Tornou-se um hábito esperar de Paul Verhoeven filmes não menos do que polêmicos tamanho despudor para a erotização – e é fato que Showgirls, seu melhor pior filme, ainda seja debatido por cineclubistas que gostam de equiparar a biomecânica da stripper com RoboCop. Passados 5 anos desde que Elle também causou alvoroço, o veterano cineasta holandês encontra na história (dita) verídica contada no livro de Judith C. Brown mais um tema para pirraçar os valores da Igreja Católica.
(© Imovision/Divulgação) |
A direção astuta de Verhoeven nos presenteia com uma decupagem e mise-en-scène lúcidas; cada detalhe não está ali à toa e até cortinas que se fazem de divisórias no dormitório se tornam claustrofóbicas. Enquanto Rampling nos dá muito mais de uma religiosa calculista (até porque pouco presenciamos de sua Reverenda Madre em Duna), o protagonismo de Viriginie Efira é estupendo, ainda mais em sua performance que vai demandando mais e mais de seu semblante e corpo entre transes. Por sua vez, o terço do filme focado no retrato da epidemia da peste nos induz a um relativo alívio ao notar que a humanidade resistira a enfermidades mais calamitosas do que as que enfrentamos no momento – e que bom que a Igreja Católica, pelo menos, não se vê mais intangível perante a doenças atualmente.
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Todavia não seja lá um título inédito no questionamento da religiosidade entre dogmas (A Religiosa, de Rivette, e o fenomenal O Nome da Rosa já apontavam a usura do clero, entre outras coisas ainda tão veladas) e que algumas encenações aqui flertam e escancaram a breguice sacra mais exaustiva do que deveria, no fim das contas (e além da representação lésbica), Benedetta parece apontar para um detalhe tão evidente nas entrelinhas de obras de arte pelos séculos: teria o êxtase de tantos religiosos repreendidos e santos acontecido através da provação do sexo a ponto de sua liberação ser, em si um milagre?
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