quinta-feira, 14 de setembro de 2017

As Duas Irenes | CRÍTICA


Essa semana chega às telonas As Duas Irenes, distribuído pela Vitrine Filmes. Bordado pelas talentosas mãos de Fabio Meira, – arrisco – um dos maiores roteiristas brasileiros dessa nova geração, que estreia agora como diretor, o filme, rodado nas belezas do interior goiano, é um retrato do amadurecimento de uma menina, Irene (Priscila Bittencourt), que descobre que o pai, Tonico (Marco Ricca), possui outra família, de onde surge uma meia-irmã cujo nome também é Irene (Isabella Torres). “Coisa do pai”, como diz uma das mães.

Fugindo de modelos clássicos, Meira realiza uma obra de sensações puramente visuais, elevando a linguagem do cinema nacional. Aqui, destaca o trabalho realizado pelos departamentos de som e trilha sonora e direção de arte, que transcendem o quadro fílmico ao trabalhar eficientemente com o conceito de memória afetiva sem chamar a atenção para si mesmos – qualidade, aliás, onipresente no filme como todo; trata-se de uma experiência singela, simples embora não simplista.


O elenco também aparece funcional, apesar de uma ou outra vez Bittencourt dar a sensação de estar lendo ou recitando a fala decorada – não chega a prejudicar o filme como todo. Assim como alguns dos furos do roteiro passam despercebidos, suplantados pelo direcionamento do olhar e da agonia monótona do interior. O filme, com pontos de virada estruturalmente borrados, usufrui de sua quase hora e meia com bastante competência, o que às vezes exige um arrastar consciente de sensações, enfim. O não dito aqui carrega talvez o maior valor narrativo da trama.

As Duas Irenes, então, é mais uma tentativa brasileira de ir contra a fórmula clássica dramatúrgica – e, por consciência e honestidade, sustenta-se relativamente bem. Esse intento despretensioso sempre basta em um filme: funciona. Vale ser visto.




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