sexta-feira, 6 de novembro de 2015

007 Contra Spectre | CRÍTICA


Não é mentira que a era de ouro da espionagem se foi há muito tempo, mas no cinema o subgênero (por assim dizer...) vingou e se modificou com o passar dos anos e, não por menos, 2015 apresentou uma série de filmes com espiões para todos os tipos e gostos. A chegada de Daniel Craig no papel do agente 007 em Casino Royale trouxe ao icônico personagem criado por Ian Fleming uma camada a mais de frieza e brutalidade somada a tradicional elegância e habilidades do personagem, mas sua "licença para matar" lhe traria um alto preço: estar sozinho e cercado pela morte. Em 007 Contra Spectre, o lado pessoal fala mais alto quando salvar o mundo se torna uma coisa obsoleta.


Assim como Missão: Impossível - Nação Secreta, os programas de agentes secretos estão a um passo de serem desativados e, em Londres, o MI6 corre o risco de sofrer drásticas alterações, considerando que a agência já estava em crise desde 007 - Operação Skyfall. Além das baixas consecutivas de agentes mortos em campo, e talvez o alto custo das operações, o estrago deixado por Bond na Cidade do México causa uma repercussão mundial que faz com que não só o agente seja suspenso, mas também se acelere o processo de votação do projeto Nove Olhos, um programa de segurança mundial incentivado por Max/C (Andrew Scott, muito limitado), um secretário do governo britânico. Enquanto Mallory/M (Ralph Fiennes) lida com as burocracias e tenta conseguir uma sobrevida para o MI6, James segue sozinho em busca dos vestígios de uma perigosa organização secreta que se mantém presente em lideranças e atentados por todo o mundo.



O último pedido da falecida M (Judi Dench) faz com que Bond tenha em mãos um anel da tal organização e, assim, parte para Roma e lá descobre estar enrascado mais uma vez. Na sua escassez de informações, 007 descobre a cabeça por trás da organização que posteriormente é revelada como a SPECTRE (presente na maioria dos filmes da franquia). A partir daí, presenciamos boas cenas de lutas e tiros, além da divertida e veloz perseguição nas vias romanas que o levam para a região dos Alpes Suíços, reencontrar um antigo vilão e em seguida a filha do mesmo, a bela Madeleine Swann (Léa Seydoux, competente, mas aqui fragilizada). Obviamente, Bond tem muito caminho pela frente e a dupla recém-formada tem até um momento quase-Casablanca no Marrocos, mas Oberhauser (Christoph Waltz) há tempos espera por um (re-)encontro cara-a-cara com o agente e assim tentar concretizar seu plano de, finalmente, derrotar James. Novamente, é tudo muito pessoal.

Escrito pela mesma equipe de roteiristas de Skyfall, em SPECTRE há visíveis conflitos de ideias entre seus 4 escritores, apontados em quase todas as passagens internacionais do agente. Ainda que o caprichado Día de los Muertos seja uma das sequências mais íntegras do filme, com destaque para seu habilidoso plano-sequência do diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema e sua paleta de cores concisa, contando também com alguns alívios cômicos funcionais, é com outras gags, diálogos repetitivos e frases enfraquecidas que essa suavização da tensão prejudica e muito o desenrolar da narrativa, que possui muitas passagens soturnas, mas não quer compartilhar a sensação para seu espectador. As ações das Bond-girls Lucia  (Monica Belucci) e a própria Madeleine são dispersas, submissas, e quando esta profere "Eu te amo" para Bond numa cabine do trem, parece que a moça é uma completa ingênua diante de um homem impassível que se torna mais misógino a cada filme, muito embora havia sensualidade de sobra nas relações com as mulheres em Skyfall



Nesse redemoinho de tramas, chega a ser estranho que Sam Mendes  se coloque num dilema e não disponha de uma linha de raciocínio e de direção apurada quanto no seu trabalho antecessor. Um detalhe positivo: o diretor se mostra cada vez mais competente em cenas de ação, sujeito a apresentar alguns excessos entre uma cena ou outra (vide as piruetas do helicóptero). Destaque também para a cena quase silenciosa em que Belucci, centralizada no plano, está diante de uma piscina, permanecendo uma tensão obtida pelo uso de foco mínimo da câmera de Van Hoytema.

Apresentando seu vilão com sua entonação cômica e com o sorriso de sempre, Christoph Waltz infeliz e definitivamente prova que já gastou todas as suas possibilidades em criar antagonistas para papéis com motivações tão rasas e, no caso, com um pensamento tão imaturo, ficando aquém do trabalho de Javier Bardem e seu perturbador Silva. No lado do MI6, Naomie Harris continua carismática (mesmo com pouco a fazer) e há espaço de sobra para que Ben Whishaw entregue um Q cada vez mais carismático e capaz de partir para a missões, muito embora se atrapalhe como todo bom geek. Até Ralph Fiennes aguenta as pontas fazendo a parte chata (ou melhor, burocrática) da ocasião de seu papel, aparentemente ávido para entrar em combate também.

Entre constantes e breves homenagens a elementos de Bonds anteriores (facilmente datados) e ligações com toda a jornada do Bond/Craig desde Casino Royale, o ator cumpriu muito bem o seu dever, fazendo-nos finalmente a acreditar num personagem verossímil e não só charmoso, resta saber se há um retorno para Bond-25. Nesta sensação de que precisamos ver um acerto de contas ainda, 007 Contra Spectre é um bom divertimento, mas apenas um vislumbre da potência que deveria ser.



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