quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Aliança do Crime | CRÍTICA


Seja em Nova York, Chicago ou Boston, os irlandeses sempre disputaram contra os carcamanos para obter mais território e assim controlar várias partes de suas cidades, garantindo maior lucro no tráfico de drogas e até em outros tipos de subornos. O cinema hollywoodiano, obviamente, não iria deixar passar as trágicas histórias envolvendo os chefões do crime, sejam elas reais ou não, e gerar bons dramas dignos de premiações. Em Aliança do Crime (Black Mass), pretensão não falta, mas se esquece de lidar com as consequências de suas ações.

Em meados da década de 1970, o FBI passou a aplicar uma determinada força-tarefa a fim de derrubar os mafiosos italianos que tanto tornaram as ruas das cidades em um cenário de matança. Faltavam, porém, evidências suficientes para destronar os carcamanos a qualquer custo e quando o promissor agente John Connolly (Joel Edgerton) revela ter uma certa amizade com James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), seus superiores encontram uma boa oportunidade para a consecução do plano. Mas Jimmy (como assim prefere ser chamado...), com sua feição reptiliana e total observativa, não é nem um pouco ingênuo e vai tirar proveito dessa aliança improvável para seu proveito próprio, agindo nas sombras esparsas de Connolly e também do seu irmão e senador Billy Bulger (Benedict Cumberbatch). De certa forma, tudo para ver os irlandeses no controle.



Montado quase como se fosse uma apertada temporada de True Detective, com seus vários depoimentos posteriores trazendo capangas ligados a Jimmy, é interessante notar como a maioria do elenco de Aliança do Crime, formado por nomes bastante conhecidos do público, entregam atuações boas e afiadas o tempo todo, por mais que o centro das atenções ali seja, claro, Depp e sua caracterização que muitos dizem ser "irreconhecível". Mostrando uma personalidade peculiar principalmente no primeiro ato, "Whitey" é cauteloso e frio, como exemplifica a cena onde dirige comentários ásperos a um dos comparsas sobre a maneira de comer amendoim, mas ao chegar em casa revela ser um sujeito digno de compaixão, demonstrando bondade para com uma senhora no bairro e com sua mãe, perdendo na canastra, além da esposa e o filho único, o qual ensina a se defender (ainda que de um jeito politicamente incorreto) na escola. Um elo de empatia que se perde durante o filme, não por causa das ações exponencialmente cruéis de Jimmy, mas injustamente pelo modo com que o diretor Scott Cooper (que dirigiu o quase-apático Tudo Por Justiça) encaminha as jornadas de vários personagens (boa parte descartada de imediato) num montante de anos e acontecimentos que pouco a pouco ficam menos explorados, sem lidar com suas reações, ilustrando-os apenas com o intuito de conduzir para um final também pouco articulado, marcado também pela fotografia que, em seu relativo bom enclausuramento nos planos, pouco se movimenta e agrega fluidez à história.

Baseado em fatos reais, faltou à Aliança do Crime um tratamento digno das obras do Scorsese, que sempre fortalece as características de seus personagens, por mais canalhas e controversos que sejam, mostrando que tais histórias são dignas de serem contadas no cinema. Ou seja, o caso de Jimmy Bulger é interessante e traz passagens até mesmo divertidas, mas uma meia hora a mais seria bem-vinda para adicionar consistência a trama, que por vezes se sustenta em ações vazias. Pelo menos, serviu para mostrar que, embora limitado talvez pelo roteiro ou pela edição do filme, Johnny Depp sempre foi um exímio ator e prova, mais uma vez, que não está nem um pouco limitado. Muito pelo contrário.



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