Qual o propósito de recontar uma história já apresentada ao público há dez anos? Propor uma atualização da franquia a um público mais jovem, aprofundar-se no desenvolvimento dos personagens ou seguir as tendências do subgênero? O novo Quarteto Fantástico (Fantastic Four) traz um argumento interessante, mas não consegue manejar seu potencial e se estica num filme conturbado e pouco divertido.
Desta vez, não há viagens ao espaço, tampouco se vê o prazer em adquirir super-poderes. O time formado por Reed Richards (Miles Teller), Ben Grimm (Jamie Bell), Johnny (Michael B. Jordan) e Sue Storm (Kate Mara) vai se meter numa viagem interdimensional a partir de uma engenhosa máquina que reuniu os mais diversos cientistas (incluindo o gênio adolescente, Reed) sob a tutela do visionário e bondoso Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey, a melhor entonação de voz no filme!). E essa máquina teve seu projeto iniciado há um certo tempo, quando Reed (ainda garoto) não se contentava em apresentar vulcões em feiras de ciências e já tentava teletransportar carrinhos. O êxito veio aos poucos, graças à amizade com Ben, e aí o diretor Josh Trank resgata o prazeroso espírito da amizade já visto em seu Poder Sem Limites em um primeiro ato bastante dinâmico, senão a melhor parte do filme.
Se Richards e Grimm conseguem ser chamativos e empáticos, talvez pelo roteiro escrito e reescrito que sugere um pano de fundo familiar pouco cativante e feliz, os irmãos Storm surgem apagados e quase passam despercebidos tamanha falta de atenção na composição de seus personagens. E o que dizer do amargurado Victor Von Doom (Toby Kebbel) que, entre um risinho e uma cara fechada, já demonstra ter aquela cobiça maligna típica de vilão bidimensional? Até parece que querem que o espectador adivinhe coisas nas entrelinhas, mas nem os "mínimos detalhes" ou referências externas estão por ali.
Uma vez que a descoberta das novas habilidades no filme anterior de Trank, e até mesmo no colorido Quarteto Fantástico de 2005, era trabalhada com temor e entretenimento ao mesmo tempo, aqui tudo é visto praticamente como uma anomalia e, posteriormente, com breves fins militares. Pra piorar, os planos em que os personagens são afetados pela energia alienígena são registrados de forma confusa, apressada, e tudo isso fica mais agravante nas sequências das lutas de seu atrapalhado terceiro ato. Tudo resolvido com pouco ou nenhum impacto dramático, sem contar uns pares de diálogos sofríveis e as combinações das habilidades pouco eficientes, deterioradas por efeitos visuais medianos e uma fotografia escurecida que pouco colabora com os movimentos dos heróis.
É em seu lado gore, no entanto, que o novo Quarteto se destaca e tem algumas passagens memoráveis. Seja pelo estiramento quase asqueroso do Sr. Fantástico ou a chegada realmente impactante do Dr. Destino (vesgo), é o Coisa que tem um momento quase brilhante quando, recém transformado, pede por socorro. São conceitos fortes, distintos da média dos filmes do tipo, porém incongruentes neste embaralhamento do produtor e roteirista Simon Kinberg que, no meio desta viagem interdimensional, ficou sem um rumo narrativo coerente e preferiu entregar uma versão sisuda.
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