quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Torre Negra | CRÍTICA


Desde seus primeiros anos de carreira, Stephen King já chamava a atenção de Hollywood com seus potenciais livros de suspense, de terror e de ficção científica que não tardaram em serem adaptados para o cinema por talentosos diretores que não apenas somaram com sua inigualáveis estéticas como alçaram os filmes a clássicos consagrados. Entre décadas de novos lançamentos nas prateleiras, o universo literário do autor resistiu a modismos e fenômenos de best-sellers enquanto suas obras ganhavam produções inéditas ou remakes prontos para os fãs botarem defeito ao passo em que uma de suas obras mais ambiciosas, conhecida como a série "A Torre Negra", por anos encontrou impasses para a sua greenlit e era comumente taxada de inadaptável tanto por executivos, como pelo próprio escritor. 


Depois de os direitos da obra terem passado pelas mãos de J.J. Abrams e Damon Lindelof (responsáveis pela série Lost na época), daí para Ron Howard e para o roteirista Akiva Goldsman, ainda parece irreal o fato de que A Torre Negra encontrou seu caminho nos cinemas e mantém seus planos para emigrar para uma série televisiva. Para a Sony Pictures, Goldsman (Transformers: O Último Cavaleiro, O Chamado 3) e os co-roteiristas Jeff Pinkner (A 5ª Onda, O Espetacular Homem-Aranha 2), Anders Thomas Jensen (Entre Irmãos), além do diretor Nikolaj Arcel (da versão sueca de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) parecia necessário chegar a um consenso a favor de uma narrativa compreensível e interessante o suficiente ao público e, o mais importante, com um orçamento nada estrondoso. A partir daí, a solução era cortar praticamente todo o misticismo, a mitologia atemporal e os incidentes espaçados comuns entre os sete volumes visando uma história que vai direto ao ponto e privilegia a ação acima de tudo, sem se esquecer de trazer os elementos cruciais do primeiro livro, seus personagens e até mesmo referências a demais filmes baseados nas obras do autor, como O Iluminado, IT, Christine entre outros detalhes que, inseridos discretamente ou não, frisam que tudo o que foi escrito por Stephen King pertence ao mesmo universo interligado pela Torre Negra no vasto Mundo Médio.


A trama segue uma estrutura simples que lhe é benéfica ao contar sua versão da eterna luta entre o Bem e o Mal e que não se delonga em apresentar seu problema: em uma dimensão paralela, O Homem de Preto (Matthew McConaughey) e estranhos asseclas que se disfarçam com peles humanas se empenham no rapto de crianças que possuem o Toque (ou The Shine, no original), uma habilidade rara que, convertida em energia, é a única capaz de destruir a Torre que garante o equilíbrio e mantém as trevas afastadas dos mundos. O que leva a Jake Chambers (Tom Taylor), um jovem de Nova York atormentado por sonhos e pesadelos envolvendo datas, pessoas e números os quais ele nunca viu até então, transcrevendo tudo isso em ilustrações e rabiscos de traços compulsivos, algo a servir de mote para o antipático padrasto que quer colocar Jake numa clínica psiquiátrica bem longe dali. Seguindo as coordenadas transcritas, o garoto vai parar no distante Mundo Médio onde, entre perigos inesperados, acaba encontrando Roland Deschain (Idris Elba), o Último Pistoleiro capaz de impedir O Homem de Preto na conclusão de seu nefasto plano.



Das inúmeras diferenças notadas entre livro e filme, embora predominantemente compreensíveis e contrariando aquela errônea atmosfera carregada de Assassin's Creed, A Torre Negra detém uma bem-vinda mescla de gêneros que transita da aventura para o terror e adiciona seus toques de suspense em meio a um bom humor quando necessário, isso quando o ritmo apressado pelo anormal corte de 95 minutos dá chance a todos os incidentes e elementos se desenvolverem como esperado. Todavia bem escalados, o trio principal fica refém de motivações superficiais que se repetem claudicantes e que dificilmente se tornam críveis em meio a tanta fantasia resumida, o que não quer dizer que toda a destreza de Roland em carregar suas pistolas e dar seus tiros certeiros seja enfadonha, assim como os poderes d'O Homem de Preto, com Matthew McConaughey fazendo o possível para que seus comandos verbais não caiam no ridículo. Passando bem menos tempo do que o esperado no Mundo Médio, há uma bela seleção de locações naturais que incrementam o misticismo raro da produção e o design de produção faz o possível para traçar algo de original tendo em vista o tanto de produções congêneres que estrearam nos últimos tempos; ainda assim, e para a sua curta projeção, o filme carece de momentos emblemáticos tal como uma Carrie banhada em tinta vermelha ou qualquer plano enquadrado por Stanley Kubrick naquele inóspito hotel.

Mirando no público infanto-juvenil acostumado a produções semelhantes onde mandam os efeitos visuais de sobra, o longa em si é uma adaptação honesta diante de sua fonte, mas é evidente que foi erguida sobre uma zona de segurança e que evita ao máximo os riscos criativos, logo quando eles são seus melhores momentos – as cenas de sonhos e boa parte das sequências no Mundo-Médio dão conta do recado. Ponderando seu equilíbrio de erros e acertos, seu possível futuro promissor (preferencialmente, por gente que filme com olho, cabeça e coração) e todo o alto status ao redor dos livros, chega a ser estranho notar o que um dia era influenciador de tantos contadores de histórias, acabou como influenciável. Logo, quando tinha tudo pra ser um épico distinto aos moldes de Mad Max, A Torre Negra está mais próximo de um Maze Runner ou Stranger Things do que o esperado, e isso significa que, embora divertido, não deixe de ser mais um produto de entretenimento genérico.




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