quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Grandes Olhos | CRÍTICA


Quando Tim Burton decide sair de seu há muito confortável mundo sombrio, seus filmes podem render ótimas histórias, como Peixe Grande, ou o lisérgico e fraco Alice no País das Maravilhas. Assim como fez em Ed Wood, mas em gritante modo automático, o diretor retorna em cores à Califórnia dos anos 1950 em mais um projeto biográfico, num tempo onde as mulheres começavam a se manifestar por sua expressividade e seus devidos direitos.

Em Grandes Olhos (Big Eyes), a biografada da vez é a pintora Margaret Keane, cujo estilo artístico impulsionou a pop art nos Estados Unidos na metade do século XX, contrariando o arcaico pensamento de que obras de arte eram acessíveis apenas aos ricos, galerias e museus. Só que o sucesso de Margaret demorou pra ser reconhecido, mais pelo fato de ser uma mulher separada num mercado completamente dominado por homens, tendo inclusive que abreviar seu nome ou utilizando o sobrenome do ex-marido, subestimando sua própria força.

Ao conhecer Margaret (Amy Adams), o galante Walter Keane (Christoph Waltz), que alega demorar para começar suas pinturas, incentiva a artista a ganhar mais do que meros trocados fazendo retratos de crianças e, dessa amizade espontânea e sedutora, logo surgiria um pacto entre os dois, pouco tempo depois já casados. Maggie tinha em mãos o talento, enquanto a lábia pra vender ficava ao cargo do seu novo esposo.



Até o casal começar a faturar, mais com cópias baratas impressas dos próprios quadros de Keane do que com as telas originais, acompanhamos um verdadeiro vexame de atuação, dignos de uma novela – das brabas. Narrações de personagens terciários surgem inesperadamente, relatando fatos e quase regendo o andamento da narrativa, mas eles nem têm lá muito desenvolvimento. Waltz, por sua vez, demonstra aquela voz e feições divertidamente persuasivas que tanto o marcaram (e o premiaram) nos filmes de Tarantino, mas nos momentos de surtos escandalosos é que beira o desastre e tudo aquilo parece soar gratuito demais. 



Inexplicável, então, é o desempenho de Amy Adams. Nem sua beleza e carisma conseguem contornar os gestos de menina tímida que tenta firmar seu ideal, mas desiste fácil por motivos maiores, ocorrendo consecutivas vezes. Há a nítida impressão de que faltou muita direção e um texto melhor à atriz, que precisa oscilar entre momentos dramáticos e cômicos. Por outro lado, a personagem de Krysten Ritter carrega a energia que a protagonista fica devendo até o terceiro ato.

Valendo de uma fotografia nada fantasmagórica, como é marca de Bruno Delbonnel, que retrata uma ensolarada Califórnia (e o Havaí), a sequência do julgamento ainda consegue segurar as pontas e nos fazer divertir com Grandes Olhos que, expondo as duas linhas estéticas de Margaret sob um roteiro irregular, torna a ser um filme apenas sobre mais uma influência artística de Tim Burton, com seus personagens de rostos redondos ou ovais e, claro, grandes olhos. 






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