua zona de conforto em busca de exprimir seus anseios enrustidos.

20th Century Fox / Divulgação)

Frisando se tratar de uma história narrada na Era Trump e, a partir daí, contrariar seu representante da nação ao trazer uma notável escalação de jovens e adultos miscigenados, o filme é uma sessão de entretenimento momentâneo que procura refletir a sociedade estadunidense intolerante a conservadores (é uma professora negra que vocifera contra bullies homofóbicos), todavia esquivo a reflexões econômicas. Entretanto, é interessante notar como a visão de Berlanti se destaca justamente nos momentos em que decide fazer digressões paralelas ao (extenso) cotidiano principal da história, sendo divertido ver Simon confabular sua vida universitária onde, enfim, poderá se revelar gay como tantos outros colegas dançantes e de vestes coloridas no campus imaginário, assim como as narrações dos e-mails cuja digitação/leitura é sempre enquadrada por detalhes e segurando o mistério da verdadeira identidade de Blue e, toda a vez que o protagonista desconfia do seu flerte, vozes e gradações de cores distintas na fotografia trazem um diferencial para a obra, uma vez que seu drama passa a claudicar justamente por suas intrigas superficiais. 

Não que todo conflito adolescente verdadeiro seja um exemplo de complexidade, mas é fato que muitos dos incidentes se repetem e/ou se estendem ao acompanhar o quarteto de amigos (e outros agregados) em quase todo o tipo de situação possível e, desperdiçando uma oportunidade se estender no drama secundário narrado pelo personagem Ethan – talvez o caso mais condizente com a realidade de jovens em boa parte do mundo. Até a motivação de Simon em descobrir seu correspondente é sugerida como algo mais investigativo do que propriamente passional, o que reflete diretamente na performance de Nick Robinson e sua feição hesitante ("trejeitos" seriam um clichê batido e desnecessário aqui), bastante diferente de toda aquela entrega fervorosa e verossímil que Timothée Chalamet representou em Me Chame Pelo Seu Nome.

20th Century Fox / Divulgação)

Eficiente como um programa de diversão e diálogo jovem, fazendo vista grossa para seus tantos rebuliços em cena para um final um tanto quanto insosso, Com Amor, Simon se projeta como um filme acessível e de fácil identificação para qualquer pessoa que compreende a universalidade do amor e, embora tanto idealize uma circunstância perfeita para "sair do armário", já se faz necessário por sugerir uma vida com menos ditados como "nada contra, mas…" que ainda encubam e mantêm preconceitos por aí.



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