Ver um filme da Disney·Pixar é sempre aquela coisa: com raras exceções, é certeza absoluta de um entretenimento garantido bonito de se ver e, como se isso não bastasse, é tão emocionante que a gente não tem como não se emocionar ao ponto de ir às lágrimas – e como isso está cada vez mais frequente! Com um título sugestivo o suficiente a reservar mais uma experiência de abalar o coração, Soul se firma como o filme que precisávamos para nos energizar após um ano de severas aflições.
(© Walt Disney Studios/GIPHY/Reprodução) |
E não é que a oportunidade vem? No entanto, um acidente na rua o leva para bem longe do clube, de NY ou até mesmo da Terra, mas ao Além-Vida ou, mais precisamente, a sua morte. Só que a vontade de viver de e pela música soa mais alto e Joe, em meio ao desconhecido com vários Zés/Jerrys (destaque para Alice Braga, que dá voz a um deles) que preparam tantos para a vida e alinham outros chegados na grandiosa escadaria para o que está por vir, precisa driblar as regras transcendentais a fim de chegar a tempo para aquilo que pode ser a fagulha para a sua carreira, contando com o apoio da desinteressada alma 22 (Tina Fey), que está prestes a descobrir o porquê da preciosidade que é viver.
Dirigido e escrito por Pete Docter, que vem nos tocando com esses temas sensíveis desde UP: Altas Aventuras e nos arrebatou com Divertida Mente, a princípio, parecia que Soul se inclinaria a uma versão etérea da temática do filme de 2015, mas, apesar de trazer um ou outro conceito de religiões espiritualistas, o longa prioriza na conexão com o próximo para, então, estimular a compreensão do nosso propósito individual perante a coletividade, logo em tempos nos quais as pessoas ficam reclusas diante de telas aguardando por aceitação.
(© Walt Disney Studios/GIPHY/Reprodução) |
Dessa aventura que percorre os campos pueris do Pré-Vida a praticamente todos os tipos de recintos urbanos e tumultuados de Nova York, os artistas visuais da Pixar se superam mais uma vez nos detalhes das texturas dos ambientes e no acabamento dos personagens que vai além do progresso visto em Toy Story 4, se dedicando não só a cortes de cabelo, mas nas expressões faciais que superam a covinha na bochecha de Miguel em Coco. São os poros no rosto, a luz de holofotes refletida nas gotas de suor de uma saxofonista, as rugas nos lábios com batom de uma mãe que não esconde o pesar de o filho trilhar um caminho que já fora suficientemente difícil para o pai. Se Soul é sobre a vida, nada mais digno do que enaltecer esses pontos corriqueiros que só enriquecem a experiência visual.
(© Walt Disney Studios/GIPHY/Reprodução) |
Com Trent Reznor e Atticus Ross (Mank, série Watchmen, A Rede Social) surpreendendo em compor uma trilha sonora amistosa e efusiva em parceria com Jon Batiste, o maior aprendizado que recebemos com Soul é aquele que sempre soubemos: não desistir apesar de todas as adversidades e deixar as pessoas falarem para que possamos nos entender melhor. Porque são nesses momentos até mesmo banais, de um papo furado de homens na barbearia a uma epifania de um improviso no piano, que podemos encontrar fagulhas o suficiente para querer viver mais e mais.
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