quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Meu Querido Supermercado | CRÍTICA

 

Integrante da Competição de Longas e Médias-metragens Brasileiros da 25ª edição do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, Meu Querido Supermercado poderia, a julgar por seu título, ser comumente uma biografia de um empresário varejista carismático qualquer e seu apreço pelo estabelecimento com muitos casos a serem contados. Mas, para a diretora Tali Yankelevich, o seu foco há de residir no interesse que acomete a muitos clientes, ainda que a correria trivial dos mesmos impeça qualquer aproximação: as vidas daqueles que mantêm as coisas funcionando na loja, desde o empilhador no estoque a um operador de caixa.


Numa loja da rede de supermercados Veran, na grande São Paulo, funcionários preparam as massas de pães, organizam direitinho os pacotes de milho e de ervilha nas prateleiras, apuram qualquer atividade suspeita nos corredores a partir do monitoramento de câmeras, perguntam "CPF na nota?", traçam com perfeição as curvas dos noves com o canetão nos cartazes de ofertas. Assim é a rotina operacional daquela gente que trabalha diariamente, mas afinal, quem são aquelas mulheres e homens de idades e origens distintas? Você alguma vez já teve um papo filosófico sobre o universo com o seu padeiro?

(Fonte: É Tudo Verdade/Reprodução)

Recorrendo ao modo de representação expositivo enquanto deixa os funcionários divagarem sobre suas particularidades sem deixar de observá-los no cumprimento de suas devidas funções, a cineasta alcança aqui um apanhado de histórias comoventes e até divertidas de nos fazer abrir vários sorrisos no rosto. Rodrigo, o padeiro estudioso, é constantemente contrariado por sua colega de balcão, que acaba confessando que vai sentir falta dele, no fim das contas. Um jovem padeiro assume ser imaturo para relacionamentos amorosos, mas não poupa palavras para explicar, a um colega, a mudança de pensamento de Goku em Dragon Ball Super e até se revela um cosplayer do personagem Obito, de Naruto. E quem diria que o operador de caixa já saiu com clientes e que o senhor no estoque, de início, desacreditado na necessidade do tema do filme, se revela um adorador de jogos de construção no celular?

Sem fazer intervenções bruscas, como tentar fazer se reaproximar diante da câmera a mãe distante que monitora a loja da filha que também trabalha como operadora de caixa, Tali Yankelevich projeta com Meu Querido Supermercado muito mais do que trabalhadores quase máquinas como a montagem busca criar com um efeito construtivista a la Vertov no início do filme, mas um registro dinâmico e simpático de pessoas que têm muito mais do que sua mão-de-obra a ofertar.



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