quinta-feira, 22 de março de 2018

Círculo de Fogo: A Revolta | CRÍTICA


Em 2013, o diretor Guillermo del Toro lançava Círculo de Fogo nos cinemas frisando sua ode aos tokusatsu japoneses trazendo muito estilo às clássicas batalhas de robôs contra monstros gigantes que, nos velhos e modestos seriados da TV, beiravam ao cúmulo do tosco por mais divertidas que fossem para a garotada da época. Com narrativa sucinta e momentos emblemáticos de sobra, o filme conquistou nerds aficionados (que apontavam várias semelhanças com animes similares) e a crítica nostálgica com um entretenimento facilmente mais inteligente que a franquia Transformers, porém longe de garantir uma arrecadação expressiva, dando indícios de que o "cancelamento do apocalipse" era feito mesmo pela parcela do público crente de que histórias de monstros e robôs já não tinham graça no início do terceiro milênio.

De lá pra cá, a Legendary Pictures se aliou à Universal (ainda que tenha refeito uma parceria com a Warner) e se tornou propriedade da chinesa Wanda Group, o que refletiu consideravelmente nas imposições criativas da produtora em tornar seus vindouros filmes muito mais atrativos para o mercado asiático – e some aí a constante escalação de Jing Tian (em papéis pra lá de secundários) e a predileção por cenários orientais. Logo, por mais que seu longa original já fosse culturalmente abrangente, seja por detalhes narrativos que colocam a China como uma potência tecnológica e as  ruas de Tóquio sede do clímax da história, Círculo de Fogo: A Revolta busca expandir seu alcance de público tal como seu universo de jaegers e kaiju.



Co-escrito pelo diretor Steven S. DeKnight (egresso da série Demolidor), Emily Carmichael (cotada para Jurassic World 3), Kira Snyder (das séries The Handmaid's Tale e The 100) e T.S. Nowlin (trilogia Maze Runner), é decepcionante notar como a narrativa de Pacific Rim: Uprising se faz bastante incongruente perante seus atos e, mais ainda, no tratamento corriqueiro que sua nova gama de personagens adquire. No que se entende se passar há uma década após os eventos do primeiro filme, o personagem traz personagens sobretudo jovens (a conexão neural para se pilotar os jaegers é melhor, afirmam cientistas em cenas) que se mostram relutantes ou pra lá de interessados em defender o mundo de vindouras ameaças, quando, na bem da verdade, as mesmas insurgem entre os robôs gigantes bem mais sofisiticados (e rápidos!) do que a geração anterior. Entre cenas de criatividade claudicante, o cientista vivido pelo gritante Charlie Day ganha uma absurda importância para a história, tal como o Dr. Hermann Gottlieb (Burn Gorman) e, enquanto mal se menciona o destino do personagem de Charlie Hunnam, é Mako Mori a mais injustiçada da nova história, logo quando Rinko Kikuchi fora uma ótima revelação no longa de 2013 e aqui se vê relegada a fazer semblantes austeros e estar em uma cena completamente errônea.

Todavia DeKnight faça cenas ocasionalmente divertidas toda a vez que tem jaegers e kaiju em mãos, valendo-se da habitualmente boa direção de fotografia de Dan Mindel para criar uma luminosidade próxima dos antigos tokusatsu na intenção de complementar a estética da franquia, além dos esforços de John Boyega e da menina Cailee Spaeny em dividir o protagonismo da história, é uma pena que tantos outros personagens (principalmente o de Scott Eastwood) tenham um desenvolvimento fraco e pouco inovador, ainda mais quando a narrativa apela para um melodrama que retarda o soar do sempre empolgante riff criado por Ramin Djawai e Tom Morello, agora entre as melodias genéricas de ação compostas por Lorne Balfe.


Com efeitos visuais e sonoros que enchem os olhos e ouvidos e nos fazem esquecer (temporariamente) todas as suas ressalvas, Círculo de Fogo: A Revolta pode até ser menos criativo  e icônico do que seu original, mas convenhamos que exigir demais de produções assim só tende a perder a graça da história.



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