quinta-feira, 16 de março de 2023

SHAZAM! FÚRIA DOS DEUSES – heroísmo em autoconsciência | CRÍTICA


Imperfeito, todavia divertido, o Shazam! de 2019 entregou uma trama despretensiosa ao correr por fora de todo o tumulto criado na linha de produção dos filmes da DC, embora, ironicamente, um dos principais problemas residia na caracterização de seu protagonista – apesar de todas as virtudes que compõem o herói do título, o Billy Batson de Asher Angel estava sempre na contra-mão de tudo. Se, portanto, erros estão aí para serem corrigidos em sequências, Shazam! Fúria dos Deuses, por sua vez, vem em tempo de entregar uma sequência bem mais heróica e sem se desfazer do que lhe fazia um entretenimento nato.


A aventura da vez é praticamente uma jornada pela autoconsciência e pelo altruísmo típico que demanda a temática. Parece até que o roteiro de Chris Morgan (de alguns Velozes e Furiosos) e Henry Gayden pega as queixas sobre o filme antecessor justamente para se fortalecer a favor da atual trajetória do jovem Billy que, por mais de uma vez, questiona se é realmente digno dos poderes daqueles cujas iniciais compõem o nome do campeão. Para o diretor David F. Sandberg, é a chance de se alçar como um realizador espirituoso tal como Richard Donner foi laureado por seus dois Superman.

(© Warner Bros Pictures/Divulgação)


Sandberg, porém, continua irregular em suas escolhas estéticas. Receoso de perder seu veio no terror, o cineasta apela sempre que pode para uma ação mais violenta ou horripilante (e até homenageia Dario Argento e Mario Bava ao juntar os nomes destes em um psicólogo) para, então, justapor com alguma piadinha nerd minimizando o impacto da ação anterior. Ainda assim, há uma admirável progressão em sua entrega de cenas mais emblemáticas, todavia prejudicadas por efeitos visuais geralmente feios e pouco refinados. A resolução do dragão Ladão em planos mais próximos, por exemplo, é de dar pesadelos!


(© Warner Bros Pictures/Divulgação)


Ousando ser Zack Snyder sem o mesmo apuro imagético, Sandberg executa alguns planos em slow motion carente do mesmo esmero a ponto de banalizar o recurso só para mostrar balinhas Skittles sendo atiradas numa duração mais do que necessária também. Não há muito o que falar do elenco a não ser que Freddy (Jack Dylan Grazer) será sempre um bem-vindo ladrão de cenas, seguido de Darla (Faithe Herman) enquanto Helen Mirren e Lucy Liu aproveitam para se divertir mais com interesse nos cheques do que, talvez, numa vontade amistosa de se integrar a essa moda cinematográfica. Sobre o protagonista e antivacina Zachary Levi, só resta dizer que seu lado cômico ainda funciona em sua limitação não tão ampla. Até Rachel Zegler surge prometendo maior relevância, mas a jovem atriz de Amor, Sublime Amor acaba se tornando mais um interesse romântico entre tantos incidentes acontecendo.


(© Warner Bros Pictures/Divulgação)


Ainda assim, Fúria dos Deuses é certeiro em não perder tempo com dramas familiares insossos ao optar pelos dilemas heroicos do protagonista, o que se torna mais empolgante quando boas piadas são acompanhadas de monstros da mitologia grega cujo visual remete muito aos clássicos modelos de Ray Harryhausen e, claro, de uma maravilhosa participação especial que só tende a confirmar que, caso seja desligada do vindouro universo proposto por James Gunn, fará muita falta nas telas tamanho carisma. 


E, por falar na divisiva reestruturação, é preciso dizer que Shazam! Fúria dos Deuses é válido como um bom entretenimento logo por não se firmar tão episódico (por mais que as suas duas cenas pós-créditos meio que contradigam isso), o que torna a obra digna de se ver por mais que o futuro próximo não lhe reserve continuações confirmadas. Até em seu encerramento, mediante tudo o que acompanhamos, uma fala de Freddy reitera a autoconsciência: sim, poderia ser melhor mesmo.




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