sábado, 11 de junho de 2016

Homo Sapiens | CRÍTICA (5º Olhar de Cinema)


Um mosaico de pastilhas em ruínas forma o que parecem ser figuras religiosas. Não só este é o primeiro plano de Homo Sapiens, filme integrante da Mostra Outros Olhares dirigido pelo austríaco Nikolaus Geyrhalter, como um longo ponto de partida para uma jornada de descoberta sobre o grande legado da raça humana ao seu planeta após alguns séculos de ode ao consumo estimulada pelas revoluções industriais. Enquanto a vastidão dos planos se expande gradualmente a cada locação, não tardam para as reflexões nos alcançarem nessa lenta contemplatividade.


Abraçando a beleza peculiar da distopia, as imagens capturadas por Geyrhalter e apresentadas em pouco mais de 90 minutos de projeção não poderiam ser menos convidativas para uma mente criativa aficionada por obras de ficção com o tema abordado, seja no cinema ou em outros meios, como o ótimo jogo The Last Of Us. Estão ali todos os elementos característicos do que se espera de algo que trata do fim do "mundo": as lojas de conveniência saqueadas (por outro lado, sobram mercadorias...), os escritórios com papelada voando e computadores há muito quebrados no chão, hospitais revirados, além de locais de entretenimento abandonados, a câmera sai do perímetro urbano e explora o interior, a mata e o polo industrial desse grande perímetro desolado no Japão.

Pouco a pouco, a natureza vai mudando conforme as estações, avançando com suas raízes, tempestades de areia e nevascas, derrubando pontes e retomando seu devido espaço que outrora sofreu grosseiras intervenções, e com as ondas do mar numa longa peleja contra as muralhas da intrincada ilha Gunkanjima. Não há, portanto, qualquer chance de positivismo aqui e, como o som ressalta, está tudo às moscas.

Mais extenso do que deveria, seria maldade dizer que, olhando para os vários planos gerais focados e com linhas perspectivas sob a luz natural, Homo Sapiens mais parece um longo vídeo demonstrativo de um televisor de alta definição colocado à venda, sempre passando vívidas e belas imagens registradas do cotidiano a fim de conquistar mais um consumidor, que pouco parece interessado em saber o destino do descarte de seu consumo. Ao querer expor a ânsia da humanidade, ausente no filme, em querer evoluir e acumular demais, preservando menos ou nada, Geyrhalter coloca em pauta este inconveniente pensamento que precisa ser levado a sério enquanto há tempo.



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