sábado, 4 de junho de 2016

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos | CRÍTICA


Para quem tem devoção ao cinema de fantasia impulsionado por Harry Potter e O Senhor dos Anéis, a despedida agridoce do terceiro O Hobbit foi logo reconfortada com as notícias de que o aclamado e igualmente fantasioso jogo World Of Warcraft ganharia seu primeiro longa-metragem sob os cuidados da Universal Pictures e supervisado pela própria desenvolvedora, a Blizzard Entertainment. Na prova de tentar ser igualmente grandioso, neste aspecto, Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos revela ser repleto de várias tomadas épicas de batalhas, além de criaturas e elementos mitológicos com visuais caprichados para o deleite de qualquer fã e gamer. É em seu desafio essencial, aquele de superar o estigma de que filmes baseados em games são ruins, que o título se compromete em uma narrativa pouco aprofundada, não satisfazendo aqueles dispostos por um bom divertimento extra fabuloso.


Escrito por Charles Leavitt (No Coração do Mar, O Sétimo Filho) e Duncan Jones, que também dirige, em Warcraft não há espaço para o maniqueísmo, ainda que bem longe de ser o que Game Of Thrones um dia foi. Há heróis e vilões em ambas as partes. Draenor, o mundo dos Orcs, está comprometido e o feiticeiro Gul'dan (Daniel Wu) conjura o Portal Negro utilizando a Vileza para transportar sua Horda para Azeroth, um mundo compartilhado por Homens, Anões, Elfos e Magos. Entre orcs tão repugnantes e guerreiros, existem aqueles do Clã Lobo do Gelo, que seguem a conduta de não fazer vítimas inocentes, chefiados por Durotan (Toby Kebbell), um respeitado líder que se mostra avesso às ações nefastas de Gul'dan. No entanto, o mais novo pai de família-orc não possui influência o suficiente para derrubar o tirano.



Do lado dos humanos, a notícia de que uma ameaça desconhecida tem derrotado várias guardas do reino de Azeroth chega ao conhecimento de Lothar (Travis Fimmel) e de Hadggar (Ben Shnetzer), um jovem mago que renunciou seus votos, apesar de não dispensar suas habilidades mágicas. Com a permissão do Rei Llane (Dominic Cooper e uma peruca forçada), o guerreiro e o jovem partem ao encontro do recluso Guardião de Azeroth, o também mago Medivh (Ben Foster), talvez o único capaz de derrotar a Vileza. Enquanto a trama voa pelo mapa de Azeroth com seus temas razoavelmente estabelecidos, dispensando longas apresentações (que viriam a calhar, afinal), além de acompanhar com uma câmera a pino o rastro de vilas destruídas pela Horda, não tardam a aparecer os pontos fracos do filme e a um custo caro para a empatia do público. 

Quando tinha tudo para ser a personagem mais interessante do filme, justamente por seu caráter (que deveria ser) dúbio e por ser a conexão entre as forças rivais, acaba que a mestiça Garona (Paula Patton) se mostra um dos maiores problemas de Warcraft. A todo o momento em que a ex-escrava de Gul'dan aparece em cena, existe uma sensação confusa de que há um excesso de confiança sobre a meio-orquisa, recebida de braços abertos até demais pelos humanos. Não só pela parceria que ela acaba estabelecendo com o Rei Llane, mas pela esposa deste (interpretada por Ruth Negga, sem relevância comprovada) e isso tudo se agrava quando é sugerido um vergonhoso romance com Lothar após uma das circunstâncias mais pesarosas ao personagem. 


É evidente também o descuido de Jones com a direção de elenco, a ponto de deixar seu elenco transparecer feições incoerentes com o que se pede nas cenas de maior intensidade dramática, dificultando o apontamento de uma atuação de destaque no grupo em geral, visto que até mesmo o trabalho do elenco dedicado aos orcs parece irrelevante quando seus movimentos e vozes se comportam com pouquíssima distinção uma vez transpostos para seus corpos criados digitalmente. Por outro lado, Warcraft não carece tanto de humor e o diretor acerta nas passagens (a contar nos dedos) que funcionam por sua imprevisibilidade cômica, algo que seria bem-vindo mesmo em demasia.

Se as lutas empolgam brevemente por sua novidade e dinâmica (excetuando a atrapalhada batalha final) e que, ao meu ver, o arco dos magos seja o mais interessante tanto pelo seu visual e como trama, chega a ser intrigante os motivos pelos quais o resultado final de Warcraft decepciona, mesmo se portando ambicioso considerando os figurinos e demais elementos cênicos tão vistosos. Da falta de carisma do elenco e dos batalhões que parecem ter nenhum senso estratégico, a ânsia do estúdio em querer lançar o título com uma duração comercial prejudica toda a experiência daqueles que nunca dedicaram várias horas à aventura virtual, se impressionando apenas com a estética do longa, que no fim lembra mais uma compilação de cutscenes do game onde a história em si corre mesmo durante a sua jogabilidade.

Em tempos onde mais e mais games ganham notoriedade por seus roteiros surpreendentes e seu acabamento "cinematográfico", deixando o chamariz de "gráficos estonteantes" em segundo plano, e até mesmo novos filmes inspirados em jogos se encaminham para ter mais do que fidelidade ao seu material de origem. Mais parece que toda a essência instigante de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos foi drenada pela própria Vileza.




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