quinta-feira, 28 de maio de 2015

Promessas de Guerra | CRÍTICA


Russel Crowe tem uma carreira marcada por grandes atuações em dramas e épicos. Não por menos, em sua estreia como diretor em Promessas de Guerra (The Water Diviner), Crowe tenta fazer bonito num drama pós-guerra, ousando ser autoral. Uma pena, no entanto, que uma produção tão ambiciosa como essa fosse comprometida por um roteiro e uma direção com mania de grandeza.

No interior da Austrália, Connor (Crowe) e sua definhante esposa vivem uma vida pacata que se resume a fazer poços de água, limpar botas e lamentar a perda dos três filhos na Primeira Guerra Mundial em solo turco. Acatando o desejo final da esposa, Connor parte para a Turquia e lá encontra uma perseverante resistência contra qualquer invasor de língua inglesa, assim como dificuldades para chegar a Galípoli, o desolado campo onde seus filhos aparentemente foram mortos. Ao conhecer o estridente garoto Orhan (Dylan Giorgiades) e sua reclusa mãe Ayshe (Olga Kurylenko) no hotel onde se hospeda, logo a expedição de Connor encontraria um caminho árido e tumultuoso, fazendo inimizades, mas sem deixar de ter ao seu lado novos amigos e descobrir que sua estadia por ali se estenderá mais do que o previsto.



Em aspectos técnicos, Promessas de Guerra chama a atenção por sua fotografia dirigida pelo finado Andrew Lesnie (O Senhor dos Anéis), revelando imagens sempre vivas de cores, estimulando a sensualidade típica de uma locação oriental, e também planos emblemáticos realçando as locações intercontinentais, mas a decupagem do diretor não vai muito além disso. Preocupado em criar um signature shot, no caso, um estilo particular de filmar seus planos, Crowe por várias vezes coloca a câmera a pino a fim de oferecer uma visão conclusiva de um acontecimento, como por exemplo, a beleza em mostrar seu personagem maravilhado ao encontrar água no poço cavado e, posteriomente, reforçar a gravidade do estado moribundo dos soldados após o massacre noturno em Galípoli. 

Parecendo um descuido de direção, a repetição desse ângulo de câmera vai se tornando um vício de linguagem, e tais caprichos estéticos acabam comprometendo a direção de atores. Não bastando o inglês falado com o exótico sotaque clichê, os personagens turcos surgem estereotipados e cabe a Olga Kurylenko ficar com a ideia de representar a típica jovem viúva que inicialmente se faz de durona, mas logo cai nos braços do estrangeiro e desafiando os costumes de sua religião. Parece até uma novela da Glória Perez, só que o roteiro de Andrew Knight e Andrew Anastasios consegue ser menos denso e deixa muitas pontas soltas. Até mesmo as ações de Connor, como instintos e visões de detalhes do passado ou futuros, aparecem muitas vezes sem explicações, dando um quê de divindade ao sujeito.


Chega a ser estranho, no entanto, que o andamento final de Promessas de Guerra se apresente completamente diferente do que foi visto no primeiro ato. De uma atmosfera bastante calcada num western revisionado de personagem ressentido, das dimensões épicas das cenas de ação remontando o cinema de Steven Spielberg e até do seu muitas-vezes diretor Ridley Scott, a solução encontrada por Crowe e equipe para amenizar as dores de guerra foi estimular um caso de amor saciável, mas pouco inovador, deixando o amargo café turco com uma demasiada dose de açúcar.




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