quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Feito na América | CRÍTICA


Afinal, o que ou quem sustenta o narcotráfico? Enquanto uma pergunta para intrincadas teses de sociólogos ou respostas mais diretas com dedos em riste para usuários ou para o Estado, seja pela segurança ineficaz ou pela falta da legalização das substâncias, convenhamos que sempre haverá terceiros nesse meio se beneficiando das brechas do sistema e, disso, tirando vantagem ou talvez dando continuidade ao fluxo de drogas e das quantias exorbitantes de dinheiro. Considerando que o assunto está há décadas em voga nos meios audiovisuais e nas recentes temporadas de Narcos, Feito na América aposta num retrato diferenciado daquele que contribuiu para o seu país, para o seu próprio bem e também para a ascensão do Cartel de Medellín.


Entretanto, o novo filme dirigido por Doug Liman (No Limite do Amanhã) não se trata de mais um estudo de caso sobre Pablo Escobar que, embora morto há mais de vinte anos, está mais vivo do que nunca considerando o tanto de séries e filmes que utilizaram o notório traficante como personagem – o que não é exceção aqui, embora com uma caracterização bem diminuta perto daquela que Wagner Moura cravou na série da Netflix. Mais precisamente (e com um bom humor irônico de sobra), American Made é sobre Barry Seal, um piloto americano da TWA adepto do contrabando de iguarias que, no final da década de 1970, é forçado a cooperar com a CIA na investigação de potenciais organizações do narcotráfico ou socialistas espalhados nos países da costa caribenha. Se o novo trabalho de Seal consistia em ser apenas idas de "espionagens" fotográficas, as viagens de volta seriam muito mais problemáticas e arriscadas, porém extremamente lucrativas para o piloto cujo maior problema para sua família crescente seria arranjar mais espaço para armazenar as pilhas de dólares em constantes somas.



Protagonizado e narrado por um Tom Cruise de carisma radiante e que não surge correndo, o filme se mostra bastante dinâmico ao se debruçar em uma montagem maneirista (a sequência que toca um remix de músicas clássicas é hilária!) que intercala imagens de arquivo entre as elipses com os itinerários perigosos de Seal lidando com o Cartel sempre com armas em punho, mas a violência aqui fica amenizada por sua sugestão, tal como a cena em que um Seal coberto de cocaína sai pela rua de bicicleta sem ao menos representar o efeito da inevitável inalação da droga após a queda do jatinho. Com momentos quase lineares onde não há nada a fazer a não ser achar graça das situações inacreditavelmente absurdas, Liman conta com um funcional elenco de apoio que vai desde a esposa de Seal (Sarah Wright) ao irônico Schafer (Domhnall Gleeson) e o glutão policial da cidade pequena (Jesse Plemons), que parecia ser o último a saber das movimentações milionárias no local. A única ressalva fica com Caleb Landry Jones como o irmão da esposa e o perigo que infere ao dinheiro escondido, mas o ator apenas repete o desinteressante tipo lesado tal como seu personagem na terceira temporada de Twin Peaks.

Didático sem exigir demais da atenção do espectador tal como um A Grande Aposta ou megalomaníaco feito O Lobo de Wall Street, Feito na América ainda é claro o suficiente para que seu público, esperando mais um filme de ação do astro do que uma pauta de questionamentos sociopolíticos, tire suas próprias conclusões com a soma dos acontecimentos derradeiros a menos que o fato de a Justiça ser (por vezes) falha e parcial ainda seja novidade para alguém. Com os galanteios de Tom Cruise e a agradável fotografia tropical, adquirimos a cumplicidade por Barry Seal, acatamos a desculpa romântica de que era para o sustento da família e embarcamos nessa viagem entretida, todavia com uma abordagem distante tal como uma vista aérea.






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