terça-feira, 20 de abril de 2021

Mostra gratuita exibe 75 filmes brasileiros da última década

Marjorie Estiano em AS BOAS MANEIRAS, de Juliana Rojas e Marco Dutra

Terceira parte de uma retrospectiva que começou em 2001 (referente ao cinema dos anos 90) e seguiu em 2011 (os anos 2000), CINEMA BRASILEIRO: ANOS 2010, 10 OLHARES resgata parte significativa da filmografia nacional da última década que contou com uma produção múltipla. 

Serão exibidos, ao todo, 75 filmes (43 longas e 28 curtas) e 10 debates. A mostra é produzida pela CUP FILMES, e financiado através da Lei de Emergência Cultural Proac Expresso Lab (Lei Aldir Blanc). Além dos curtas e longas, o festival contará com debates gravados entre os curadores e curadoras de cada segmento e mais dois especialistas nos temas, que discorrerão sobre as obras e o conceito trazido pelo curador para rever a década.

Com idealização do curador Eduardo Valente, a mostra, reflete sobre as linhas de força presentes na produção nacional dos últimos dez anos, permitindo muitas vezes ao atentar para o que veio antes, talvez, conseguir também olhar para um futuro. E é dividido em 10 olhares de 10 curadores diferentes, veja abaixo:


Cachoeira Doc: Desaguar em cinema: retomar territórios invadidos



O movimento observado no traçado desenhado pelos filmes reunidos, nesse segmento, antes de divisor é desaguar: confluência contra fronteiras erguidas por invasões e expropriações – de terras, corpos, povos, vidas, imaginários –, fronteiras fincadas em nome de um Brasil por cima de todos. É, portanto, de um cinema contra a Nação, e não de um cinema nacional, que se trata aqui, por meio dessa pequena coleção de filmes documentais surgidos nesta última década, e reunidos por fluxos sutis de conexão. Se o documentário é o cinema que toma para si a tarefa de empurrar as fronteiras do visível, estes longas e curtas lançam-se nas geografias - do tempo e do espaço –, em operações de retomada: do próprio corpo e desejo, das cidades, das imagens, da história e da terra.


Longas:
  • Martírio, de Vincent Carelli
  • Retratos de identificação, de Anita Leandro
  • Ressurgentes: um filme de ação direta, de Dácia Ibiapina
  • A cidade é uma só, de Adirley Queirós

Curtas:
  • Bicicletas de Nhanderú, de Ariel Duarte Ortega, Patricia Ferreira (Keretxu)
  • Eu, Travesti?, de Leandro Santos
  • Travessia, de Safira Moreira
  • Relatos Tecnopobres, de João Batista Silva

Carol Almeida: A cidade e as brechas ocupadas

Esse Amor Que Nos Consome (2012), de Allan Ribeiro e Douglas Soares

O cinema brasileiro produzido durante os anos 2010 esteve muito atento a questões sobre o direito à cidade, e fez esse debate se mover em imagem a partir de filmes muito distintos em suas propostas formais. Pensando mais especificamente sobre alguns corpos queers que se recusam de forma mais enfática a se adaptarem à arquitetura de segregação dos grandes projetos urbanos e quais espaços de existência que esses corpos conseguem criar, o recorte "A cidade e as brechas ocupadas" agrega filmes que buscam, por um gesto de recusa, um modelo de vida de algumas cidades e simultaneamente de fabulação e criação de desejo dentro das rachaduras que surgem nos blocos de concreto.

Longas:
  • Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro e Douglas Soares
  • Nova Dubai, de Gustavo Vinagre
  • Batguano, de Tavinho Teixeira
  • Temor Iê, de Elena Meirelles e Lívia de Paiva

Curtas:
  • A maldição Tropical, de Luisa Marques, Darks Miranda
  • Estamos todos aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim
  • Quebramar, de Cris Lyra
  • A felicidade delas, de Carol Rodrigues

Cleber Eduardo: Espaços concretos de vidas em cinema

Diz A Ela Que Me Viu Chorar (2019), de Maíra Bühler

Esse segmento enfatiza uma linha de força de um grupo de filmes da última década e meia que conecta os modos de vidas de seus personagens com os espaços geográficos/sociais de suas vivências, amalgamando as vidas das pessoas fora da tela e das personagens na tela, sem deixar de haver jogo e criação para os filmes, reelaboração da vida cotidiana por dentro da vida em cinema, tensionando a autenticidade de corpos, espaços e falas com a elaboração cinematográfica, sem ter de firmar pacto com a ficção ou com o documentário, muito pelo contrário.

Longas:
  • A vizinhança do tigre, de Affonso Uchôa
  • Baronesa, de Juliana Antunes
  • Diz a ela que me viu chorar, de Maíra Bühler
  • Um filme de verão, de Jo Serfaty

Curtas:
  • Um filme para um poeta cego, de Gustavo Vinagre
  • Chico, de Irmãos Carvalho
  • Estado itinerante, de Ana Carolina Soares
  • Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides, de Gabriel Martins

Erly Vieira Jr: De corpo a corpo - personagens transbordantes, espectadorxs desejantes

Praia do Futuro (2014), de Karim Aïnouz

Esse conjunto de filmes explora algumas das diferentes estratégias de engajamento sensório que parte da produção LGBTQIA+/Queer brasileira da última década utiliza para falar diretamente aos corpos de espectadores. Há desde a dimensão coreográfica/ performática presente na mise-en-scène, até o uso de uma visualidade ‘háptica’ (que remete ao tátil), promovida por uma câmera que muitas vezes funciona como um corpo que também é afetado por aquilo que registra. Também se pode incluir aqui o diálogo entre diversos gêneros audiovisuais e hibridismos com outras linguagens contemporâneas, bem como formas de se explorar as relações nem sempre conciliatórias entre corpos dissidentes em termos de gênero e sexualidade e os espaços que habitam.

Longas:
  • Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano
  • Praia do Futuro, de Karim Aïnouz
  • As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra
  • Meu nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza

Curtas:
  • Perifericu, Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira
  • Minha história é outra, de Mariana Campos
  • Peixe, de Yasmin Guimarães
  • Latifúndio, de Érica Sarmet

Heitor Augusto: O corpo, novamente

A Batalha do Passinho (2012), de Emilio Domingos

Reconhecendo o crescimento exponencial de realizadores e realizadoras não-brancas no cinema brasileiro ao longo da última década, esse recorte propõe uma costura na qual o corpo, particularmente o negro, é presença. Esse segmento reúne quatro filmes de realizadores negros, dois codirigidos por pessoas negras e um por um realizador não-branco. Além de trazer oito filmes para um lugar mais detalhado de apreciação, este recorte carrega também a intenção de que os filmes aqui exibidos facilitem a aproximação a muitos outros que porventura não integram este programa.

Longas:
  • Vamos fazer um brinde, de Sabrina Rosa e Cavi Borges
  • Baixo centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta
  • A batalha do passinho, de Emilio Domingos
  • Um filme de dança, de Carmen Luz

Curtas:
  • Enquadro, de Lincoln Péricles
  • Morde e Assopra, de Stanley Albano
  • Ponte sobre os abismos, de Aline Motta
  • Tudo que é apertado rasga, de Fabio Rodrigues Filho

Janaína Oliveira: Cotidiano singular

Arábia (2017), de Affonso Uchôa

Na última década o cenário do cinema nacional presenciou a emergência de outros sujeitos na frente e atrás das telas contando suas histórias. Nesses deslocamentos de significados entre centros e margens que essa emergência propicia, vemos surgir obras que rompem com expectativas de representações já cristalizadas em nosso imaginário. Filmes com outros repertórios possíveis para o vivido todos os dias. O segmento traz um conjunto de filmes que dialogam com os cotidianos da vida naquilo que têm de único, mas afetivamente e efetivamente comum.

Longas:
  • Ela volta na quinta, de André Novais Oliveira
  • Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio
  • Arábia, de Affonso Uchôa, João Dumans
  • Casa, de Letícia Simões

Curtas:
  • Outro fogo, de Guilherme Moura Fagundes
  • No caminho com Mário, de Aldo Ferreira, Ariel Ortega, Leo Ortega, Patricia Ferreira e Ralf Ortega
  • Filme de domingo, de Lincoln Péricles
  • Movimento, de Gabriel Martins

Kênia Freitas: Movimentos Fabulares

O Que Se Move (2013), de Caetano Gotardo

Esse segmento, apoia-se em dois aspectos basilares na sua proposição de olhar sobre os filmes da década de 2010. O primeiro é a ideia do movimento (dança/gesto/performance) como criador de fabulação nos filmes. O segundo aspecto é de pensar uma inflexão da década situada em 2015 (como um marco temporal simbólico): o movimento de um cinema (e recepção crítica) com linhas de força mais calcadas nas encenações realistas/naturalistas e perspectivas universais/totalizantes para um cinema mais aberto às possibilidades especulativas//experimentais e marcado muitas vezes pela auto-inscrição localizada.

Longas:
  • O que se move, de Caetano Gotardo
  • Brasil S/A, de Marcelo Pedroso
  • Yãmîyhex: As Mulheres-Espírito, de Sueli Maxakali e Isael Maxakali
  • Vaga Carne, de Grace Passô e Ricardo Alves Jr

Curtas:
  • Para todas as moças, de Castiel Vitorino Brasileiro
  • Kbela, de Yasmin Thayná
  • Elekô, de Mulheres de Pedra
  • Negrum3, de Diego Paulino

Leonardo Bonfim: Era uma vez, era outra vez…

Garoto (2015), de Julio Bressane

O foco principal aqui é pensar como um traço marcante do cinema contemporâneo – a ideia de que um filme pode recomeçar ao longo da projeção – foi abordado por longas brasileiros na última década. Dentro desse recorte, colocaremos em diálogo obras que se desdobram em duas ou mais partes, num jogo de variações e metamorfoses, e obras que aventuram a possibilidade da coexistência – nem sempre tranquila – de muitos filmes dentro de um mesmo filme.

Longas:
  • A cidade e os piratas, de Otto Guerra
  • Garoto, de Julio Bressane
  • Os dias com ele, de Maria Clara Escobar
  • António um dois três, de Leonardo Mouramateus
  • Luz nos trópicos, Paula Gaitán

Pedro Azevedo: O mundo em desencanto

O critério inicial para definir esse recorte foi territorial. Trata de se mergulhar na produção nordestina e cearense da década de 2010, entendendo-a como uma parte bastante expressiva da cinematografia brasileira contemporânea, que vem ganhando cada vez mais espaço de exibição e debate no circuito de festivais nacionais e internacionais, além de infiltrar-se progressivamente no circuito exibidor de salas comerciais. Não se trata, contudo, de reafirmar a força do cinema produzido no nordeste como um gesto esvaziado de sentido, fadado à esterilidade da boa intenção, mas de propor uma via livre de acesso a filmes de artistas nordestinos que, quando pensados, exibidos, assistidos em conjunto, possam traduzir uma série de ideias complexas sobre questões que atravessam e transcendem a experiência de ser nordestino num Brasil cujas fronteiras apontam para a formação de um estado-nação que se desenha como ficção pura.

Longas:
  • Medo do escuro, de Ivo Lopes Araújo
  • Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes
  • A seita, André Antônio
  • Sol alegria, Tavinho Teixeira, Mariah Teixeira
  • Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros

Rafael Parrode: Desvios do contemporâneo

Já visto, Jamais Visto (2014), de Andrea Tonacci

Ao nos locomovemos por destroços e ruínas de um passado recente, é preciso também partir de uma autocrítica, buscando compreender em que medida o cinema brasileiro se adequou a estilos, modelos de produção e difusão, e até que ponto vínculo permanecerá de pé diante do caos que se afirma. Nessa perspectiva, em que medida seremos reféns ao invés de operadores de novas estéticas emergentes, desvinculadas de um desejo de adequação do cinema brasileiro? A década passada viu muitos filmes que moldavam-se a um padrão internacional. São filmes facilmente encaixáveis em chaves ou tendências totalizantes do cinema mundial. Não se trata aqui da imposição de uma ideia de ‘novidade’, mas de tensionar as novas formas a partir deste arcabouço histórico. Investigar essas formas do cinema que agora já pertence ao passado é também um meio de compreender as amarras e enfrentamentos que precisamos lidar hoje.


Longas:
  • Já visto, jamais visto, de Andrea Tonacci
  • Tava, a casa de pedra, de Vicent Carelli, Patricia Ferrreira (Keretxu), Ariel Duarte Ortega, Ernesto Ignacio de Carvalho
  • Vermelha, de Getúlio Ribeiro
  • Guerra do Paraguay, de Luiz Rosemberg Filho
  • Filme de aborto, de Lincoln Péricles


O festival acontece no website www.10olhares.com, ou direto na plataforma do BELAS ARTES À LA CARTE de 22 a 30 de abril, e é totalmente gratuito. 



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