sábado, 21 de maio de 2016

X-Men: Apocalipse | CRÍTICA


Quando X-Men: Apocalipse foi anunciado meses antes da estreia de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, o subtítulo da vindoura produção parecia sugerir um fechamento para a ideia de nova trilogia iniciada com X-Men: Primeira Classe, além de, claro, trazer um dos vilões mais imbatíveis das sagas nos quadrinhos da Marvel. Com os estúdios concorrentes estabelecendo suas franquias de super-heróis cada vez mais intrínsecas, a Fox hoje não parece disposta a encerrar novamente mais um arco dos pupilos do Prof. Xavier; a intenção é prosseguir mesmo com os acertos e falhas de seus oitos filmes lançados desde 2000 (incluindo aí os dois longas solo de Wolverine e Deadpool). E se foi Bryan Singer que impulsionou a jornada dos mutantes no cinema, o diretor mais uma vez se permite explorar tal universo ao qual tanto se apegou e entrega um filme divertido e grandioso, ao custo de vulnerabilidades e desgastes de sua narrativa.



Sem viagens no tempo desta vez, a não ser por alguns pares de flashbacks, o ano de 1983 de X-Men: Apocalipse não poderia ser menos do que uma explosão cultural. São tempos onde os mutantes, revelados ao mundo uma década antes, praticamente são bem vistos pela sociedade, com os jovens do Ocidente estudando de tais incidentes em sala de aula e consumindo cultura pop em shopping malls, seja por músicas ou filmes. Nos subterrâneos de uma decadente Cairo, no Egito, um culto secreto procura ressuscitar aquele que seria o primeiro mutante da Terra, En Sabah Nur/Apocalipse (Oscar Isaac), soterrado há milênios após um golpe de conspiradores (por sinal, uma sequência de abertura fenomenal que fica ainda melhor em 3D). O abalo causado pelo despertar daquele que outrora era considerado um deus atinge todos os cantos do mundo, seja no Cairo, Nova York ou em redutos da Alemanha Oriental e da Polônia, alarmando Charles Xavier (James McAvoy), que sempre acreditou no convívio pacífico entre humanos e mutantes, algo longe de se concretizar, considerando as intenções atualizadas de Apocalipse e seus novos Quatro Cavaleiros: Magneto (Michael Fassbender), Tempestade (Alexandra Shipp), Psylocke (Olivia Munn) e Anjo (Ben Hardy).


Contestado pelos fãs desde as primeiras imagens divulgadas, acaba que o visual de Apocalipse, longe de ser uma caracterização perfeita, é um mero detalhe diante da boa personificação que Oscar Isaac traz ao vilão onipotente. É a sua fala eloquente, quase sedutora, que revigora seus asseclas e os leva a agir seguindo seu discurso que, aliás, se assemelha muito com a motivação de Ultron no segundo Vingadores, que ficou confuso demais em meio a tantas linhas de conversa. Das exposições diárias de líderes políticos e religiosos entre imagens de guerra nos televisores de tubo, Apocalipse se vê no direito de ser o verdadeiro líder global, um deus materializado. Para se reconstruir um mundo ideal, no entanto, é preciso por abaixo o anterior. Tal necessidade de destruição, tanto narrativa quanto como um suposto deleite para os espectadores, faz o filme se exaurir em seu clímax, prejudicando não só o antagonista principal, diminuído a ser um obstáculo difícil de ser superado pelos heróis, mas apresentando cenários e outros elementos em CGI que não são dos mais convincentes, um problema que já era notado desde Primeira Classe.



Assim como em Dias de um Futuro EsquecidoX-Men: Apocalipse fornece outra chance a Bryan Singer para corrigir as personalidades dos mutantes apresentados anteriormente em seus dois primeiros filmes. Enquanto Scott Summers e Jean Grey de James Marsden e Famke Janssen estrearam, respectivamente, como um cara convencido demais e uma mera assistente telepática de Xavier, além de ser um casal pronto para ser desmanchado diante da presença viril de Logan/Wolverine (Hugh Jackman), aqui felizmente ocorre o contrário. A ambientação oitentista do filme permite que Singer e o roteirista/produtor Simon Kinberg abracem a atmosfera descolada dos teen movies da década e introduzam o novo Ciclope de Tye Sheridan de uma forma divertida e que procura construir a futura posição de líder, além de ter mais espaço para ser carismático. Também é reconfortante ver que Sophie Turner se esforça em interpretar uma jovem Jean receosa quanto a dimensão de seus poderes, mas não menos socializável, adquirindo confiança e satisfazendo aqueles que estavam descrendo da garota que encarna uma das personagens menos favoritas de Game Of Thrones.

Insistências a parte em concentrar os holofotes sobre Jennifer Lawrence, apesar da desculpa plausível inserida no roteiro para se usar a aparência natural da atriz como Mística, o acompanhamento das tragédias particulares de cada personagem pode ser uma experiência cansativa, no caso, quando há muito do "mais do mesmo" do que já vimos nos filmes anteriores, algo que suprime a possibilidade de apresentar as figuras inéditas e até mais interessantes. Tome como exemplo, a retomada do arco Arma X no Lago Alkali e até mesmo as lembranças familiares de Magneto/Eric Lensherr, por mais que Fassbender possua uma expressividade sensível quando leva a sério tais arcos dramáticos. É inegável que a sequência na base militar do Coronel Stryker (Josh Helman) tenha uma ação bem conduzida, surpreendendo com alguns relances sangrentos, mas no fundo parece que Singer e Kinberg não querem abrir mão do que já foi projetado na primeira trilogia. É como se, num próximo filme, já estivéssemos subordinados a ver a origem da Vampira, Homem de Gelo e outros conhecidos de novo, desperdiçando o potencial de tantas outras histórias aclamadas dos quadrinhos que aguardam por adaptações decentes.



Das fantásticas passagens com Mercúrio (Evan Peters) e seu desfecho progressivo, além da colorida reconstituição histórica dos objetos cênicos e do figurino, X-Men: Apocalipse surpreende por conseguir equilibrar um drama coerente e um entretenimento autêntico, funcional, ainda que se comprometa em ser um filme com muito mais a mostrar, vide seus cortes narrativos perceptíveis. De uma franquia que ficou defasada e que tenta encontrar sua nova identidade, colocando pra tocar Eurythmics e Metallica, não há mais receios em ter uniformes coloridos. Que os produtores também adentrem a Sala do Perigo e treinem para entregar novos e empolgantes filmes de mutantes nessa boa safra do cinema de super-heróis.




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