Em uma época de franquias com narrativas expandidas que sofrem com a saturação justamente por tanta oferta sem proporcionar a mesma qualidade de seus originais, alternar o estilo é um caminho criativo certeiro, vide todo o impacto que Homem-Aranha No Aranhaverso trouxe não só ao seu personagem-título, como ao mercado de animação estimulando a projeção de novas técnicas ao invés de caminhar apenas para o hiper-realismo da Disney/Pixar, por exemplo. Uma década depois que O Hobbit acabou cansando boa parte do seu público tolkieniano, apostar na fantasia ilimitada dos animes japoneses faz com que O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim conceda novos ares de criatividade para a Terra-Média.
Co-roteirizado por Philippa Boyens a partir de textos contidos nos Apêndices de “O Senhor dos Anéis”, a trama situada há quase duas centenas de anos dos acontecimentos da Guerra do Anel não só traz uma expansão narrativa sobre o Reino de Rohan ao por em foco a dinastia de um dos seus monarcas mais notórios, Helm Mão-de-Martelo (voz original de Brian Cox), mas até mesmo reparar alguns deslizes de produção cometidos na trilogia original. Esse resultado expansivo, em tempos em que a série Os Anéis de Poder coexiste com um segundo ano formidável, só vem a ser positivo para quem tem sede por mais aventuras e até um pouco de trama política.
Dando nome e protagonismo a uma personagem que foi meramente citada nos Apêndices, Boyens e roteiristas usam a perspectiva de Éowyn (com Miranda Otto reprisando, embora só na voz) para narrar esses eventos pregressos e até mesmo servindo como uma queixa pelo equívoco (?) de Tolkien em ter criado tão poucas personagens femininas em seu legendário. Mais do que uma personagem destemida (há quem vai odiar, claro) concentrada em Hera (Gaia Wise), vemos mais de duas mulheres em diálogo. Não só isso, considerando que o elenco da trilogia original era de uma maioria branca, com neozelandeses maoris maquiados como Uruk-hai, é muito interessante ver que os personagens aqui são miscigenados, ainda mais quando os terrapardenses são representados como pardos (enquanto que, em As Duas Torres, coube aos funcionários da Weta usarem perucas e dentes horríveis tipo figurantes de Mad Max para representar aquele povo em cena).
Com um bom passo para ação, o diretor Kenji Kamiyama é o responsável por trazer todo esse novo respiro para a franquia justamente por fazer boas sequências de planos, honrando aí todo o estilo meticuloso com que Peter Jackson cravou, ainda que a liberdade fantasiosa dos animes ultrapasse o exagero por vezes, seja na cena da luta de dois monstros ou em todo o superpoder hercúleo que Helm vem a ter em determinado momento da narrativa. Para uma geração que nunca quis ver a trilogia por ser longa demais, mas que sempre consumiu conteúdos japoneses, esses “excessos” podem ser, de fato, até atrativos, ainda mais quando concilia com uma dinâmica a la Game Of Thrones, The Witcher ou até Attack On Titan em questão de violência gráfica.
Quisera os movimentos da animação fossem mais fluídos ao invés de travados como se apresenta na maior parte do tempo, penso que O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim não poderia ter apresentação melhor do que esta em que se projeta. Recorrer ao live-action, entre tantos congêneres, seria passível de ser esquecido tal como as antigas canções.
• Assista ao trailer:
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