sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Gosto Se Discute | CRÍTICA


A julgar pela enxurrada de tweets nas noites em que o programa MasterChef Brasil é transmitido, é inegável que a gastronomia vive uma aclamada fase no país com tamanho público caloroso e acompanhando demais programas culinários sempre em busca do deleite de se ver um saboroso prato (ou não) sendo preparado na maior pressão. Degustando desse bom momento, a nova comédia de André Pellenz (Minha Mãe É Uma Peça - O Filme) busca o riso na competitividade na era da "gourmetização", onde boa comida já não se encontra mais nos requintados restaurantes, mas aonde quer que a criatividade do chef fale mais alto.

Em Gosto Se Discute, Augusto (Cassio Gabus Mendes) é o chef e proprietário do Gusto, um restaurante que costumava ser badalado na década passada a ponto de receber famosos e reportagens para a TV a la Amaury Junior, mas hoje se vê assombrado pelo estiloso – e movimentado – foodtruck de Patrick (Gabriel Godoy), um jovem com vivência na gastronomia novaiorquina e que agora busca dar um novo conceito para o que se come por aqui. Endividado e recebendo poucos clientes que já não se admiram com o cardápio defasado, Augusto precisa de uma solução que lhe seja conveniente para reconquistar o prestígio de seu restaurante, mas é incomodado com as constantes ordens da auditora Cristina (Kéfera Buchmann) e, pra piorar, a repentina síndrome que lhe fez perder o essencial: seu paladar.


Com pitadas generosas do que foi visto há dois anos em Pegando Fogo, o filme diverte à moda com que Pellenz rege seus demais longas: trilha sonora sempre presente ritmando a narrativa, incidentes cômicos por meio de personagens reconhecíveis e/ou exagerados (não há outra forma de classificar a participação de Paulo Miklos senão desta) e uma admirável restrição de cenários – praticamente tudo acontece dentro e ao redor do restaurante. Cassio Gabus Mendes faz um bom trabalho como um chef paranoico, mas a ideia de par romântico não combina; já Kéfera dá um passo a frente na sua carreira demonstrando seriedade em seu papel, o que, por outro lado, é parcialmente comprometido pela fraca subtrama dos planos malignos do banco ou quando é forçada a ser uma suposta vilã engraçada.

Divertido em sua entrada, um tanto quanto gorduroso em seus pratos principais e com um sobremesa previsível, Gosto Se Discute chama a atenção mesmo quando revela seus caprichados pratos brasileiríssimos e, não por menos, os créditos finais destacam o que pra muitos é, ainda, irrelevante: cozinhar (e saborear) é uma arte!



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