Filme de Guiné dirigido por Thierno Souleymane Diallo apresenta um ambiente onde o cinema não é valorizado e faz refletir sobre memória e preservação da arte.
Em No Cemitério do Cinema, partimos junto do diretor para uma jornada atrás do filme “Mouramani”, que supostamente teria sido a primeira ficção científica produzida em países da África francófona.
O simples fato de buscar por um filme tão importante expõe uma realidade na qual os principais meios culturais do país se tornam peças sem importância, jogadas a esmo, sem memória ou cuidado. Diallo anda pelas ruas de cidades como Conakri, a capital de Guiné, em busca dos rolos de filme que podem estar perdidos nos antigos cinemas, mas ao chegar lá encontra latas e arquivos sem o menor cuidado, com ranhuras, areia e muita poeira.
Mas afinal, por que devemos nos importar com isso? Da mesma forma que é exposta no filme, a memória cultural não parece ser muito valorizada em locais com forte desigualdade social. Se aqui no Brasil a descoberta de Limite (1931) é celebrada e nos faz pensar em quão disruptivo deve ter sido em sua estreia, além dos referenciais que levaram para a construção daquele universo.
Pela longa jornada atrás de Mouramani, Diallo apresenta também a construção de um novo cinema, por meio da filmagem de crianças e uma forte interação com o poder das imagens. A brincadeira do final, que propõe uma refilmagem do filme perdido mostra que talvez a narrativa entregue nem seja a mais perfeita ou a mais intelectual, mas sim um retrato de seu tempo, uma obra de arte que imprime imagem e som para refletir ideias e ideais.
Preservar o cinema é acima de tudo preservar a história e Diallo mostra isso, não somente com propostas de discussões pesadas, mas também com um humor ácido e rápido, tornando a figura central parte indissociável dos maiores méritos desse filme.
Filme integrante da Mostra Competitiva Internacional do 12º Olhar de Cinema.
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