quarta-feira, 18 de março de 2015

O Duelo | CRÍTICA


A bibliografia de Jorge Amado sempre foi povoada de personagens excêntricas, situando-as nas mais diversas tramas no litoral baiano. As duvidosas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão ganham vida em O Duelo e se mostram um pouco cansativas, ainda que tenha uma dose moderada de humor típica do autor.

Dirigido e escrito por Marcos Jorge a partir de um conto publicado no livro Os velhos marinheiros, acompanhamos a chegada do Comandante Vasco (Joaquim de Almeida) em Periperi e, com toda sua parafernalha naval, logo o sujeito chama a atenção dos vizinhos curiosos, que logo se rendem aos mais "grandiosos" relatos do recém-aposentado que desbravou todos os mares e seduziu várias mulheres. Só que todo esse papo não foi bem engolido por Chico Pacheco (José Wilker), que não economiza em desmascarar o comandante, muito apoiado por seus novos fãs, reunindo-se em massa para ouvir as palavras do forasteiro.

Entre flashbacks que surgem em cena a partir de camadas em efeitos ou movimentos de câmeras, conhecemos um pouco mais de Vasco e também das chocantes e fervorosas revelações de Chico, mostrando o quanto Wilker fará falta ao cinema nacional. Ao contrário de Estômago, longa também assinado por Jorge e que possui cortes muito competentes, a montagem do filme se torna redundante logo nos primeiros relatos do capitão-de-longo-curso, marcados pelo jeito pomposo de Almeida e pelo estilo praticamente teatral de levar a outro cenário, um recurso que, embora pareça divertido, como ao introduzir uma bailarina de dança-do-ventre em um velório ou apresentar a personagem de Cláudia Raia como uma indonésia, vai aos poucos se tornando cansativo, ainda mais pelo alarmante uso de chroma key.


Acertando em seu design de produção, que retrata muito bem a época de sua trama, por outro lado, a trilha sonora de O Duelo é incessante e engrossa com os mais clichês dos arranjos a carência de profundidade sentida durante a narrativa e pelo elenco, que precisa se sustentar com um roteiro de diálogos breves. Mesmo com a chegada de Patrícia Pillar no terceiro ato, quando acompanhamos a redenção do Comandante "Aragãozinho", tudo converge para um melodrama com uma resolução brusca – e fria até demais, a julgar pela representação de Almeida.

Desprovido das metáforas e raccords inteligentes que chamaram atenção em Estômago (e o tornaram um clássico), O Duelo desperdiça oportunidades e mesmo com seu ponto alto no desfecho com um incidente inesperado (e cômico!), falta a tensão da rivalidade prometida pelo título.





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