Quando o Cinema nos leva a encarar os tribunais, a experiência é sempre catártica. No entanto, antes de a justiça ser feita mesmo que tardiamente (como parece ser na maioria dos casos), as narrativas nos levam a conhecer todo o contexto por trás das acusações, as repreensões sofridas pelo detento aprisionado por um crime que não cometeu ou, como no caso do brilhante Doze Homens e Uma Sentença, a longa tentativa do personagem de Henry Fonda em reverter as opinões do restante do júri, sob muito calor e estresse, no destino de um garoto prestes a ser condenado mais por sua etnia do que supostamente pelo crime. De fato, já não é mais segredo que a maior parcela da população carcerária nos EUA não seja composta por brancos e Luta Por Justiça vem a tempo de contar mais outro caso onde o preconceito aos negros se coloca acima de quaisquer acusações verdadeiras.
Integrante informal de uma trilogia sobre um histórico de perjúrios iniciada pelo documentário A 13ª Emenda e da minissérie Olhos Que Condenam, ambos dirigidos com afinco por Ava DuVernay, Just Mercy (no original) conta a história real do advogado Bryan Stevenson em sua cruzada em tentar salvar detentos (afro-americanos, em maioria) do corredor da morte, porém, especificamente, no caso de Walter McMillan e a falsa acusação de assassinato de uma jovem em 1987. Entre tantas calúnias impostas no processo de Walter, que é mais conhecido pela alcunha de Johnny D. na cidade onde mora no Alabama, Stevenson dedica anos na tentativa de contornar a pena de seu cliente, para o contragosto da promotoria e "cidadãos de bem" de Monroeville que, ironicamente, foi berço de um dos mais reverenciados títulos da literatura norte-americana e sua mensagem a favor do respeito e de direitos igualitários.
Dirigido com sensibilidade por Destin Daniel Cretton, habituado a explorar temas sociais nos seus O Castelo de Vidro (pobreza) e Temporário 12 (orfandade), o filme é um choque de realidade pelo qual espectadores, na acomodação dada por filtros jornalísticos e preceitos pessoais, dificilmente têm alguma noção do que acontece dentro do sistema carcerário. A um ritmo lento que destaca acontecimentos situados em seis anos dentro e fora das grades, Cretton detalha a tal luta de Stevenson em busca de provas contundentes enquanto a perspectiva de McMillan nos leva a conhecer o cotidiano do cárcere e a angustiante espera pela data de sua morte – nisso, há detentos que, mesmo terminantemente culpados, se resignam dos atos porque queriam um devido tratamento psiquiátrico pós-guerra; outros, por outro lado, se sentem aliviados diante de uma notícia de que a sentença foi adiada e, assim podem conviver com seus familiares mesmo que naquele ínfimo tempo de visitas.
Acabando por ser esnobado no Oscar, talvez por uma mão pesada do diretor em fazer uma obra tão soturna ainda que munida de alguns resquícios de esperança, o longa traz uma admirável performance de Jamie Foxx como o injustiçado Walter, o que lhe acaba rendendo monólogos fortes. Enquanto Brie Larson, praticamente uma musa do cineasta, está mais para dar apoio moral à produção, Michael B. Jordan interpreta o obstinado jovem advogado com uma seriedade que parece estranha a considerar seus últimos papéis atléticos, mas tal mudança se faz bem-vinda mesmo com uma falta de carisma.
Tamanha temática extenuante (e há uma sequência que nos aflige com seu derradeiro baque sonoro), Luta Por Justiça procura lidar com o otimismo senão pela demonstração de persistência e da boa vontade das pessoas em querer reverter erros que, de diários, se tornam estigmas e históricos, e é importante que o cinema e seu alcance se dediquem e incentivem essas e outras reparações.
Integrante informal de uma trilogia sobre um histórico de perjúrios iniciada pelo documentário A 13ª Emenda e da minissérie Olhos Que Condenam, ambos dirigidos com afinco por Ava DuVernay, Just Mercy (no original) conta a história real do advogado Bryan Stevenson em sua cruzada em tentar salvar detentos (afro-americanos, em maioria) do corredor da morte, porém, especificamente, no caso de Walter McMillan e a falsa acusação de assassinato de uma jovem em 1987. Entre tantas calúnias impostas no processo de Walter, que é mais conhecido pela alcunha de Johnny D. na cidade onde mora no Alabama, Stevenson dedica anos na tentativa de contornar a pena de seu cliente, para o contragosto da promotoria e "cidadãos de bem" de Monroeville que, ironicamente, foi berço de um dos mais reverenciados títulos da literatura norte-americana e sua mensagem a favor do respeito e de direitos igualitários.
(© Jake Giles Netter - Warner Bros Pictures/Divulgação) |
Dirigido com sensibilidade por Destin Daniel Cretton, habituado a explorar temas sociais nos seus O Castelo de Vidro (pobreza) e Temporário 12 (orfandade), o filme é um choque de realidade pelo qual espectadores, na acomodação dada por filtros jornalísticos e preceitos pessoais, dificilmente têm alguma noção do que acontece dentro do sistema carcerário. A um ritmo lento que destaca acontecimentos situados em seis anos dentro e fora das grades, Cretton detalha a tal luta de Stevenson em busca de provas contundentes enquanto a perspectiva de McMillan nos leva a conhecer o cotidiano do cárcere e a angustiante espera pela data de sua morte – nisso, há detentos que, mesmo terminantemente culpados, se resignam dos atos porque queriam um devido tratamento psiquiátrico pós-guerra; outros, por outro lado, se sentem aliviados diante de uma notícia de que a sentença foi adiada e, assim podem conviver com seus familiares mesmo que naquele ínfimo tempo de visitas.
(© Jake Giles Netter - Warner Bros Pictures/Divulgação) |
Acabando por ser esnobado no Oscar, talvez por uma mão pesada do diretor em fazer uma obra tão soturna ainda que munida de alguns resquícios de esperança, o longa traz uma admirável performance de Jamie Foxx como o injustiçado Walter, o que lhe acaba rendendo monólogos fortes. Enquanto Brie Larson, praticamente uma musa do cineasta, está mais para dar apoio moral à produção, Michael B. Jordan interpreta o obstinado jovem advogado com uma seriedade que parece estranha a considerar seus últimos papéis atléticos, mas tal mudança se faz bem-vinda mesmo com uma falta de carisma.
Tamanha temática extenuante (e há uma sequência que nos aflige com seu derradeiro baque sonoro), Luta Por Justiça procura lidar com o otimismo senão pela demonstração de persistência e da boa vontade das pessoas em querer reverter erros que, de diários, se tornam estigmas e históricos, e é importante que o cinema e seu alcance se dediquem e incentivem essas e outras reparações.
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