quinta-feira, 23 de maio de 2024

FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX – imperativo de uma lenda | CRÍTICA

 

Mad Max: Estrada da Fúria foi um evento cinematográfico tão inesperado, tão emblemático e tão poderoso que, por vezes ao longo desses anos todos, me peguei imaginando como poderia ser uma possível continuação do épico heavy metal que George Miller entregou em 2015 repaginando a sua criação que lhe trouxe prestígio mundial. Mesmo com todas as menções a lugares não vistos em cena, além de saber que o cineasta tinha uma história sobre Furiosa em mãos já naquela época, paciência era o que restava para todos que reprisaram Fury Road nestes nove anos – e, olha, como a espera por Furiosa: Uma Saga Mad Max valeu a pena!


É como se Miller (e seu co-roteirista, Nick Lathouris) estivesse matando essa nossa sede de anos, só que, desta vez, com muito mais permissão a contar com detalhes que circundam esse deserto de insanidades que, há mais de quarenta anos, nos serve de palco para reflexões sobre a crise de combustíveis, daí para a falta de água, alimentos e tudo o que compreende os problemas oriundos da crise climática. Em suma, a milenar falência cíclica da humanidade, como um personagem vem a pontuar. 


Desde o Vale Verde, onde conhecemos uma jovem Furiosa (Alyla Browne) até regressarmos a Cidadela de Immortan Joe (infelizmente, sem Hugh Keays-Byrne, falecido em 2020), revemos rostos, adereços e lugares que nos são familiares, mas, entretanto, George sabe entregar uma experiência completamente inédita e nos presenteia com mais um espetáculo de ação cujo imagético gruda na memória, sobrando espaço para trazer mais gangues de vestimentas e cabelos (e nomes) bizarros e até uma espécie de Gandalf do deserto. Ainda que dedicada a seguir a estética de seu antecessor, a direção de fotografia de Simon Duggan se permite trabalhar desde a técnicas como time-lapse e até um tratamento de cor mais variado entre os movimentos de câmera arrojados.


(© 2024 Warner Bros. Feature Productions, Pty Limited, Domain Pictures/Divulgação)

Obrigatório destacar toda a composição de Chris Hemsworth como Demeritus. Contando com o carisma do ator australiano que só melhorou em sua função na última década, é interessante notar como a vestimenta de seu antagonista o apresenta como uma figura messiânica envolto em uma capa branca, revelando um sujeito que é compassivo apesar de seu gosto por tortura. Em sua adesão da ira para conquistar territórios inimigos, o vermelho se faz mais presente em sua aparência, consumindo-se pelo ódio representado pela cor preta posteriormente. Apesar de o vilão se tornar repugnante logo no primeiro capítulo da trama, o bom trabalho de Hemsworth entrega momentos divertidos (em especial, na Cidadela), ainda mais quando reunido com outros inimigos.


(© Warner Bros Pictures/Reprodução/GIPHY)

Uma vez que o recasting costuma ser um embaraço em prequências envolvendo protagonistas, porém mais jovens, Furiosa consegue ser harmonioso nesse quesito quando se trata de sua personagem principal. Se Alyla Browne prenuncia a guerreira habilidosa que vimos Charlize Theron esbanjar, cabe a Anya Taylor-Joy, que demonstra ser boa de briga física e verbal, fazer a integração trazendo camadas de Furiosa que restávamos conhecer e que fazem todo o sentido ao notarmos a composição entregue em Estrada da Fúria – bom, George Miller desenvolveu a personagem ao longo de vinte anos e sabe muito bem quem ela é e do que precisa. Ainda assim, causa um certo estranhamento que outros atores presentes no longa de 2015 reprisem seus papéis aqui (logo na parte mais fraca da trama, inclusive), o que pode confundir o público no intervalo de tempo entre as duas narrativas no final. 


(© 2024 Warner Bros. Feature Productions, Pty Limited, Domain Pictures/Divulgação)

Certeiro em não tornar superlativa a escala de ação se comparado ao longa que vem a suceder (um erro muito comum em prequels, vide os exageros de O Hobbit), o que faz com que Estrada da Fúria se torne ainda melhor sem menosprezar o que se vê aqui, Furiosa: Uma Saga Mad Max segue criativamente brutal e (repito) tão inesperado, tão emblemático e tão poderoso. 


Em uma era em que nos exaurimos com chamadas (por vezes) infundadas sobre o que poderiam acontecer nos filmes de super-heróis, ser pego de surpresa é o que há de melhor no Cinema – a destreza lendária de sua arte de contar histórias.





P.S.: desta vez, a vontade de sair da sessão, pegar um carro e bater em tudo quanto é coisa está bem menor.

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