Toda a vez em que uma produção de sucesso se empreende no desenvolvimento de uma continuação, é habitual ver a expansão de sua mitologia realçando o que funcionou ao passo em que apresenta novos elementos na trama. Sendo assim, a segunda parte de Um Lugar Silencioso não só comprova esse raciocínio e retoma a agonia do espectador em prender até mesmo a própria respiração no ímpeto de evitar qualquer ruído tal como na narrativa, mas por evidenciar que o ator John Krasinski agora esbanja segurança e criatividade na direção.
Segundo Emily Blunt, o personagem de Murphy "é fechado, não tem vontade de ajudar". Tais características vêm a ser confrontadas ao longo da narrativa. (© Paramount Pictures/Divulgação) |
Daí a entrada de Cillian Murphy. Ator conhecido por retratar tipos tão dúbios (senão traiçoeiros), Emmett é um amigo da família, mas o que se vê é um sujeito terrivelmente ferido por suas perdas e indisposto a compartilhar. A solidariedade, então comum ao ser humano, se torna algo em extinção ou ainda há esperança?
Ao investir em acontecimentos paralelos, a narrativa de Krasinski é certeira nesse aspecto, ainda mais quando o terror é amplificado pela montagem no acompanhamento quase que simultâneo dos acontecimentos. Jump scares retornam fulminantes, tal como a impecável e premiada edição de som que intensifica qualquer ruído dos cenários. Novamente, é uma pena que a trilha de Marco Beltrami entenda que é preciso reforçar tais sensações com músicas barulhentas.
Com uma pegada bastante próxima aos dos cultuados jogos The Last Of Us, quem se destaca de verdade aqui é Millicent Simmonds. Contracenando brilhantemente com Noah Jupe e Cillian Murphy, a representação da deficiência auditiva e o uso da língua de sinais ganham maior importância narrativa e a personagem da jovem atriz se prova a verdadeira força deste segundo filme. É Regan que detém a inteligência aliada a esperança e comprova ser a mais corajosa logo quando o senso-comum leva a tanto a entender que seria menos incapaz. Todas as suas cenas não são menos que ótimas.
A dupla formada por Millicent Simmonds e Cillian Murphy precisa unir forças para enfrentrar perigos nem sempre alienígenas. (© Paramount Pictures/Divulgação) |
Embora cometa o equívoco de sugerir mortes tão brutais a personagens negros na tela e que ainda se mostre hesitante a se desvencilhar de alguns clichês do gênero (ok, nada precisa ser 100% inovador…), Um Lugar Silencioso - Parte II é, definitivamente, superior ao seu filme antecessor. Ganhando acidentalmente um significado a mais na representação de pessoas que perderam entes queridos para uma ameaça distante de um controle passados 16 meses desde sua data prevista de estreia, o filme é, além de suas competentes sequências de ação e de um competente exercício sobre o silêncio cinematográfico, uma história sobre ter alguém por quem ter motivos para resistir e sobreviver.
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