quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Mistério do Relógio na Parede | CRÍTICA


Querendo ou não, o legado de Harry Potter, O Senhor dos Anéis e alguns pares de filmes fantásticos lançados previamente na década de noventa e oitenta moldaram uma ampla geração em sua compreensão e afeto por tais universos mágicos – não esquecendo aí também o poder escapista da narrativa dos mesmos ao instigar uma ânsia de igualmente pertencer àqueles espaços peculiares em meio a personagens tão empáticos e inspiradores. 


Desde então, tentativas de novas fantasias infanto-juvenis pouco funcionaram com um grande público desde então (muito por conta, talvez, de um receio de se desafeiçoar daquelas franquias) em paralelo com um honroso acervo do gênero na literatura que há décadas espera para ganhar uma adaptação cinematográfica. De produção da Amblin Entertainment (Indiana Jones, E.T., Jumanji), O Mistério do Relógio na Parede adapta a obra homônima de John Bellairs lançada em 1973 com familiares toques de diversão e espanto, ainda que lhe falte algo completamente único.

Universal Pictures / Divulgação)

Reiterando os principais padrões narrativos típicos da Jornada do Herói, o roteiro de The House With A Clock In Its Walls (no original) escrito por Eric Kripke (série Supernatural) apresenta o menino Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro) que, recém-órfão nos Estados Unidos de uma aconchegante década de 1950, passa a morar com seu histriônico tio, Jonathan (Jack Black), em um casarão de mobília igualmente extravagante a ponto de vitrais mudarem diariamente. Seria coisa da cabeça do garoto que, além disso, precisa ser aceito entre os novos colegas de escola ou seria mesmo magia, ainda mais diante da presença da vizinha Florence Zimmermann (Cate Blanchett) e suas vestes púrpuras? Disso, Lewis vai descobrir que, tal como seus protetores, ele também pode ser um aprendiz de feiticeiro e descobrir que os tiques e taques que assombram a casa na madrugada tem a ver com o paradeiro do então formidável feiticeiro Isaac Izard (Kyle MacLachlan, de Twin Peaks).

Universal Pictures / Divulgação)

Cineasta que ficou mais conhecido pelo gênero de horror com fitas de gosto duvidoso, Eli Roth dirige a aventura cumprindo o esperado ao entregar boas gags cômicas entre os espaços claros (a escola, a sorveteria) e aqueles com mistério e terror crescente em meio a tantos elementos cênicos típicos de um longa propício para o Dia das Bruxas; não por menos, é justamente quanto os perigos e arrepios se intensificam que o filme acresce em empolgação e se distancia dos clichês narrativos. Há uma boa mescla de efeitos práticos com efeitos visuais que devem encantar a garotada desacostumada com a magia nas telonas.

No entanto, à medida em que a projeção avança, mais parece que O Mistério do Relógio na Parede fica devendo alguma coisa. O que possivelmente uma trilha sonora marcante (como Danny Elfman era craque em fazer no passado em suas parcerias com Tim Burton) resolveria, fato é que as personagens não parecem cativantes o suficiente para nos apegarmos a elas, apesar de pares de boas falas já esperadas de figuras mentoras vindas do calibre do elenco principal – e fica claro como Black e Blanchett se divertem em seus papéis enquanto MacLachlan aproveita a volta ao cinema para entregar um vilão com o propósito de ser mais caricato do que ameaçador.

Universal Pictures/Divulgação)

Entre flashbacks e planos nefastos carregados de exposição que muito lembram a narrativa lida e vista na série Harry Potter (o que nos faz pensar que J.K. Rowling absorveu mais do que Tolkien, Ursula LeGuin e George Lucas em sua escrita milionária), com um propósito claro de não ser uma obra revolucionária em sua temática, O Mistério do Relógio na Parede se destaca por agradar do mais jovem ao mais velho enquanto traz seu charme próprio ao justificar que, à sua maneira, qualquer um pode realizar feitiços de magia.



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