sábado, 28 de maio de 2016

Jogo do Dinheiro | CRÍTICA


Para o bem ou para o mal, não há dúvidas de que a televisão continua desempenhando um papel crucial na formação de opinião de uma grande parcela da população, seja no Brasil ou, no caso de Jogo do Dinheiro (Money Monster), nos Estados Unidos. Ancorados por apresentadores(as) de habitual grande carisma, os programas surgem nos televisores de casas e estabelecimentos e difundem as "boas novas" tão passíveis de sensacionalismo e parcialidade – ainda assim, para muitos, o que importa é estar informado. Em mais um trabalho como diretora, por sinal interessantíssimo, Jodie Foster enfatiza o poder da linguagem da televisão enquanto se mostra confiante em apresentar um bom thriller nos tempos da crise financeira, a grande inimiga do homem contemporâneo.


Lee Gates (George Clooney) há anos apresenta o Money Monster, um programa de TV ao vivo que traz análises diárias e até mesmo dicas quentes sobre o mercado de ações de Wall Street; um assunto que fica acessível e dinâmico para qualquer espectador a partir do momento em que Gates coloca vinhetas, faz inúmeras brincadeiras ou ainda solta alguns raps ao lado de duas dançarinas, reforçando o sentimento de ostentação. Convicto de que é uma representação do homem branco americano, bem sucedido e que faz questão de dizer que, desde a década de 1990, não dorme sozinho em sua cama, Lee acaba aproveitando o espaço do programa para falar o que lhe der na telha, muitas vezes escapando do roteiro programado no teleprompter ou das falas enviadas para o seu ponto por Patty Fenn (Julia Roberts, atuando bem), a produtora e diretora do programa que está prestes a se mudar para outra emissora. Por vezes, Gates recomendou aos seus espectadores investirem nas ações da Ibis Clear Capital, comandada por Walt Camby (Dominic West), mas o que acontece quando a mesma apresenta um déficit de US$800 milhões de um dia pro outro, com suas ações valendo menos que 9 dólares (ainda assim, mais do que as atuais cotações da Petrobrás...)? De influente, o apresentador passou a ser cúmplice de uma crise que assolou tantos acionistas e um deles, em específico, pretende recuperar tudo o que perdeu utilizando os piores meios, ciente de que pode não sair vivo ao final.



A partir do momento em que Kyle Budwell (Jack O' Connell) faz sua entrada discreta no estúdio e ameaça a vida de Gates, não é difícil se concentrar na ação perturbadora que invade o cenário deste sequestro televisionado, um mérito de Foster e seu montador Matt Chessé (Guerra Mundial Z). A verdade é escancarada e a transmissão de culpa vai de um lado pro outro: do jovem que decidiu investir precipitadamente toda sua herança ao apresentador que demorou para perceber e confessar os exageros que falou, as lentes das câmeras apontam para a Ibis, cuja chefe de relações públicas (interpretada por Caitriona Balfe) também passa a ver o outro lado da história, ainda mais quando o dono da empresa também se esquiva, culpando o algoritmo da transação. Afinal, é fácil transpor o problema quando é algo virtual, sujeito a panes e qualquer outro tipo de avaria tecnológica, até sentir no próprio bolso.

Além de valorizar o staff técnico audiovisual e a linguagem de movimento de câmeras e enquadramentos que vem a calhar em soluções estratégicas enquanto Gates é ainda um refém, é interessante perceber o quanto Jodie Foster faz questão de ressaltar a importância da mulher no âmbito pessoal e profissional. Da namorada do "bandido", mostrando ser menos dependente do que parece, à executiva que não se deixa levar por assédio moral de outro colega da Ibis que ameaça demiti-la, é na figura da produtora interpretada por Roberts que existe a maior sensação de segurança, a capacidade de colocar tudo em ordem que por vezes não fora reconhecida.


Da quebra de paradigmas da narrativa (com direito a Clooney fazendo uma impagável cara de derrota) a uma trama de repercussão mundial, os roteiristas Jamie Linden, Alan DiFiore & Jim Kouf conseguem prender a atenção do início ao fim, onde Jogo de Dinheiro se torna um filme suntuoso, cercando as ruas de Nova York com tamanha ação policial, deixando as questões econômicas para títulos como A Grande Aposta, por exemplo, fornecer mais explicações sobre essa tal crise. Todavia, existe uma sensação de se obter mais explicações sobre o contexto, ainda mais quando tópicos de manifestações sindicalistas em outro país são brevemente abordadas para se juntar ao mote, mas a causa aqui é pessoal e vale por sua redenção. 

É lamentável, portanto, que cada vez mais as incidências e as notícias do dia-a-dia se tornem cada vez mais rasteiras em meio a tanto acúmulo de informações, existindo mais uma atenção popular para se encontrar algo engraçado e render diversos memes na Internet, distorcendo-se da realidade. A sensação de segurança dada ao espectador acresce a partir do momento em que aquelas "cenas fortes" transmitidas há pouco são substituídas pela próxima e distinta programação do dia.



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