Desprender-se (parcial ou totalmente) da Saga Skywalker é um empreendimento que a Lucasfilm tem se dedicado gradativamente a cada investida que faz com suas séries e até em sua futura leva de filmes, ainda que ocasionais referências acabam se tornando obrigatórias – ou, como George Lucas costumava enfatizar, as rimas que ligavam seus filmes prequels com a trilogia original. The Acolyte, narrativa mais recente da franquia em formato de série exclusiva do Disney+ e primeira incursão cinematográfica da era da Alta República (já explorada em livros, quadrinhos e num seriado animado infantil), entrega momentos grandiosos dignos da saga em meio a uma intriga sombria que, por outro lado, se compromete quando quer ser complexa.
Criada por Leslye Headland (série Boneca Russa), a narrativa segue uma investigação capitaneada pelo Mestre Sol (Lee Jung-Jae) após outros companheiros Jedi serem assassinados por uma figura misteriosa que poderia ser sua antiga aprendiz Padawan, a mecânica Osha (Amandla Stenberg), que, por sua vez, acreditava que sua irmã havia falecido após um acidente que dizimou toda a sua família há dezesseis anos. Mas a gêmea do mal, Mae, segue sua trama de vingança caçando aqueles que considera culpados pelo desastre do passado, algo que o Conselho Jedi em Coruscant liderado pela Mestre Vernestra (Rebecca Henderson) urge em abafar em tempo de evitar problemas com o Senado.
(Lucasfilm/Reprodução) |
A trama é mesmo de novela clássica, bem como Star Wars demanda. No entanto, nem tudo é tratado com simplicidade ou com o tradicional ritmo de aventura característico da franquia que Headland demonstrou em suas direções dos primeiros capítulos. Quando o roteiro empreende-se em detalhar o passado de Osha/Mae investindo em flashbacks com os capítulos 3 e 7 ("Destino" e "Escolha", respectivamente) dirigidos por Kogonada, o texto apresenta uma profundidade fraca dos conflitos familiares das irmãs mesmo tendo como pano de fundo a sua criação em meio a um coven de bruxas e sua origem digna de curiosidade para os Jedi. Até mesmo em outros capítulos essa problemática compromete a empatia por Mae ou Osha, que se tornam mais enfadonhas do que a Jyn Erso, de Rogue One.
Sob um certo ponto de vista
(Lucasfilm/GIPHY/Reprodução) |
No meio disso tudo, das filmagens em locações, do carisma de Lee Jung-Jae e do retorno de Carrie-Anne Moss (filmes Matrix) às lutas, bem como Dafne Keen (Logan) vivendo uma Padawan, o maior destaque pende para Manny Jacinto como Qimir/Estranho. De uma representação de parceiro de crime de Mae a um combatente mordaz com uma motivação que se sustenta após o massacre de sabre-de-luz assim visto no capítulo 5, "Noite", e que dá moral para a direção de Alex Garcia Lopez (séries The Witcher, Cowboy Bebop e Demolidor) ao projetar um dos combates mais empolgantes de toda a saga, Jacinto cresce na performance de seu personagem cuja perspectiva sobre a Força, embora com uma motivação muito similar à de Kylo Ren (Adam Driver) na última trilogia, vem carregada de um misto de dor e raiva expresso em seu olhar.
(Lucasfilm/Reprodução) |
Quisera a trama das bruxas ser menos enrolada e que o tempo de tela dedicado às gêmeas chatas fosse melhor aproveitado com outros assuntos Jedi ou do lado sombrio de maior interesse além do que ver o Templo Jedi e outros elementos familiares que vão remontar à Saga Skywalker sem escapatórias, para uma primeira jornada, The Acolyte tem em mãos um material valioso para manter Star Wars como uma narrativa sempre interessante de acompanhar independente de sua época.
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