(© MUBI/Reprodução) |
Com um Daniel Craig vivendo William Lee, senão um alter-ego de Burroughs, a trama de pós-guerra situada (inicialmente) em vilarejos mexicanos mostra o escritor expatriado como um tarado, dono de um apetite sexual insaciável que busca sempre outros homens para se relacionar conciliando tal rotina com bebidas e outros entorpecentes, além de dedicar um bom papo com seus outros amigos bichas no bar Ship Ahoy, local em que ele vem a se apaixonar por Eugene (Drew Starkey), um jovem frequentador do local.
Ainda que o homoerotismo pareça uma constante em sua filmografia, é curioso como Guadagnino tece uma narrativa completamente distinta a cada nova obra e, por mais que Queer pareça mais próximo de Me Chame Pelo Seu Nome, o tratamento dado aqui segue por outros caminhos que fazem o andamento do roteiro ser mais intrincado, o que pode custar a atenção de quem espera um conto facilmente envolvente. O cineasta olha para esse passado figurado ponderando a era atual de matches, de dates esquecíveis e de love bombings extenuantes; a relação de Lee e Eugene, embora retratada há décadas, é em si um retrato das relações contemporâneas e até mesmo universais: por que se entregar e perdurar com uma pessoa sendo que outras melhores podem estar por aí?
(© MUBI/Reprodução) |
Fazendo arte, Guadagnino recorre aos lendários estúdios italianos da CineCittá para fabular esse conto de forma artesanal tal como se faziam antigamente – e é com essa forma nem sempre verossímil que reside o charme de Queer, vide seus cenários criados e intercalados com planos gerais de maquetes urbanas. A brecha da artificialidade, por sinal, é um dos condutores para um terço final deveras experimental e que muito vai chamar a atenção não só pela participação mística e divertida de Lesley Manville, mas por todo o trabalho corporal dedicado pelos atores em uma dança de tirar o fôlego, culminando em uma sequência surrealista como há tempos o Cinema clamava. Alguns efeitos visuais, porém, não parecem lá muito funcionais no início.
De carisma oblíquo, Queer é um filme que, sem dúvidas, desafia e propõe ao espectador se desvencilhar de expectativas (há quem vá mencionar a carência de nu masculino ou de maior tempo de tela para nomes conhecidos no elenco, como Omar Apollo), mas toda a sua entrega, desde os momentos cômicos do personagem de Jason Schwartzman, todos os frenesis de Lee e até mesmo a trilha sonora que tem Nirvana, Caetano Veloso e a volta de Trent Reznor e Atticus Ross, faz com que a obra mereça atenção apesar de seu próprio acanhamento.
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