Eu sou fascinado por Star Wars desde os meus 8 anos de idade. Muitas vezes, até me pergunto o porquê desse apreço duradouro mesmo depois de ver os filmes tantas vezes que até me esqueço por qual motivo eu gosto tanto. Acompanhando veemente as temporadas de The Mandalorian até o seu ápice recente, eu acabei relembrando os principais valores que me fizeram embarcar nessa grandiosa saga de aventura em meio a um segundo ano indefectível.
Desde que a Lucasfilm decidiu expandir as histórias existentes entre a Saga Skywalker na televisão, é curioso notar como essas narrativas começaram pequenas e simplórias em suas primeiras temporadas para, então, investir em temáticas maduras e até complexas nos anos seguintes.
Ainda assim, todo esse universo a parte de The Clone Wars e de Rebels, com suas subtramas pertinentes, parecia que jamais coexistiria nas linhas narrativas dos longas episódicos, até que Rogue One demonstrou que Star Wars poderia vingar nas telas sem qualquer Skywalker em primeiro plano. Não só isso, agraciou aqueles que não desprezaram as animações com Easter eggs icônicos. E não é que funcionou?
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Criada pelo cineasta Jon Favreau (O Rei Leão, Mogli: O Menino Lobo, Chef, Homem de Ferro) e contando com a produção e direção de Dave Filoni, um dos que mais entendem da mitologia e a expandiu com êxito nas animações desde 2008, The Mandalorian chegou sem fazer muito alarde, trazendo um protagonista de poucas palavras e identidade misteriosa em meio a criaturas e situações familiares. De seus roteiros enxutos, com objetivos sem rodeios e diálogos quase sempre entoados como frases de efeito e paisagens não menos que emblemáticas, cada capítulo proporcionava uma nova aventura para o Mandaloriano (Pedro Pascal) muito bem acompanhado daquele que se tornaria a estrela do programa, o popular "Baby Yoda" ou A Criança – até vir a ter seu nome revelado agora de uma forma muito estimada.
Assim como aconteceu para os personagens das séries animadas, a jornada de Mando e da Criança inevitavelmente, aumentaria seu escopo algum dia e o último capítulo da primeira temporada confirmou isso: mais do que Jawas, Stormtroopers e outras raças alienígenas em cena até então, importantes conexões viriam no futuro. Era dado, como diria o bom e velho Obi-Wan Kenobi…
Um grande passo a um mundo maior
Envolver personagens previamente estabelecidos nos filmes e nas séries anteriores, no entanto, parecia algo arriscado para um programa que se destacou por sua relativa independência de todo o restante, correndo até o risco de confundir a parcela do público que ainda não sabia exatamente em que ponto da cronologia toda essa história se passava.
Os roteiros de Favreau e Filoni, porém, se provaram incisivos em encaixar essas peças de forma orgânica para a narrativa. Das expectativas que foram desfeitas e refeitas logo no capítulo de estreia da segunda temporada dirigido pelo próprio Favreau, vimos Bryce Dallas Howard progredir na condução de cenas de ação ao apresentar os mandalorianos comandados por Bo-Katan, interpretada por Katee Sackhoff (Battlestar Galactica) desde as animações, e Robert Rodriguez (Alita: Anjo de Combate) aplicar toda a brutalidade gráfica do seu cinema para reintroduzir e revisar um dos mais notórios caçadores de recompensa da galáxia e provar que ainda havia alguma honra na voz de Boba Fett (Temuera Morrison).
Temuera Morrison "reprisa" sua participação na saga após interpretar o caçador de recompensas Jango Fett e seus clones nos Episódios II e III. (© Lucasfilm/Reprodução) |
Uma das personagens mais aguardadas pelos fãs desde que fora anunciada e vivida agora por Rosario Dawson, não poderia haver diretor melhor para apresentá-la do que Dave Filoni, logo ele que cuidou da personagem ao longo dos anos, transformando a Padawan insolente numa guerreira que resistiu ao sofrimento e decepções para se tornar mais forte. E por falar no capítulo comandado por Filoni, é interessante notar como ele remonta ao pensamento de George Lucas e faz de “A Jedi” um verdadeiro filme de samurai a partir da premissa para a trama e, daí, toda a sua composição para os planos e seus enquadramentos que reforçam as simetrias das locações. Até a movimentação dos personagens é cautelosa, como se os guerreiros de filmes de Akira Kurosawa transitassem nesses cenários marcados por um silencio agourento.
Rosario Dawson traz a bravura e serenidade características de Ahsoka Tano pela primeira vez em live action (© Lucasfilm/Disney+/GIPHY/Reprodução) |
Não só isso, parece que o exercício de aplicar os gêneros cinematográficos parece uma constante na segunda temporada de The Mandalorian. Do capítulo de estreia resgatando a atmosfera do faroeste com expedições pelo deserto e que ganha um tratamento de cinema com uma sequência rodada com câmeras IMAX, partimos para momentos de terror espacial que lembram não menos que Alien: O 8º Passageiro e até cenas que replicam a perseguição a um comboio no melhor estilo Mad Max: Estrada da Fúria.
O grande destaque, porém, é quando o Mandaloriano se embrenha em missões de assalto contra as forças do Império, sendo outro mérito de Carl Weathers, Rick Famuiywa e Peyton Reed na direção e seu competente equilíbrio entre a urgência dramática e o divertimento ao espectador. A energia dos combates é colérica e a câmera segue no mesmo passo, captando stormtroopers apanhando e caindo em poses sem fim.
Mas, diferente do que aconteceu nos filmes derivados, as menções ao passado e as pistas ao futuro que Favreau e Filoni escrevem são importantes para os personagens que ali estão envolvidos ou testemunham. Elas geram conflito, elas informam e até mesmo a trilha sonora do premiado Ludwig Göransson (Tenet, Pantera Negra) ainda trabalha com umas melodias conhecidas e icônicas do legado assinado por John Williams nos nove filmes.
Giancarlo Esposito (séries The Boys, Better Call Saul) se destaca na sua perfomance como o precavido imperial Moff Gideon. (© Lucasfilm/Reprodução) |
Falando assim, parece que The Mandalorian é um seriado feito só pra agradar fã, principalmente pra quem não gostou da última trilogia e que, passada esta, a Lucasfilm talvez estaria consertando os vacilos narrativos que o J.J. Abrams inventou a troco de especulações em O Despertar da Força e retomar com ganância em A Ascensão Skywalker corrompendo boa parte do direcionamento que Rian Johnson havia feito no oitavo episódio da saga. As ligações estavam evidentes desde o primeiro ano do seriado, mas agora tudo vai se tornando mais nítido e os 16 capítulos nos mostraram que a série vai além de nos deslumbrar com a produção e sua revolução tecnológica com os painéis de LED Volume na constituição de cenários ou ainda de nos fazer sorrir ao vermos o Povo da Areia, os Mon Calamaris e Quarrens e tantas outras figuras dos filmes anteriores, enfim, ganhando utilidade narrativa além da pregressa função de figurantes.
The Mandalorian é sobre companheirismo e as virtudes que fazem isso se tornar mais forte. É sobre ter falhas e medos, sobre vencer receios, estigmas e sair das sombras para dar apoio mútuo a amigos ou até mesmo desconhecidos. Este é o Caminho. Isto é empatia – e os melhores momentos de Star Wars são feitos disso.
Baby Yoda/Grogu se diverte entre missões e rolês gastronômicos. (©Lucasfilm/Disney+/GIPHY/Reprodução) |
Eu fiquei muito contente e entusiasmado com essa segunda temporada de The Mandalorian e os eventos finais do capítulo final curiosamente intitulado “O Resgate” e toda a sua crescente de clímaxes poderiam entregar um desfecho poderoso para a série, mas sabemos que muito mais vêm aí.
Até lá, só nos restam bons filmes e boas séries – e que a Força esteja com todos nós.
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