segunda-feira, 19 de agosto de 2024

FERNANDA YOUNG, FOGE-ME AO CONTROLE – um belo ensaio de despedida | CRÍTICA

 


Documentário aproveita a face provocadora de Fernanda Young ao transformar sua vida em um poesia.

A escritora, poeta e roteirista, Fernanda Young teve seus trabalhos mais conhecidos quando se tornou uma das principais vozes das séries e especiais da Rede Globo. Talvez uma nova geração, nascida após os anos 2000 não saiba o tamanho do impacto cultural de “Os Normais”, ou até mesmo os pequenos projetos cults “Os Aspones”, “O Sistema”, “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, entre outros, que soavam muito modernos para a engessada Tv Globo e transmitiam um pouco da visão anárquica de mundo de Fernanda, que ainda  chocava as famílias de bem com suas opiniões a frente de seu tempo no programa “Saia Justa” do GNT.

Durante um intervalo de sucessos, Fernanda se mostrou uma assinatura, um carimbo de um humor “inteligente”, que fugia dos bordões e assumia uma comédia que só os mais letrados poderiam consumir. A questão é que Fernanda nunca negou esse rótulo, ou nunca ligou para ele e a percepção do público foi a mesma.

Ela faleceu muito jovem, aos 49 anos devido a uma crise de asma, porém seu último trabalho é a muito boa série “Shippados”.



A sensação é de que não vimos Fernanda desenvolver todo seu potencial, mas o filme justamente traz luz para essa questão. Nós vimos o que deveríamos ter visto de Fernanda Young, já que sua obra desbravadora e quebradora de paradigmas ainda persiste, seja como produto de seu tempo ou um tapa na cara dos puritanos anos 2000.

Através de uma montagem muito bem realizada, "Fernanda Young, Foge-me ao Controle" é um retrato justo e muito bem denominado da escritora. Fugindo do padrão televisivo dos documentários, esse aqui embaça as linhas do eu e do eu-lírico, tomando trechos de suas poesias como ilustração dos momentos capitais da sua carreira.

Como acredito que forma e conteúdo são indissociáveis, esse documentário é uma ode às potências de Fernanda Young enquanto essa voz vanguardista que sempre buscou manter. Ao mesmo tempo em que imageticamente flerta com uma linha do tempo, não tem pretensão em desconstruir trabalho por trabalho.



Ao mesmo tempo, a diretora Susanna Lira não quer dizer quem e Fernanda Young, mas sim entrar em sua obra e traduzir visualmente a sensação de ser alguém com uma profusão de ideias, tal qual (em menor escala e mais pé no chão) foi feito com David Bowie no brilhante “Moonage Daydream”.

"Fernanda Young, Foge-me ao Controle" é mais que uma biografia, mas sim um ensaio sobre uma figura pulsante.

Confira o trailer abaixo:





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