quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A Freira | CRÍTICA


Universo de terror que se provou bastante lucrativo desde que James Wan lançou seu primeiro Invocação do Mal em 2013 transpondo os "casos reais" dos demonologistas Ed e Lorraine Warren para as telas, a Warner decidiu investir em derivados de origem das assombrações que permearam os dois excepcionais filmes assinados pelo diretor malaio, todavia com uma qualidade inferior e um flerte maior com elementos fantásticos. Após dois filmes sobre a boneca Annabelle, chega a vez de a temível entidade demoníaca de Invocação do Mal 2 dar às caras nos cinemas com um roteiro claudicante ao se apegar demais às fórmulas de um horror de sustos constantes.

Após uma breve referência em Annabelle 2: A Criação do Mal,  A Freira não é um filme moldado apenas para ligar os pontos entre os longas antecessores de seu universo enquanto discorre uma trama de origem até mesmo desnecessária, mas acaba se destacando principalmente por seu trabalho artístico. Ao se situar na Romênia no ano de 1950 e adentrando a chamada Abadia de Santa Carta, o diretor Corin Hardy (A Maldição da Floresta) se debruça no cenário gótico e decrépito da locação e investe em composições visuais caprichadas, utilizando desde tecidos ao vento e sombras intensas, às luzes refletidas em vitrais coloridos que ressaltam a atmosfera sinistra, principalmente nas cenas em que o vermelho se faz presente. Some isso a uma boa mixagem de som e, toda a vez que avistamos um vulto trajando o hábito característico, a primeira parte do filme se faz deveras arrepiante!

Warner Bros. Pictures/Divulgação)

O roteiro de Gary Dauberman (IT: A Coisa, Annabelle 2) com argumento escrito pelo mesmo e por James Wan, porém, deixa a desejar. Ainda que tenha um interesse em trabalhar as pulsantes contradições dos dogmas pela noviça vivida por Taissa Farmiga, seduzida pelo franco-canadense galante (Jonas Bloquet), e no padre exorcista de Demián Bichir, amargurado por um caso mal sucedido, a narrativa se faz refém do esquema do terror à base de jumpscares sempre promovidos pela trilha sonora clichê que ainda se arrisca em temas heróicos distoantes. E, a partir do momento em que a trilha remonta a contar (enfim!) a origem da Freira/Valak, as coisas não poderiam ficar mais parecidas com a bibliografia de Dan Brown. Se nas histórias do casal Warren havia um limite para contos incrédulos, A Freira demonstra gêneses calcadas na Idade Média e relíquias preciosas que contêm as devidas ameaças que seriam itens valiosíssimos nas mesas de RPG.

Warner Bros. Pictures/Divulgação)

No fundo, a impressão que fica é que A Freira parece um programa de pegadinhas muito mais macabras do que aquelas que Silvio Santos gosta de pregar utilizando as mesmas personagens de Invocação do Mal. Ainda que seja bastante interessante ver a blasfêmia aos elementos cristãos retornarem às telas, o filme não compartilha da mesma experiência ímpar dos títulos que o originaram.



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