quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Pequena Grande Vida | CRÍTICA


Alexander Payne é, ou costumava ser, aquele tipo de cineasta que Hollywood adora colocar em voga por sua habilidade de contar histórias mundanas com um toque particularmente especial que, aliado a grandes atores do momento, também revela e resgata talentos ao longo de suas obras que não tardam a cativar seu público. Oscarizado duas vezes na categoria de Melhor Roteiro Adaptado por Sideways - Entre Umas E Outras e Os Descendentes, foi estranho notar a ausência do diretor no páreo da temporada de ouro desde que lançara o agradável Nebraska, ainda que tenha produzido uma ou outra coisa durante seu hiato de quatro anos interrompido agora com Pequena Grande Vida, o que, provavelmente, é seu conto mais grandioso e excêntrico até então.

Pelo menos em sua premissa, Downsizing é enfático. A humanidade caminha para um destino sem volta tamanho consumismo exacerbado que, além de minar recursos e contribuir para desigualdades de várias instâncias, pode comprometer sua existência com o derretimento total das geleiras nos polos dada a expansão do efeito estufa. Há anos desenvolvendo pesquisas em busca de uma solução para esse caos ecológico, um cientista norueguês (interpretado por Rolf Lassgård, de Um Homem Chamado Ove) encontra uma solução pra lá de peculiar: encolher consideravelmente a população para igualmente reduzir o seu impacto no planeta. Mas para tamanho experimento, é preciso um chamariz dos bons e, após uma década de procedimentos de cunho socioambiental na Europa, a tecnologia chega com tudo nos Estados Unidos e com uma campanha empoderada pela vantagem de se ter suas economias inflacionadas na ostensiva Lazerlândia, onde qualquer americano pode, enfim, concretizar seus maiores sonhos nessa diminuta escala.

(© Paramount Pictures/Divulgação)

Escrito por Alexander Payne e Jim Taylor (parceiro do diretor em As Confissões de Schmidt e Sideways), o filme trata de acompanhar a rotina de Paul Safrânek (Matt Damon), um americano médio que nunca teve lá muito tempo para nada a não ser para cuidar de outras pessoas, tal como sua enferma mãe e os operários latinos em um abatedouro, onde trabalha como terapeuta ocupacional. Deixando sempre suas ambições para o "depois" uma vez que precisa pagar contas junto com sua esposa (vivida pela divertida Kristen Wiig), que também quer uma vida melhor, o programa da Lazerlândia não seria menos que tentador. Entre surpresas inesperadas e uma nova vida que, bem no fim, nem lhe será abastada como prometido, Safrânek começa a perceber que o mundo ao seu redor pouco mudou desde então e, uma vez que conhece a refugiada Ngoc Lan Tran (Hong Chau) no apartamento do vizinho e oportunista Dusan (Christoph Waltz, sorridente e ácido de hábito), parte para uma jornada solene no intuito – e a tempo – de fazer grandes diferenças.

(© Paramount Pictures/Divulgação) 

Tendo em mãos as participações especiais de Jason Sudeikis, Laura Dern e Neil Patrick Harris, Payne consegue grandes momentos em sua primeira metade de Pequena Grande Vida que o tornam um filme com várias sacadas divertidas e até mesmo inventivas por seu flerte com a ficção científica, apesar de que, para um cinéfilo exigente, não é novidade alguma se deparar com gags quanto a comprimentos de genitais ou a comicidade de ver alimentos e demais objetos perante os diminutos personagens. Deixando de lado as suas ironias afiadas para se entregar a uma trama solenemente genérica com um propósito mais social, a parte restante do longa demonstra uma duração inflacionada e cansativa, ainda mais quando aquele mesmo discurso socioambiental retorna com um posicionamento tão conformista que tende a ser depressivo para o público, que tampouco parece sentir o contraste da escala em cena mediante enquadramentos que pouco colaboram com essa impressão.

Apesar desta guinada que tirou boa parte do brilho da obra (e, consequente, as possíveis indicações que Payne e Taylor teriam numa categoria de Melhor Roteiro), Pequena Grande Vida é sublime no que tange a sua mensagem geral provando que, enquanto a humanidade não rever seus conceitos e hábitos (dos fartos aos precários), de nada adiantará as mais malucas das invenções. O que não quer dizer que, por outro lado, a mesma tenha de se isolar em punição pelos seus próprios erros quando, muito que bem, poderia se dedicar a alçar um futuro melhor.




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