quinta-feira, 30 de setembro de 2021

007: Sem Tempo Para Morrer | CRÍTICA

B25_25594_R.James Bond (Daniel Craig) prepares to shoot in .NO TIME TO DIE,.an EON Productions and Metro-Goldwyn-Mayer Studios film.Credit: Nicola Dove.© 2021 DANJAQ, LLC AND MGM. ALL RIGHTS RESERVED.

Da impulsividade agressiva que lhe foi tão bem-vinda em Cassino Royale à desconstrução da "licença para matar" tão refletida em Operação Skyfall em diante, James Bond alça o épico de vez agora com 007: Sem Tempo Para Morrer (No Time To Die). Talvez pelo fato de o cinema das grandes franquias investir em linhas narrativas cada vez mais dependentes entre si e, assim, dando continuidade à jornada de seus personagens e um melhor envolvimento do público com os mesmos, é verdade que o 25º filme de Bond faz tudo para a despedida de Daniel Craig ser grandiosa por direito. Das resfolegantes sequências de ação rodadas em IMAX a sua superlativa duração, tudo é feito pensando no legado do icônico personagem a tempo de aproveitar o talento de seu protagonista para trazer novas camadas.


Dirigido por Cary Fukunaga (de Beasts Of No Nation e o primeiro diretor estadunidense em quase 60 anos de franquia) e contando com um roteiro co-escrito por Phoebe Waller-Bridge (série Fleabag), Sem Tempo Para Morrer abraça de vez a conectividade entre os filmes protagonizados por Craig, algo que 007 Contra Spectre já havia delimitado ao passo em que conferia importância a figuras do passado do agente. Portando-se, então, como uma sequência direta do filme lançado em 2015, a trama é uma convergência de mistérios e vinganças pessoais enquanto uma arma biológica corre solta logo quando Bond desfrutava de sua aposentadoria e o MI6 chefiado por M (Ralph Fiennes) entre burocracias externas ainda consegue encontrar brechas para se adaptar.

(© Universal Pictures/MGM/Divulgação)

Mais disposto agora a amar e cooperar com mulheres do que apenas possuí-las e descartá-las (isso o personagem já fizera demais nas encarnações primárias mesmo), o roteiro dá a Bond uma relação intrincada com Madeleine (Léa Seydoux) que se estende mais do que deveria até chegar ao que importa, é fato que a chegada de Nomi (Lashana Lynch) e Paloma (Ana de Armas) contrapõe o peso dramático imposto aos conflitos que circundam a personagem da atriz francesa. 

(© Universal Pictures/MGM/Divulgação)


Da rivalidade a uma parceria animosa (repetindo a ótima colaboração de Craig com a cubana em Entre Facas e Segredos), ambas as personagens trazem elementos divertidos, mas também impõem limites e esbanjam sua capacidade física logo quando se deduzia que a ação era só coisa (diz-se) para homens. Por outro lado, Naomie Harris é relegada a uma Moneypenny tradicionalmente em escritório, porém, não menos prestativa nos momentos cruciais.

Nomi (Lashana Lynch) se destaca no que se pede em ação como a sucessora de Bond.
(© Universal Pictures/MGM/Divulgação)


Do retorno de Blofeld (Christoph Waltz) ao surgimento de Safin (Rami Malek, indolente), é exigido cada vez mais de 007 em sua aptidão mental, mas sobretudo no esforço físico. Tópico que Daniel Craig se queixou com o passar dos anos, é evidente um semblante de cansaço no ator, mas toda a energia empregada é recompensada ao espectador nas mais diversas locações por onde se passa, seja num vilarejo italiano ou numa ilha no oriente com direito a uma instalação seguindo a arquitetura brutalista que sempre foi recorrente em covil de vilões da franquia. A entrada de Hans Zimmer, inclusive, faz todas essas cenas soarem mais poderosas e sem pompas, prezando o impacto enquanto aproveita a sutileza das notas da canção-tema por Billie Eilish. Por outro lado, a trilha sonora nos faz imaginar como seria um 007 dirigido por Christopher Nolan (o que não seria de todo o mal, diga-se de passagem).

Vilão interpretado por Rami Malek tem presença inferiorizada, mas ainda se faz importante na trama. (© Universal Pictures/MGM/Divulgação)

Contando também com os oscarizados Linus Sandgren (La La Land) e Tom Cross (Whiplash) na direção de fotografia e na montagem, respectivamente, a dupla conhecida pelas parcerias com Damien Chazelle entrega a Fukunaga o tom e a cadência precisa para o desfecho conduzido por Fukunaga, que resgata sua destreza no gênero vide a ótima primeira temporada de True Detective – o que quer dizer que planos-sequência estão inclusos aqui. Além da beleza de silhuetas e terços de rostos na contraluz, a aura crepuscular que permeia boa parte dos planos estimula a sensação de que um ciclo se encerra; que todo esse mundo de espionagem (reparem como os interiores do MI6 são iluminados, por exemplo) já teve o seu apogeu e, agora, precisa se adaptar outra vez.

(© Universal Pictures/MGM/Divulgação)


Não que James Bond esteja enfraquecido aqui; pelo contrário. Da destreza à consciência, significa muito que um personagem representado há décadas tão intocável e egoísta tenha alcançado uma revisão versátil e altruísta graças ao talento de Daniel Craig, ainda mais numa leva de filmes em que a mudança de roteiristas e diretores se faz constante. Se a insistente dependência narrativa dos longas anteriores seja estranha por ora, 007: Sem Tempo Para Morrer entrega o que há de bom na marca grafando a sua própria identidade entre tantos justamente por não descartar o quanto pode ser ainda melhor a partir da renovação daqueles elementos que sempre lhe foram icônicos sem abrir mão da essência. 


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