quarta-feira, 24 de agosto de 2022

NÃO! NÃO OLHE! – quanto vale o frame perfeito? | CRÍTICA

Novo filme de Jordan Peele traz uma trama de ficção científica com horror e se torna o longa mais divisivo da carreira do diretor, trazendo muitas discussões sobre a real mensagem do filme.

Jordan Peele é um dos mais prestigiados diretores que iniciaram sua carreira nos anos 2010. Com Corra!, de 2017, ele arrebentou portas em Hollywood, ganhando até o Oscar de Melhor Roteiro Original e indicação a melhor direção, além de muita expectativa para a carreira que se seguiria. Logo dois anos depois veio Nós, excelente filme de terror com as mesmas características de humor do antecessor e novamente um super sucesso de bilheteria e de crítica.

Para Não! Não Olhe! (Nope, no original), muito mistério cercou a produção, desde seu tema inicial, que por muito tempo foi especulado se falaria sobre uma invasão alienígena ou se haveria alguma outra temática que fosse abordada aqui. Até mesmo dentro do filme há muito desenvolvimento para que seja revelado o que de fato é a ameaça.


O filme conta a história dos irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer) que, após uma chuva de objetos aleatórios resultar na morte de seu pai, tentam capturar evidências em vídeo de um OVNI com a ajuda de um funcionário de loja de tecnologia e um documentarista.


 

Essa sinopse traz muito pouco de fato do que o filme conta, pois são inseridos vários detalhes que a princípio não fazem sentido ou que o espectador tenta conectar aos eventos ligados ao OVNI, sendo que as voltas que acabam explicando o que de fato acontece mostram que essas cenas são muito mais longas do que poderiam, ou que tentam explicar coisas que não necessariamente fariam diferença no desenvolvimento da trama principal.

Existem vários pequenos subplots muito divertidos, outros nem tanto, mas que servem para desenvolver as personalidades dos protagonistas e dos personagens que os cercam. Como a primeira filmagem da história ter supostamente um jockey negro montado no cavalo que seria um descendente direto dos protagonistas. O jockey não é real, mas Peele constrói a história como a quer, igual Tarantino nos filmes de época. Além disso, há uma longa e repetitiva incursão no passado de Jupe (Steven Yeun), que testemunhou algo traumático e se acha capaz de dominar a ameaça do filme.

 

Tecnicamente, o filme é incrível, com um design de som muito bom e uma fotografia de planos super  abertos que realçam o tamanho da ameaça que os protagonistas tem que enfrentar.

Para além dos aspectos técnicos, a grande sacada do filme é que o plano não é derrotar a ameaça, mas sim conseguir filmá-la, para poder lucrar com isso, o que torna todo o objetivo principal do filme em buscar o plano perfeito. Isso dialoga com muito com a nossa sociedade atual, que está muito mais preocupada na repercussão e no mérito próprio do que de fato documentar algo.

Não! Não Olhe! parece um filme muito mais complexo do que é por conta da sua montagem intercalada de vários momentos distintos aplicados no longa, mas ao final se mostra uma obra com uma mensagem bem acessível, com cada personagem utilizando-se do espetáculo para poder vencer traumas e lutar por reconhecimento.

Mais uma vez, é difícil sair imune da experiência de um filme de Jordan Peele.




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