Documentário
aproveita a face provocadora de Fernanda Young ao transformar sua vida em um
poesia.
A
escritora, poeta e roteirista, Fernanda Young teve seus trabalhos mais
conhecidos quando se tornou uma das principais vozes das séries e especiais da
Rede Globo. Talvez uma nova geração, nascida após os anos 2000 não saiba o
tamanho do impacto cultural de “Os Normais”, ou até mesmo os pequenos projetos
cults “Os Aspones”, “O Sistema”, “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, entre
outros, que soavam muito modernos para a engessada Tv Globo e transmitiam um
pouco da visão anárquica de mundo de Fernanda, que ainda chocava as famílias de bem com suas opiniões a
frente de seu tempo no programa “Saia Justa” do GNT.
Durante
um intervalo de sucessos, Fernanda se mostrou uma assinatura, um carimbo de um
humor “inteligente”, que fugia dos bordões e assumia uma comédia que só os mais
letrados poderiam consumir. A questão é que Fernanda nunca negou esse rótulo,
ou nunca ligou para ele e a percepção do público foi a mesma.
Ela
faleceu muito jovem, aos 49 anos devido a uma crise de asma, porém seu último
trabalho é a muito boa série “Shippados”.
A
sensação é de que não vimos Fernanda desenvolver todo seu potencial, mas o
filme justamente traz luz para essa questão. Nós vimos o que deveríamos ter
visto de Fernanda Young, já que sua obra desbravadora e quebradora de paradigmas
ainda persiste, seja como produto de seu tempo ou um tapa na cara dos puritanos
anos 2000.
Através
de uma montagem muito bem realizada, "Fernanda Young, Foge-me ao
Controle" é um retrato justo e muito bem denominado da escritora. Fugindo
do padrão televisivo dos documentários, esse aqui embaça as linhas do eu e do eu-lírico,
tomando trechos de suas poesias como ilustração dos momentos capitais da sua
carreira.
Como acredito que forma e conteúdo são indissociáveis, esse
documentário é uma ode às potências de Fernanda Young enquanto essa voz
vanguardista que sempre buscou manter. Ao mesmo tempo em que imageticamente flerta
com uma linha do tempo, não tem pretensão em desconstruir trabalho por trabalho.
Ao mesmo tempo, a diretora Susanna Lira não quer dizer quem
e Fernanda Young, mas sim entrar em sua obra e traduzir visualmente a sensação
de ser alguém com uma profusão de ideias, tal qual (em menor escala e mais pé
no chão) foi feito com David Bowie no brilhante “Moonage Daydream”.
"Fernanda
Young, Foge-me ao Controle" é mais que uma biografia, mas sim um ensaio
sobre uma figura pulsante.
Confira o trailer abaixo:
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